Capítulo 5

877 92 77
                                    


Aquele dia havia sido um dos piores para Lara. Ela ficou na cama, chorando, até o relógio marcar quatro e meia da tarde. Jeffrey chegava às cinco. Ela guardou o vestido no roupeiro, o lenço no fundo da gaveta, os sapatos, dentro da caixa.

Foi ao banheiro, lavou o rosto, trocou de roupa, prendeu os cabelos na tentativa de desfazer os cachos.

Na cozinha, preparou o café da tarde. Jeffrey chegou. Ela não conseguiu trocar uma palavra com ele.

Tomaram café em silêncio. Jantaram em silêncio. Foram dormir. Virados para lados opostos, como de hábito. Depois de alguns segundos, Jeffrey disse:

-Você não estava assim hoje de manhã.

Os olhos de Lara transbordaram, e ela tapou a boca para evitar que o soluço escapasse. Ninguém disse mais nada.

_

Lara procurou ocupar seu dia como pôde. Pela manhã, limpou a casa enquanto ouvia as notícias do rádio. Ela preparou a refeição e almoçou. Depois de limpar a cozinha, saiu.

Foi ao mercado, parou na feira para comprar legumes e frutas frescas e, antes de retornar para casa, parou na floricultura de dona Julia.

O lugar estava tão movimentado que ela custou para alcançar o outro extremo, onde ficavam as rosas que ela tanto adorava. Lara deu um pequeno sorriso, aproximando o rosto para sentir o perfume.

Como o único atendente, além da proprietária do local, estava ocupado, Lara uniu cinco rosas e se encaminhou para o caixa.

Havia uma pequena fila diante de uma dona Julia bastante afobada em atender a todos o mais depressa possível, embrulhando os pequenos buquês, mostrando os cartões que poderiam acompanhá-los no momento da entrega, recolhendo o dinheiro e entregando o troco.

Lara observou mais alguns instantes, e num ímpeto despretensioso, avançou até a bancada.

-Dona Julia. – disse ela, em voz baixa.

-Lara! Olá querida, está meio cheio hoje, não vi você entrar.

-A senhora gostaria de ajuda? – ofereceu.

Julia parou o que fazia:

-Você tem certeza?

-Eu poderia ajudar nos embrulhos, enquanto a senhora fica no caixa. – disse Lara, tímida, já que os olhares estavam todos voltados para ela.

Dona Julia abriu um largo sorriso.

-Venha, querida.

Com um sorriso discreto, Lara foi para trás da bancada, e começou a ajudá-la. Rapidamente a fila diminuiu, até que não restasse mais ninguém para atenderem.

-Eu nem sei como agradecer. – disse Julia, com um sorriso bondoso para Lara.

Lara sorriu, abaixando o rosto ligeiramente.

-Acho que falta um. – ela levantou as rosas que apanhara.

-Essas eu faço questão de embrulhar! – disse Julia, pegando-as da mão de Lara.

Depois de embrulhar e se negar a receber pelas rosas, Julia acompanhou Lara até a porta.

-Obrigada pela ajuda, senhora. – Falou Julius, o rapaz que trabalhava no local.

Lara se limitou a sorrir.

-Obrigada, querida. Você ajudou muito. – disse Julia, fitando-a.

-Não foi nada. – Lara afagou o braço da senhora.

-Sabe, ultimamente tem sido bem movimentado por aqui... – Julia fez uma pausa, estudando como prosseguir – Você trabalha, querida?

-Eu?! Não. – disse Lara, surpresa com a pergunta.

-Hoje em dia está cada vez mais comum mulheres trabalhando. Se eu chamasse você para trabalhar aqui, você aceitaria? – perguntou a senhora de 81 anos, erguendo uma sobrancelha em expectativa.

-Bem... eu, preciso perguntar ao meu marido. – disse Lara, e em uma fração de segundo, seu sorriso perdeu a forma.

Julia consentiu vagarosamente com a cabeça.

-Espero que você retorne com uma resposta positiva. – disse Julia, e afagou o braço de Lara, antes de essa última sair pela porta.

_

Lara fez todo o trajeto de volta pensando na proposta que recebera de dona Julia. Trabalhar. Isso jamais passara por sua cabeça. Mas ela havia gostado da ideia. Estar ali, a fez se sentir útil. Naquele momento, em que pegava embrulhos, mostrava cartões e flores, ela sentiu uma coisa diferente. Era como se ela tivesse alguma serventia, além de simplesmente limpar e cozinhar.

Ela ainda sorria ao abrir a porta de sua casa. Lara entrou, largou as compras na cozinha e foi direto ao quarto. Estava um pouco cansada, mas contente.

Ela tirou os sapatos e a roupa, estava prestes a entrar no banho quando ouviu uma batida na porta.

-Oh, não. – lamentou ela. Rapidamente, Lara pegou o roupão, que foi a primeira coisa que enxergou, e se dirigiu para a sala.

Devido a roupa inapropriada, ela se colocou atrás da porta. Pretendia se desfazer de quem quer que fosse e voltar para o seu banho.

No entanto, Lara sentiu seu coração literalmente parar assim que abriu uma fresta da porta, colocando apenas o rosto para fora.

-Katherine. – ela disse, e a cor sumiu de seu rosto. 

Duas MulheresWhere stories live. Discover now