Epílogo

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Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?

E quem irá dizer que não existe razão?

- Eduardo e Mônica - Legião Urbana


O Eduardo fechou a porta atrás dele soltando o mesmo suspiro de felicidade e alívio de todos os dias. Era para esse momento que ele vivia as outras horas do dia. Chegar em casa, onde as pessoas mais preciosas e especiais da sua vida esperavam por ele.

— Papai! — Os gêmeos vieram correndo de braços abertos e o Eduardo se abaixou e os pegou no colo.

— Que saudade! — Ele beijou as duas cabecinhas cobertas de cachinhos escuros. Eles eram idênticos, mas ele e a Mônica não tinham a mesma dificuldade dos outros para distinguir quem era quem. O Igor repuxava a boquinha mais para um lado que o outro quando ria, e o Arthur franzia o narizinho um pouquinho mais arrebitado do que o do irmão.

— Boa noite, seu Eduardo. — A dona Lenita o recebeu no final do corredor.

— Boa noite. A senhora ainda tá de castigo? — O carro da Mônica estava na garagem, e normalmente a babá das crianças já tinha ido embora quando ele chegava.

— A dona Mônica tá no banho. Ela teve um dia difícil no hospital. Eu tô esperando ela terminar.

O coração do Eduardo se apertou. A Mônica exercia a profissão dela com paixão rara, por isso os dias difíceis a machucavam fundo, e, às vezes, ela precisava de alguns momentos sozinha para se recompor e não deixar a barra pesada influenciar na harmonia da casa. Depois que as crianças fossem dormir, o Eduardo oferecia o ombro para ela desabafar. E se ela quisesse, outras partes do corpo também.

— A senhora pode ir. Eu seguro as pontas. — Ele precisou rir da expressão apreensiva que fez a velha senhora desviar o olhar do dele. — Eu prometo não deixar ninguém pôr fogo na casa.

— Eu não me importo de esperar.

— Eu sei, mas o trânsito tá horrível e a senhora vai chegar tarde em casa. Pode ir tranquila.

Depois de alguns segundos de indecisão, ela cedeu e pegou a bolsa do chão, ao lado da porta.

— Obrigada, seu Eduardo. Até segunda.

— Bom final de semana, dona Lenita.

O Eduardo tirou o tênis e deslizou de meias pelo piso de madeira da casa. O caminho para chegar ali foi longo, feliz e muitas vezes difícil, mas cada minuto tinha valido a pena. Quando a Mônica, sempre generosa e corajosa, o perdoou por ele ter detonado o namoro dos dois, o Eduardo agarrou a segunda oportunidade com firmeza. Seu objetivo na vida era não deixá-la duvidar por um segundo ter tomado a decisão correta ao aceitá-lo de volta.

Aqueles primeiros anos juntos tinham sido incríveis, pela primeira vez, o Eduardo sentiu de verdade que a Mônica o via de igual para igual. Ajudava que ele já tinha dezoito anos e os pais tinham parado, quer dizer, quase parado de pegar no seu pé e ele tinha liberdade de passar quanto tempo quisesse com ela. A espontaneidade da Mônica os levou pelas mais diferentes aventuras, desde cursos de fotografia e teatro, até as viagens de última hora, em que eles saíam de carro, sem destino certo, só os dois, o rádio tocando e o vento bagunçando os cabelos dela.

A maior e mais radical aventura de todas, sem dúvida, tinha começado com uma Mônica desorientada lhe entregando o exame de sangue com a confirmação que ela estava grávida. Foi inesperadamente mais cedo do que eles tinham planejado, o que não impediu o Eduardo de comprar as alianças. Ele estava no último período da faculdade, mas ele e a Mônica trabalhavam, e com uma forcinha da família dele, o Rafael foi recebido com todo o amor que um filho merece.

Eduardo e MônicaWhere stories live. Discover now