A Chama em Ascensão

4 2 0
                                    

    Respirei fundo e rapidamente puxei minha espada larga, o peso dela equilibrava meu corpo, eu sentia como se arma fizesse parte do meu corpo e seu peso já não interferia nos meus golpes. Eu pensei naquele momento, o espantalho sorria e começava a falar.

Espantalho- Hiaeheahi... Parece que você voltou-Me encarou de forma medonha, porém eu não respondi, muito menos esbocei alguma reação. Ele sorriu-Dessa vez você não me escapa! Sem nome, vou enregar-te ao meu lorde!-Ele levantou a foice e a apontou em minha direção. As criaturas que o cercavam avançaram, com uma ferocidade inimaginável. 

      Levantei a arma acima da cabeça e puxei bem fundo o ar e, veio o primeiro deles. O primeiro golpe foi pesado, não estava tendo noção de minha verdadeira força, partindo o cadáver ao meio, um golpe limpo rasgando o ombro direito até a ponta da costela esquerda... eu fico assustado com a força bruta que tenho... 

  Naquele momento pude ver a expressão do espantalho mudar, quase que instantaneamente. Mais duas das criaturas vieram e me atacaram em conjunto, eu usei minha espada como escudo, os golpes eram potentes, porém eram apenas brutos, sem nenhuma habilidade. Eu usei a força pra derrubar o primeiro e trespassei o segundo com um corte limpo na barriga, encarando o espantalho eu comecei uma investida. Na tentativa de acerta-lo com uma estocada de minha arma, porém eu vi que meu ataque foi interceptado por uma energia azul, quase invisível.

Espantalho- Hieahiahi... Você vai precisar de uma força bruta absurda se quiser trespassar um escudo arcano sem usar magia.-Eu senti que o peso de meu ataque me jogou para trás, o espantalho ergueu a mão esquerda(que não segurava a foice) e pronunciou de forma sombria- Otso Nar Calima!-Sua aura emanou poder e, uma chama forte, quase cegante, me acertou e marcou minha armadura com suas queimaduras, eu me senti mais pesado, o ataque havia realmente me ferido. Os mortos começaram a me cercar.    

                    Levantei meu corpo e respirei, lembrei do meu treinamento com Adair. Então esvaziei a mente de qualquer incerteza,  e tracei uma estratégia simples, se eu pudesse derrubar dois mortos vivos conseguiria trespassar o campo de batalha e então entrar na rota em direção ao forte.
       A pesada lâmina da espada larga é devastadora, apenas pude pensar nisso. Ergui a arma novamente e corri a segurando com a lâmina com uma mão e o cabo com a outra, partindo correndo em direção as árvores que se estendiam ao longo da trilha.  Sinceramente eu não sabia como iria chegar no forte sem ser perseguido por esse maldito espantalho e foi nesse momento que um estranho surgiu.
     Não havia visto chegar, estava focado no combate, ele pronunciou algumas palavras que mal pude entender e todo o campo foi coberto por chamas carbonizando os mortos vivos... pude ver o espantalho tremer e desaparecer em meio as sombras. A figura surgiu no meio das chamas enquanto as mesmas se extinguiam lentamente conforme seus passos, este carregava um sobretudo de couro marrom que seguia até a altura do joelho, as mangas estavam dobradas mostrando braços enfaixados e um longo cabelo castanho ficava por cima da face serena e rústica de Aodh.

