DIA 42 - MEU PAI...

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Escriba,

Hoje lembrei mais das histórias que minha mãe contava.

Quando nasci, a nossa casa não havia reboco.

Então, minha mãe dormia comigo para não ser comido pelos ratos.

Como já havia dito éramos muito pobres.

No café da manhã dividíamos a comida assim: um pão pra mim, por que era o menor e outro pão para meus pais e meu irmão.

No meu caso, poderia passar manteiga no pão.

Meu pai comprava uma lata de carne de conserva, a enlatada, para passar a semana.

No almoço, somente no meu prato era colocado farofa de ovo, nos demais, era só o arroz com a carne de conserva.

Eram "privilégios" conseguidos por causa da idade (ser o mais novo) e para minimiza minha fome, porque devido o estresse poderia ter um ataque epiléptico.

Nos mudávamos muito.

Tudo muito complicado.

Muito difícil.

Até o dia que conseguimos uma loja num centro de artesanato e começamos a melhorar de vida.

Ficamos ricos.

Passamos a ter coisas que nunca imaginávamos que iríamos ter.

Literalmente ricos.

Mas com o passar dos anos, nossa família esqueceu que o que conseguimos, veio pelo suor e por Deus.

Meu pai cedeu ao encanto de uma jovem ruiva.

Ela com dezessete anos e ele com cinquenta anos.

Não é o fator da idade, não sou pudico, mas, foi a forma como ele passou a tratar minha mãe.

Então tudo que vir quando criança, passei a ver novamente.

Todas as agressões físicas e verbais.

Novamente prometi para mim mesmo, quando um dia casasse, poderia me separar da mulher, mas, agredi-la nunca.

Um dia antes do vestibular, acordei com eles quebrando tudo dentro do quarto.

Eles estavam brigando.

Bato na porta.

Meu pai atende com o rosto arranhado e vermelho de sangue.

O chamo para fora do quarto, e digo que se voltasse a acontecer dele bater em minha mãe, no mínimo chamaria a polícia.

Acho que foi um santo remédio.

Por que não me recordo mais de nenhuma briga deles.

Porém eles se separaram.

E, agora, recordo que de fato meu pai está morto.

Lembro que alguns dias antes dele morrer, tivemos uma conversa, ele me disse:

— Você já está de maior, fez vinte um anos, posso descansar.

Deveria o ter agradecido pelas incontáveis noites de sono, quando saia para me buscar nas festas, casa de amigos ou na igreja. 

Não importava a hora, ele estava lá. 

Deveria pelo menos ter o agradecido pelos conselhos que deu e que formaram o homem que sou.

Mas, só emitir julgamentos.

Memórias de um Calabouço - (COMPLETO) - Lançado 09/12/2017 **SEM REVISÃO Where stories live. Discover now