Epílogo

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Três anos depois

Eu costumava pensar que a casa do lago sempre foi um santuário para mim. Quieta e tranquila, como as águas que se movem lá fora. Mas então vejo minha esposa trabalhando como um furacão na cozinha, com seus movimentos graciosos e cheios de energia feminina, enquanto assisto minha filha gritar "papai!" para mim quando cruzo a sala de jantar, e não posso deixar de ser grato por tudo isso.

Corro em direção à Jackie, rosnando, e a tiro da cadeira em que estava sentada. Ela dá um gritinho e ri, encantada, quando eu a levo para cima tão alto quanto posso. Depois coloco-a sobre seu acento de novo, dando um beijo no topo de sua cabeça, e neste momento meu olhar encontra o de Ellie, que está ao telefone, e dá uma piscadela para mim.

Como sempre, a visão dela com aquela roupa sexy de trabalho é o que me chama a atenção primeiro. Meus olhos inconscientemente deslizam por seu corpo, apreciando a visão que tenho idolatrado em silêncio desde o momento em que a reencontrei. Os cabelos macios castanhos-acobreados soltos, caindo sobre seus ombros em ondas sedosas. Camisa social branca com os dois primeiros botões abertos, calça jeans de lavagem escura, as botas marrons e aquele colete cinza-escuro. Seu traje executivo feminino. Ver toda aquela espontaneidade, beleza e gracejo reunidos em um visual descontraidamente formal quase tira minha clareza. É como se a natureza estivesse tentando aprisionar o que não pode ser aprisionado, e o contraste entre esses opostos é de tirar o fôlego.

Alcanço a cozinha em poucos passos e logo ela coloca os braços ao redor de meu pescoço. Nos beijamos. O típico beijo sorridente de bom dia, apesar de já termos feito isso cerca de uma hora atrás, quando despertamos juntos na cama. Ela desliga o telefone e ficamos rindo quando ouvimos Mary Ann brincar sobre termos que trabalhar a ideia de providenciar um segundo filho. A verdade é que não vimos necessidade para isso. Pelo menos não ainda. Nossas intenções no momento são aproveitar ao máximo o tempo em família que a vida já havia tirado muito de nós.

Começo a fazer panquecas na frente do fogão enquanto Ellie está colocando os pratos sobre a mesa e pega uma frigideira para fazer ovos mexidos e bacon.

No dia em que pude ter a companhia de Jackie, naquele jantar, eu me ajoelhei e olhei bem dentro dos olhos dela. Eu tinha uma filha. Ainda estava abalado e extremamente comovido por ter tido conhecimento de que minha esposa a trouxe ao mundo com tanta coragem. Éramos jovens e imaturos, mas não imaginava que uma pequena coisa tão linda havia surgido deste grande amor.

Jackie tem um sorriso que ilumina qualquer lugar. Mesmo aos 9 anos, eu continuo dizendo que ela é a minha garotinha, sempre rindo e pulando, tão cheia de energia e de vida como a mãe. Confesso, a vida com Ellie pode ser perigosa. Especialmente quando está ao volante e quando ocasionalmente estaciona com uma ou duas rodas sobre a calçada, mas sempre tento não demonstrar a apreensão que contrai meu estômago. Ela sempre viu o melhor em mim, e não tenho razões para fazer o contrário com meu amor.

Meu Ás de Copas.

Ela foi a melhor coisa que me aconteceu na vida.

Nosso encontro, quando ainda éramos dois jovens, penetrou em minha alma e desde então nunca mais fui o mesmo. Nossa história fala alto em meu coração, ela se tornou a minha paixão e o meu propósito. Eu respiro e vivo isso.

Queria tanto que Jameson estivesse aqui. Desejo tanto que meu irmão estivesse aqui para ver tudo isso, sentir o mesmo que eu. Não importa o que digam, o tempo jamais poderá apagar qualquer lembrança sua de minha mente, ou o meu amor eterno por ele. Não sou capaz de mensurar a dor e a agonia que sua morte me trouxe, a culpa por ter assumido sua identidade. Mas essa é uma história para outra hora. Agora mesmo, escolho me focar no momento presente e me deixar envolver por esse instante mágico.

Sentamos todos à mesa e começamos a comer. Ellie, Jackie e Mary Ann não param de conversar, brincar umas com as outras, enchendo nossa casa de alegria, e tudo o que posso fazer é assistir e sorrir ao ser contagiado por essa felicidade. Meu coração parece que vai sucumbir, enchendo-se como um balão prestes a estourar. É difícil ficar apático quando há tantas coisas bonitas no mundo. Há essa eletricidade no ar que quase posso ouvir. É como se eu estivesse vendo tudo de uma vez e fosse demais, como se a qualquer momento não fosse mais suportar. E então tudo flui através de mim como água de chuva, e só no que consigo pensar é no quanto sou grato por todos os momentos da minha vida.

É quando entendo que existe essa incrível força que nos move e diz não haver razão para ter medo.

Nunca.

Ás de Copas [COMPLETO]Where stories live. Discover now