- Lutar contra mortos vivos nem sempre é uma boa ideia meu rapaz... -
Ele disse tranquilamente, ignorando toda a confusão que havia causado com aquela entropia de chamas, eu apenas estava pasmo o encarando. - Se não for pedir muito, um agradecimento seria um bom pagamento por te salvar.- Ele colocou as mãos no bolso e ficou me encarando.
- Obrigado... mas quem é você? - Respondi ainda espantado com esse estranho sujeito, esses dias estiveram muito confusos para mim.
- Me chamam de muita coisa, mas aprecio o nome Aodh... suponho pelo equipamento nem um pouco gasto... - Ele falou em tom irônico. -  Que pretende invadir o forte. Se me permite dizer, você não vai conseguir.
    Nesse momento levantei a cabeça e o encarei, não tinha medo de entrar no forte, afinal, com a vida que tive morrer valia muito mais a pena. - Bem se for pra proteger Davenwood e Gwenhwyvar, não vejo problema em tentar.- Aodh ficou boquiaberto quando o respondi e logo tirou um isqueiro junto a um cigarro que pôs na boca e acendeu.
- Me permita ir contigo então, em troca do meu favor você vai ficar me devendo e quando chegar a hora, irei cobrar devidamente.- Ele me falou de forma perspicaz, até agora eu não entendo muito o que esse sujeito estranho quer, mas sinto que minha jornada chegará ao fim... logo.
- Você vai encinerar o forte inteiro com essa sua "magia"... quer dizer, se for magia. - Não pude deixar de perguntar quem era esse sujeito esquisito a quem se proclamava Aodh...
- Amigo que nem ao menos se apresentou... devo lembra-lo que todos estamos sujeitos as leis da física, eu não posso usar magia atoa se não... quem paga é o meu corpo.- Ele mostrou as faixas  que cobriam seus braços, as feridas provavelmente são queimaduras.
- Meu nome é Vougan. - Falei num último instante e voltei a me focar na trilha, porém agora, Aodh estava do meu lado.
  Nós não tivemos mais nenhum contra-tempo ao longo do caminho, percebi que Aodh é um homem mais quieto e isso se refletia em sua falta de interesse as coisas ao redor. Seu olhar me descrevia como sendo arrogante ou... apenas rancoroso, pouco da paisagem cheia de arvoredos e animais selvagens lhes chamava a atenção, isso deixo a viagem um pouco longa até finalmente chegarmos no forte tão bem guardado pelo Lorde Lavein só que algo mais nos chamou atenção além daquela enorme construção.
   Um soldado estava preso a porta pendurado por uma espada encravada no peito, atrás dele estava desenhado um símbolo no meio de um círculo, esse símbolo parecia mais uma cruz com três pontas em cada braço que apontavam para o centro, não dava para reconhecer mais do símbolo pois o sangue do soldado cobriu parte do desenho. Percebi a expressão preocupada de Aodh, eu sentia horror enquanto ele parecia encarar como mais um problema.
- Necromancia... das perigosas, sabe o que isso significa Vougan? Estamos correndo riscos graves.- Ele me disse antes que eu pudesse soltar qualquer palavra.
- O que é... Necromancia? - Eu perguntei e então Aodh me olhou como se a resposta fosse óbvia.
- Magia que manipula a energia da vida e da morte... isso é um sacrifício. - Ele me respondeu serenamente e eu o olhei com pesar enquanto engolia aquilo a seco.
- Isso é obra do espantalho?- Tornei meu olhar para o "sacrifício" e Aodh mais uma vez me olhou com deboche.
- Se isso fosse obra do espantalho, ele teria parado meu ataque como se fosse nada, não é qualquer mago que pode soltar um feitiço assim.- Aodh então começava a abrir a porta.- É bom que esteja preparado pro que está por vir, nobre Vougan.- Ele voltou a falar com tom de ironia enquanto passava pela porta. Imediatamente saquei minha espada e a apoiei no ombro entrando logo em seguida.
- O que alguém pode fazer com uma magia assim?- Perguntei espantado com aquilo tudo.
- Bem, toda magia tem um preço e a vida é seu preço máximo. Não duvido que um demônio esteja vagueando por esse forte... - Aodh estava começando a se irritar e eu estava me assustando cada vez mais. - Agora cale-se, temos de manter a concentração. 
   Me acalmei naquele momento e adentramos os corredores sombrios do forte que já eram ruínas com reparos  inacabados. Depois de três minutos andando pude ver um dos soldados de Lavein correndo na nosso direção, eu me preparei para caso fizesse algo porém Aodh não moveu um dedo sequer. A verdade é que eu estava ansioso demais para notar o desespero do homem que se jogou aos braços de Aodh e vomitou sangue no chão.
