69 - Ajustes mentais

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 Ela demonstrou tanto prazer em estar em minha companhia,

Eu experimentei uma sensação que até então não conhecia,

De se querer bem, de se querer quem se tem.

Ela me faz tão bem (Jota Quest) 

— Terminar não é uma opção, se fui eu quem impediu você de fazer isso semanas atrás. — Ana ponderou, finalmente olhando para mim. — Seria bastante contraditório, não acha?

Não consegui responder de imediato, já que meu coração esmurrava meu peito com tanta força, que era difícil respirar. Só a ideia de perdê-la, me deixava em pânico, e aquilo nunca tinha acontecido antes.

Dizer que nunca tinha acontecido antes, significava literalmente que nunca tive medo de perder nenhuma mulher na vida.

Meu lema sempre foi que elas vem e vão, o tempo todo. 

Pelo menos, era desse jeito que as coisas funcionavam para mim. Sempre houve uma mulher esperando que a escolhida da vez se cansasse — ou me cansasse — para poder assumir seu lugar.

Nenhuma das mulheres que tive na vida conseguiram me afetar de verdade, a ponto de me sentir realmente ligado a elas. Mas com Ana a banda tocava de um jeito diferente, ela era minha melhor amiga, eu a amava de verdade.

Eu era capaz de admitir que além do amor da família, qualquer coisa que viesse depois era novidade. Amava meus pais e minha irmã, amava meus amigos e meus cachorros de estimação, amava a vida e todas as aventuras que ela me proporcionava diariamente, amava a mim mesmo — com intensidade.

— Eu te amo. — Falei antes de pensar no peso que essas três malditas palavras causam, em quem fala e em quem escuta. — Te amo e tenho medo, mas e daí? Eu não tô pronto pra te perder, Kika.

Minha namorada piscou algumas vezes e respirou fundo, como se o ar em torno de nós dois estivesse mais denso que o normal. Em seguida, tocou a xícara de porcelana preta que estava disposta sobre a mesa, escorregando a ponta dos dedos pela beirada por um tempo.

— Você me ama. — Ela repetiu, como se precisasse testar as palavras na própria boca para torná-las reais. — Você me ama.

— Cala boca.

Sorri e tomei a liberdade de puxar seu rosto na minha direção, beijando-a com vontade, de um jeito que não fazia há um bom tempo. 

Teria que descobrir um jeito de lidar com aquele relacionamento, e minha nova condição, de um jeito que ambos pudessem coexistir sem abalar as estruturas de mais ninguém. Um dia sozinho naquele apartamento com minha namorada e nosso filho, e o caos já estava pedindo licença. 

Precisava consertar aquilo, e rápido.

Tomamos o café juntos e Matheus anunciou que estava acordado em seguida, fazendo com que nossa atenção se voltasse para ele. Até que aquela distração era conveniente, já que minha namorada pretendia ligar para minha mãe, e me despachar para casa dela.

Meus devaneios foram interrompidos pelo toque do celular, e tive que dar risada quando vi que Clarice estava ligando.

— Funerária "Só Falta Você", bom dia? — Falei com voz grave.

— Como? — Clarice parecia confusa do outro lado da linha. — Eu liguei errado? Não é o número do Alex?

— Claro que é meu número. Só estava brincando! — Minhas gargalhadas atravessaram os alto-falantes do aparelho.

Kika vai ter um bebê! (Livro 2)Where stories live. Discover now