FOGO. FUMAÇA. SANGUE E MORTE.

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Cavalcanti acorda agitado pela madrugada.

Tivera um sonho estranho.

O sonho do dia do acidente! Sua cabeça parece que vai explodir! Ele sente uma tontura e vontade de vomitar.

Seu coração está acelerado.

Muitas informações desde que despertara. Muita coisa para processar e deixar a mente afiada de novo!

Ele vai até o frigobar e bebe água.

Anda com cuidado para não despertar Margarida. Sorve mais de água gelada. Volta à cama e consegue adormecer.

Que horas você vai sair do escritório e vir para casa?Fala uma mulher por telefone.

Estou terminado de digitar o processo no computador e vou logo em seguida, meu amor.

Vê senão demora. Tô com saudade! Claudinho está aqui num pé e noutro te esperando para sair!

Diz a ele que assim que chegar, vamos ao cinema! Pede pra ele já ficar arrumado. Vamos ter uma noite pra homens!

RISOS

Tá bom! Tá certo! E depois como fico?

Quando chegar do cinema com ele, vamos, para o restaurante que você gosta, e aí a noite será nossa! Uma noite de amor e sexo!

Espero que seja mesmo! Você só vive enterrado nesses processos! Não tem mais vida!

Você está certa meu amor! Agora, preciso ir! Senão, como vou sair daqui no horário?

A Sala que estou tem alcatifa no chão e uma mesa de cerejeira. Há fotos minha, com minha esposa e filho, porém, não consigo ver os rostos deles! Saio da sala e passo por outras duas. Com os nomes na porta:

Dr. CONSTANTE BENEVIDES

Dra. CLAUDIA ACCYOLLI

As salas estão vazias. Parece que estou sozinho. As luzes vão intercalando entre acesas e apagadas. Tudo tranquilo. Sinto uma felicidade sem igual. Uma realização que não posso explicar.

Há uma placa imensa na Recepção da empresa "Benevides & Lira & Accyolli associados". Saio, falo com o zelador que está cuidando do andar e espero o elevador.

Dr Lira, boa noite! - Fala comigo o ascensorista. No crachá está o nome de José Noé da Silva.

Boa noite Noé! Larga que horas?

As dez da noite doutor.

Todos os dias nesse horário?

Sim! Todos os dias!

O elevador chega no subsolo.

Caminho até uma Pajero preta. Entro no carro e sai. Conecto o celular ao som. Coloco música via Bluetooth.

"...vida de casado é bom, mas perde para a de solteiro"

Saio em direção à Boa Viagem. Depois é como se tudo apagasse. Zumbido. Fogo. Gosto de Sangue. Uma mulher me abraçando, muita fumaça. Ela está falando algo.

A vejo, mas esta escuro! Olho para o lado. Há uma pessoa. Não se mexe. Está morta! Ainda queima!

Calor.

Dor.

Desespero.

Estou levitando.

Maca.

Ambulância.

"Saiam da frente"

"Cavalcanti! Eu estou aqui!"

"O pulso está caindo"

"1, 2, 3 e carga! "

"Ele não está respirando!"

"Por favor salvem meu marido!"

Cavalcanti solta um grito no quarto!

— Estou morrendo! Socorro!

— Calma meu amor! Foi um sonho ruim! Foi somente um sonho ruim!

Ela o abraça. Ele está suado.

— Você está aqui comigo meu amor! Eu te amo!

Margarida abraça-o com amor.

Cavalcanti se apaga de novo e cai de volta à cama como um paralelepípedo que afunda na água, porém, está saindo sangue pelo nariz dele.

Memórias de um Calabouço - (COMPLETO) - Lançado 09/12/2017 **SEM REVISÃO Where stories live. Discover now