DURANTE O CAFÉ da manhã, Julieta informou que seu pai estava viajando. Aliás, essa era a vida dele, desde que a esposa desfaleceu, raramente estava em casa. A pedido de Sara, a governanta não comunicaria a sua volta.
Após o desjejum, Sara seguiu outra vez para o quarto da mãe. Tentaria um diálogo com Angelina, mas dessa vez, seria pacífico.
Ao chegar, a porta estava entreaberta. Já prestes a entrar, escutou a voz frágil de Angelina e parou de imediato.
— Ela está ainda mais linda, você não acha?
— Sim. — O timbre grave da voz de David a fez congelar em seu lugar.
— Você tem que me prometer que não desistirá dela.
— Não posso forçá-la a ficar, senhora Cooper.
— Você ainda a ama?
Um silêncio se estendeu por alguns minutos e Sara não conseguiu se mover.
— Sim, eu ainda a amo. E só me dei conta disso ontem, quando a vi novamente. — Sara pôde escutar o riso de David e, como uma tocha acessa, tudo dentro dela se aqueceu.
Porém, logo surgiu os dilemas:
"Ele ainda me ama, mesmo após eu ter o abandonado sem explicação? Se me amava, então, por que não me beijou quando teve oportunidade?"
— Você sabe o que fazer. Tem que salvá-la de seus traumas.
— Só Deus pode fazer isso, senhora Cooper.
— Eu sei, mas, nesse caso, você será o instrumento. Sara é uma boa menina, só está muito magoada.
Antes que fosse descoberta, Sara endireitou a postura e irrompeu pelo quarto.
— Bom dia — cumprimentou exultante, tentando disfarçar o mal-estar que sentia após ouvir a conversa deles a escondida.
— Bom dia, minha filha.
— Não sou sua filha, esqueceu? — Sara não queria, no entanto, as palavras rudes jorraram de sua boca sem aviso.
David lançou um olhar de reprovação para ela no mesmo instante. E lá se foi o clima agradável e ameno que ela pretendia desfrutar naquele dia.
— Sara, posso falar com você um instante? — David a puxou pelo braço, conduzindo-a para fora sem esperar sua resposta.
— Você está me machucando — ela reclamou quando que entram na biblioteca do outro lado do corredor.
— Não mais do que você já machucou aquela mulher. — David a fitou, furioso.
— Eu fui machucada! — Sara se exaltou. — Me enganaram a minha vida toda. Esconderam as minhas origens, não foram sinceros comigo.
— Não foi isso que aconteceu. Angelina te amparou, cuidou de você, te deu um lar, bons estudos e te fez uma mulher de bem. O fato dela não ter te gerado, não a faz merecedora do seu desprezo. Ela poderia muito bem tê-la enviado ao primeiro orfanato que aparecesse, mas não fez isso, decidiu te criar e dar o amor que te roubaram ainda em seus primeiros dias de vida.
— E custava me contar?
— Ela estava esperando você ser madura o suficiente para entender, mas pelo visto, você ainda não cresceu o bastante. — As palavras de David contaram-lhe os ouvidos, penetrando no coração como uma flecha afiada. — Você foi imatura e a machucou no seu íntimo. Você deveria estar aqui, ao lado dela, quando tudo isso começou acontecer, teria sido mais fácil para ela suportar. Agora é tarde demais para reverter o quadro, mas, por favor, não piore as coisas. Faça de seus últimos dias, os mais felizes da vida dela. Seja gentil e retribua tudo que ela fez por você.
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Um Milagre de Natal (Conto)
Short StoryConto Cristão. Após uma descoberta que arrasou o coração de Sara, a vida como ela sempre conheceu, desapareceu. Deixando-se conduzir pelo rancor, a jovem se exilou de todos a sua volta, até que uma notícia inesperada a obriga voltar a encarar seu pa...