Capítulo 04

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O relógio digital em cima da mesa de cabeceira marcava dez horas e quinze minutos. O sol, ainda tímido, brilhava jogando seus raios pela janela. Jenny abriu os olhos com dificuldade por causa da claridade que a atingia, percebendo que adormecera em uma poltrona e com o celular na mão. Um pássaro cantava irritantemente empoleirado no galho de uma árvore que havia de frente para o quarto, fazendo a cabeça da garota latejar a cada piada.

Após chegar em casa, havia ligado inúmeras vezes para Léxis. Nas primeiras tentativas as ligações não foram atendidas, depois só davam na caixa postal. Ela deixou vários recados, mas não obteve resposta em nenhum deles. Também tentou falar com Matt, pois gostaria de consertar as coisas entre eles. O amigo tinha ido embora sem se despedir, provavelmente estava furioso por ela tê-lo feito perder o resto da festa. Porém, ele não lhe atendeu.

Sentindo as costas doerem, Jenny cambaleou até o banheiro e quase gritou quando viu sua imagem no espelho. Estava horrorosa. Parte dos cílios superiores estava grudado nos inferiores, os olhos inchados de tanto chorar e ainda usava o vestido da noite anterior.

Ela ainda esfregava os olhos, tentando focar sua visão e sua mente no presente, quando sua mãe entrou no quarto.

— Espero que você não tenha bebido uma gota sequer de álcool, mocinha! – Marina cruzou os braços e fitou a filha duramente.

— Por que acha que eu bebi? — Jenny olhou para a mãe, confusa.

Marina levantou as sobrancelhas, lançando um olhar para a outra como se dissesse "Você ainda está com o vestido de ontem, sua maquiagem está borrada. Quando você chegou do baile, se trancou aqui e não me deixou entrar. Só pode que estava me escondendo algo. O seu mau hálito, talvez?"

— Não viaja, mãe. — A garota revirou os olhos, saindo em direção ao quarto novamente.

— Eu não te criei para você me decepcionar dessa maneira. — A voz da senhora embargou, fazendo a mais jovem virar-se para ela.

O pai de Marina era alcoólatra e a coitada havia crescido em um lar hostil e destruído pela bebida. A família travava constantes batalhas por causa do vício.

— Relaxa mãe, eu não bebi. — Jenny abraçou sua genitora com carinho. Entendia suas aflições e seria incapaz de trazer-lhe tanto desgosto. — Nunca faria isso com a senhora.

— Obrigada, querida.

Mãe e filha permaneceram abraçadas por um tempo.

— O que aconteceu para você chegar daquela maneira? — Marina perguntou ao se afastar.

— Longa história... — Jenny soltou o ar impaciente, sentindo tudo voltar novamente. Em seu interior, um poço de mágoa.

— Eu tenho muito tempo. Quer conversar?

A menina mordeu os lábios inferiores e olhou para a mãe. As duas tinham o hábito de sempre contar tudo uma para a outra, e Jenny sempre abria o coração, entretanto, aquele assunto era tão delicado e confuso que a deixou em dúvida se deveria ou não falar a respeito.

— Tudo bem, eu entendo. Tem coisa que precisamos guardar para nós mesmos. — Ela parecia perceber a confusão de sentimentos da filha.

— Não se importa mesmo?

— Não. Mas caso você mude de ideia, estarei aqui.

— Obrigada.

Marina saiu e Jenny tentou, mais uma vez, ligar para Léxis. Ela não atendeu. Então decidiu ir até sua casa. Precisava de notícias da amiga, caso contrário enlouqueceria.

Orei Por Você - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora