Capítulo 3

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—Parece que a vida na rua te ensinou alguma coisa Mia. —Arregalei os olhos para ele, quem ele era para saber tanto sobre mim? —Mas não o bastante.

A faca na minha mão havia sumido, o estranho começou a gargalhar quando se desvencilhou de mim e abriu espaço para que eu pudesse ver a faca sobre a bandeja, a minha cara de surpresa fez sua risada aumentar.

—Como? —Perguntei desnorteada, ele não se moveu para tentar tirá-la da minha mão, então como ela foi parar lá ? —Como você tirou ela da minha mão?

—Um pouco de sabe... magia.—Um sorriso brincalhão surgiu em seus lábios ao terminar a frase.

A faca começou a se levantar, havia feixes esverdeados envolta dela, o objeto começou a virar no ar até voltar e cravar na madeira da mesa.

—Isso é loucura. —Falei, minha voz parecia mais um sussurro, olhei para a o homem que cuja expressão era de divertimento com a situação. —Isso é um sonho, ou talvez uma alucinação.

Sim uma alucinação, perdi muito sangue e não me alimento faz tempo...

Eu tentava me convencer que nada daquilo era real, a figura veio se aproximando de mim e se sentando em uma região do sofá, deixando uma distância considerável entre nós.

—Vamos Milena, você é mais esperta que isso. —Ouvir esse nome fez com que as horas parassem, como se o mundo entrasse em transe, arreganhei os dentes para ele.

—Não me chame por esse nome. —Rosnei, fazia anos desde a última vez que ouvi meu nome, não queria ter aquelas lembranças de volta.

—Está bem... —Falou Karias levantando a mão em pose de rendição. —Está bem, calma, eu nunca mais te chamo assim. Desculpe Mia.

Me assustei com a reação dele, anos de uma vida miserável me fizeram esquecer como as pessoas podem ser no mínimo educadas. Vi sinceridade nas palavras dele o que me fez abaixar um pouco a guarda, mas não completamente.

—Como sabe essas coisa sobre mim? -Perguntei no tom mais amigável que consegui. —Como sabe quem sou? O meu passado? E... o meu nome?

Demorei para fazer a última pergunta.

—Digamos que com magia é difícil você não descobrir essas coisas. —Respondeu Karias colocando a mão na nuca como se estivesse envergonhado.

—Não existe magia. —Falei ríspida. —Aquilo com a faca... Só posso estar alucinada e você está se aproveitando disso.

Ele soltou outra gargalhada e se aproximou mais de mim, me encolhi no sofá para evitar o toque mas foi impossível, o mascarado levantou as cobertas deixando minha perna exposta.

Minha bochechas inflamaram de rubor com a cena dele tocando na ferida de bala enfaixada, senti uma dor insuportável percorrer meu corpo e me fazendo estremecer.

—Alucinações... Sonhos... Você não pode sentir dor neles não é. —Era mais uma afirmação que uma pergunta. —Por mais que o que viu faça achar que isto é um sonho, a magia é real.

O enfaixado se foi, a ferida, a dor, tudo sumiu como se nunca tivessem existido. Meu ombro também não estava mais doendo e o curativo também havia sumido. Passei a mão sobre a pele sem acreditar no que estava acontecendo, o homem sorriu para mim ao se levantar.

—Descanse. —Recomendou ele arrumando a coberta para que ela ficasse sobre mim. —Coma o quanto quiser e descanse, preciso que fique boa e disposta amanhã.

Ele andava para a porta da sala e ia fechando-a quando me atrevi a falar assim que saí do meu estado de surpresa.

—Por que você me salvou? —Ligando os pontos entre a faca e aquela lata de lixo, da figura nas sombras vindo na minha direção, tinha que haver um motivo para tanta gentileza.

—Vamos tratar disso amanhã. —Respondeu ele sorrindo um sorriso meigo, longe daquele sádico e assustador de antes, e fechou a porta sem tranca-la um detalhe importante se eu quisesse fugir.

Confesso que a ideia me ocorreu. Mas quando acabei com aquela bandeja sentindo minha barriga cheia e a luz do ambiente começou a escurecer no momento as velas iam se apagando uma a uma. Não consegui lutar quando o cansaço e o sono me alcançaram.

Era um alívio não sentir mais dor, um alívio ter uma refeição decente e um alívio ter uma cama quente e confortável para deitar.

Um alívio se sentir segura e protegida.

Faz tantos anos que estou na rua que me esqueci dessa sensação. Além disso, o orfanato também não fora uma das minhas melhores experiências, presa entre quatro paredes cinzas com a esperança que meus pais passassem pela porta e me tirassem daquele inferno. Essa esperança morreu dentro de mim com o passar do tempo.

Fechei os olhos e fiz a coberta se tornar casulo quentinho para essa lagarta cansada adormecer. Aos poucos o sono surgiu e junto com ele os sonhos, que haviam se escondido no meu subconsciente por muitos anos, emergiram.

Então depois de muito tempo voltei a sonhar de novo.

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Oi gente linda!!!!!
Espero que estejam gostando da história, se estiverem por favor comente e brilhem essa estrelinha.
Até a próximo capítulo, tchau meus anjos 😄

A Aprendiz do MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora