Um Milagre de Natal - Parte I

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As luzes de lede que decoravam todo o lado de fora da mansão dos Cooper piscavam exuberantes, fazendo Sara se sentir dentro de um conto de fadas. Logo ela, que nunca foi chegada a esse tipo de fantasia. Desde criança achava essas histórias infantis mentirosas demais. Quando cresceu descobriu que estava certa. A vida não era perfeita como nos livros. Ela tinha constatado isso da pior maneira possível, fazendo assim, com que ela desacreditasse completamente em finais felizes. Essa coisa de FELIZES PARA SEMPRE não existia no mundo real e particular de Sara.

Em suas convicções, nada era eterno, muito menos o amor das pessoas, o mundo era egoísta e a maioria dos seres viventes só se preocupava com seu bem-estar, pouco se importando com o amor ao próximo.

Com o coração transbordando de rancor, Sara verificou a maquiagem pelo espelho retrovisor do seu carro e suspirou, irônica. Sua mente estava lhe traindo por voltar àquele lugar?

Isso a fez se lembrar das palavras do velho revendo Johnson: "ame o seu próximo como a si mesmo". Ele era o avô de Susy, sua melhor amiga na época da adolescência. Ambos viviam tentando convertê-la ao cristianismo. As duas eram tão diferentes, não entendia porque sempre foram amigas por tanto tempo.

"Ame o Senhor, o seu DEUS de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento" era o lema do velho reverendo.

— DEUS! — Sara soltou um grunhido penoso.

A seu ver, Ele era apenas outro que fez questão de abandoná-la pelo caminho. Aliás, essa palavra a perturbava sobremaneira.

Sara balançou a cabeça com força para dissipar os seus devaneios e voltou sua atenção para a mansão outra vez. Pela movimentação do lado de dentro, dava para ver que os convidados já haviam chegado. Só faltava ela. No entanto, era dentro de seu carro que se sentia mais segura.

A moça começou observar os pisca-piscas que continuavam a iluminar a majestosa casa, acendendo e apagando em perfeita sincronia. No entanto, o brilho começou incomodá-la de repente.

"Por que, afinal de contas, estou aqui?"

"Por que estou me submetendo a algo que eu ao menos acredito?"

"Por que estou usando um vestido elegante, que não é o meu estilo?"

"Por que cheguei a cogitar que, agora, seria diferente?"

Com tantos porquês rondando sua cabeça, Sara não se deu ao trabalho de sair do veículo. Desfaz o penteado sofisticado, tirou as sandálias de salto alto que lhe apertava os pés e jogou o buquê de rosas, que estava no banco do carona, pela janela. Deu partida no seu velho Mercedes prateado, a única coisa que levara consigo quando foi embora, e que agora era velho demais comparado à frota de carros do ano estacionados em frente à casa dos seus pais adotivos. Engatando a primeira marcha, pisou fundo e saiu a toda velocidade dali.

❇❇❇

O TELEFONE tilintava sem parar. Sara não queria atender, pois sabia exatamente quem ousava atormentar seu sossego. Sempre, nessa mesma época do ano, Angelina, sua mãe adotiva, ligava e, com insistência, não desistia até ela atender. Mesmo que mudasse de número, a mulher sempre descobria. Tinha sido assim nos últimos cinco anos.

— Pronto! Você venceu! — Sara gritou ao telefone. — Antes que você diga qualquer coisa, eu não vou para o Natal! — disse em um fôlego só, tirando o celular do ouvido, pronta para desligar e jogá-lo dentro da bolsa.

— Eu estou morrendo, Sara... — A voz de sua mãe soou embargada do outro lado da linha, sumindo de forma gradativa ao pronunciar seu nome.

— Não precisa apelar. — A jovem revirou os olhos com desdém, recolocado o aparelho no ouvido.

Um Milagre de Natal (Conto)Where stories live. Discover now