Visão

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O tempo foi passando e a rotina de Kris acabou se tornando a mesma de dias atrás. Ja fazia uma semana que as lunares se estabeleceram ali na fortaleza, não causando nada de diferente por ali. Lunares e solares dividiam salas de aula, lunares durante o dia e solares durante a noite. Era estranho como as coisas não faziam tanto sentido. As lunares praticavam sua magia durante o dia, pois a noite sua magia fica muito poderosa e pode ser perigoso. O mesmo acontecia com os solares. Kris não tinha uma opinião formada sobre o assunto, pois seus poderes eram os mesmo em qualquer momento. Quase não apareciam.
Ali estava ele agora, escovando os cavalos durante a noite. Seus ombros doiam por ter repetido o processo em tantos cavalos. Ayana tinha boa intenção ao coloca-lo como embaixador, mas não mudou muito sua posição.
Um barulho o assustou. Parecia um estrondo nos céus. Ele largou seus instrumentos e foi para o lado de fora observar.
Os céus explodiam. Literalmente. Grandes explosões tornavam o céu noturno brilhante como o dia. Ele observou mais a frente. Aubrey estava ali. O vestido azul balançando em meio ao vento da noite.
- O que está acontecendo? - Kris gritou correndo até ela.
- Kris? - Aubrey parecia não saber o que ele estava fazendo ali. Tinha no rosto uma expressão confusa. - O que você está fazendo aqui?
- Eu... - Um outro estrondo. Uma bola de fogo caiu em cheio nos muros da fortaleza do sol, abrindo uma enorme passagem. Do meio da floresta, guerreiros de armaduras negras marchavam para dentro dos portões.
- Eu já vi isso! - Aubrey disse olhando tudo com fascínio. - É uma visão!
- Aubrey Moon. - A voz fez a nuca de Kris se arrepiar. Uma mulher se aproximou. O vestido não era de uma lunar. Era de uma cor preta mais escura que o de Garva. Os cabelos eram negros, juntamente com os olhos que pareciam poços escuros de águas frias e profundas.
- Ysmatiz. - Kris disse, a reconhecendo de um de seus livros.
- O garoto é esperto. - Ela disse com um sorriso confiante no rosto. - Vejo que está dominando a arte de se infiltrar nas visões.
- Aprendi muita coisa depois de matar Elinor. - Aubrey disse com uma fúria no rosto. - Ela disse que você não era real.
- Mentiras tolas para mentes tolas. - Ysmatiz se aproximou um pouco mais, com as botas afundando na grama. Kris reparou que suas unhas eram negras e enormes. Aquilo o assustou. - Elinor era um peão do meu grande jogo. Você está em minha mente, Aubrey Moon. Posso senti-la.
Kris não estava entendendo. Se aquilo era uma visão de Aubrey, o que ele estaria fazendo ali?
- Você não vai voltar a vida, Ysmatiz. - Aubrey se aproximou também, sem medo. - Ainda está fraca e sem poder. Eu posso sentir.
Ysmatiz riu.
- Você se considera muito forte, Aubrey Moon. - Ysmatiz levantou a mão. Mostrando sua mão pálida e as unhas parecidas com garras. - Sinta isso.
Com um movimento rápido, Ysmatiz passou a o dedo indicador no rosto de Aubrey, originando um grande corte.

***

Kris abriu os olhos. Sentia o corpo melado pelo suor. A respiração estava ofegante devido ao esforço. O que acabou de acontecer?
Pulando da cama ele foi até a estante de livros. Kris era o único solar que tinha um quarto sozinho. Cortesia de Ayana. Apesar de ser minúsculo e de estar localizado nos porões da fortaleza, ele adorava seu cantinho. Observando os livros da estante, ele puxou um. Era o maior de todos. Tinha a capa negra e sem nenhuma escrita, devido ao tempo que ele estava ali. Kris o folheou por alguns instantes e parou em uma página.
"A rebeldia de Ysmatiz"
Esse era o título da página, escrito com tinta vermelha. Mais algumas páginas depois, ele achou o que procurava. A pintura feita a mão do rosto de Ysmatiz. Era exatamente como no sonho. Kris amava ler e todos os livros que os outros consideravam velhos ou inúteis, ele pegava para si.
A pintura retratava uma mulher de cabelos pretos e olhos mais escuros ainda. Tinha no olhar um profundo ódio que Kris não sabia como, mas parecia muito real.
Ele arrancou a página e ficou sentado na cama, visualizando os detalhes da pintura e se lembrando do sonho que teve. Era...
Três batidas fortes na porta assustaram Kris, que escondeu a página embaixo da cama. Ele demorou pra atender e mais três batidas fortes se sucederam. Ele se levantou e destrancou a porta, a abrindo devagar.
- Kris. - Aubrey disse, o olhando fixamente do lado de fora do quarto. - Precisamos conversar.
Kris quase desmaiou quando viu o corte sangrando no rosto dela.

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