- Lorde Lavein....- O soldado falou em agonia enquanto Aodh tentava escutar suas últimas palavras. - Lorde Lavein, ele trouxe esse demônio para cá ele nos usou. - Pude escutar o homem chorar enquanto dava seu último suspiro nos braços de Aodh.
- Vougan, se for um demônio...- Quando o mago tentou falar eu escutei um grito gutural de dor e não me contive correndo em direção ao som.
     Deixei-o para trás e atravessei uma sala quando vi vários homens e mulheres espalhados pelo chão enquanto se arrastavam no próprio sangue tentando sobreviver. Uma besta balançava uma  enorme espada de lâmina curvada enquanto desmembrava os soldados que tentavam o enfrentar, seu corpo era humanóide, porém enorme e musculoso, seu rosto era parecido com o de um touro e ele ria de toda aquela situação. Não conseguia ver todas aquelas pessoas que estavam se abrigando no forte incluindo os soldados sofrendo daquela maneira, eu respirei fundo e me aproximei com a espada levantada.
- Humano tolo, você tem coragem de enfrentar a Zod " Deus da Guerra"- O demônio disse enquanto me observava com desprezo, eu apenas mantive silêncio.
- Não! - Aodh gritou. - Ficou louco Vougan ? - O demônio me olhou por um momento após a falação do mago.
- Será que Vougan é um nome para se lembrar através das eras? Ou apenas mais um para ser esquecido com tempo? - O demônio sorriu enquanto me encarava.- Vamos... não vá se acovardar.- Ele falou em tom de ironia e nesse momento eu avancei em sua direção com minha espada larga.
   Ele levantou sua enorme lâmina curva e me atacou, eu usei minha lâmina para desviar o pesado golpe dele, saltei e girei a espada no eixo de meu ombro acertando o peito de Zod que recuou com uma gargalhada enquanto a ferida cicatrizava. - Faziam três mil anos que um humano não me acertava desse jeito. Você tem talento garoto.- Ele falou isso e avançou na minha direção com um movimento mais pesado, se eu não tivesse me esquivando por puro reflexo ele teria quebrado a espada e me partido ao meio. Após esse movimento ele voltou a arma e eu não pude desviar o golpe me havia me arremessado contra uma parede.
- Mas acho que era só isso. - Falou Zod com arrogância e nesse momento Aodh se aproximou. Pude ver que o semblante do mago tinha mudado, seus olhos ganharam um aspecto vermelho cor fogo e sua expressão claramente era sombria...
- Eu sou Aodh, senhor das chamas e estou aqui para revogar sua alma! Zod!- Ele falou furioso e o demônio riu.
- Eu ouvi falar de você, o humano que roubou e absorveu o poder de um demônio... estou com sorte hoje, mas, eu cuido de você depois de matar o pequeno Vougan.
    Na última frase que Zod pronunciou eu me levantei rendendo meus pensamentos a fúria irracional da qual Adair me ensinou a controlar, porém agora era tarde. Zod sorriu e balançou a espada para me partir ao meio, mas eu tomado pela fúria golpeei a lâmina de sua arma e consegui anular o impacto. Por um momento Aodh ficou boquiaberto com o que viu e Zod apenas iniciou uma trocação de golpes onde as lâminas se encontravam enquanto tentavam atingir seus verdadeiros alvos. Não sei se consegui pressionar o demônio, mas minha arma se quebrou no último minuto e ele me atingiu com força no peito abrindo um enorme corte me jogando contra a parede novamente.
- Você é um mortal impressionante Vougan, você e seu amigo. Escolherei poupa-los dessa vez. - Ele fincou a espada no chão e tornou a falar. - Considere isso um presente e uma promessa, da próxima vez que nos encontrarmos eu o matarei.
    O demônio Zod desapareceu, como se fosse o próprio vento e todos os sobreviventes começaram a me encarar. Principalmente Aodh com uma expressão séria, após isso peguei meu diário e comecei a escrever. Aodh começou a procurar um medicamento que me descreveu como uma espécie de erva cultivada na terra elfica e eu... permaneci sentado encarando minha nova espada, a arma que antes pertencia a Zod.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jul 08, 2018 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Sangue e FerrugemWhere stories live. Discover now