Capítulo 4

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***Vicente***
Os dias que se seguiram foram uma mistura de felicidade, tristeza, dor, lembranças e sonhos.
Faz quatro dias que eu contei toda a minha história pra Manu, nós fomos dar uma volta em um parque que estava completamente deserto e em um determinado momento eu senti que deveria contar a ela.
-Manu você quer saber tudo que aconteceu comigo?
-Tem certeza de que está pronto? Não precisa contar senão quiser.
-Eu quero, sinto que preciso.
-Vou ouvir.
-Bom tudo começou quando minha mãe se casou com Carlos Drumon um cara rico, poderoso, minha mãe conta que o começo do relacionamento foi maravilhoso, ele à tratava como uma rainha, eles se amavam, se cuidavam, saiam juntos, trabalhavam juntos na empresa dele, mas três anos depois do casamento minha mãe descobriu que estava grávida, meu pai amou a ideia no começo, porém depois que a criança nasceu ele começou a se irritar com um simples choro, xingava a mulher e o filho, nessa época ele já era viciado em jogo, mas minha mãe não sabia, nos últimos jogos ele estava perdendo muito dinheiro e achava que isso era culpa do filho que com seu choro o deixava irritado. As brigas com minha mãe eram constantes, e aos poucos toda a fortuna que ele tinha estava sendo colocada fora por causa desses jogos, cada dia era uma quantia maior que ele devia e aos poucos vendo que não tinha mais como pagar ele começou a beber como se fosse resolver algo. As coisas se agravaram em casa, minha mãe não trabalhava porque cuidava de mim e o seu marido o único que trabalhava no momento estava jogando tudo no lixo. Menos de duas semanas depois dois caras foram lá em casa e ameaçaram nossa família, eles disserem que se minha mãe não desse um jeito de pagar eles iriam tomar a nossa casa e foi o que aconteceu uma semana depois. Fomos despejados, eles tomaram conta, minha mãe tinha esperança que o seu marido não havia mexido na conta do banco, mas quando foi verificar ficou chocada quando viu que não tinha nada. Não tínhamos casa, comida, roupa, nada, absolutamente nada, eles nos expulsaram sem deixar que pegássemos um casaco. A única saída foi ir para a empresa, pois ambos não tinham parentes vivos, ficamos lá durante três semanas, meu pai tinha diminuído a bebida e até cuidava de mim quando minha mãe administrava a empresa. Minha mãe sempre foi uma mulher super inteligente e ela fez com que a empresa crescesse muito e como consequência tínhamos novamente dinheiro para comprar uma casa, nada muito luxuoso, mas era boa. Meu pai fez tratamento e três anos depois ele estava totalmente curado, era um pai e um marido excelente, a empresa dava muito lucro e eles expandiram para outros continentes. Estava tudo em perfeita ordem, uma família feliz, mas 4 anos depois quando eu tinha 7 anos, e estava sozinho com meu pai em casa, pois a mamãe havia viajado para Londres, a campainha tocou as 23:55 de uma terça feira. Quando meu pai abriu quatro homens entraram armados. No começo eu não entendia nada, mas depois de 10 minutos mesmo tendo apenas 7 anos eu sabia muito bem o que estava acontecendo. Tinha quatro homens armados na nossa sala querendo matar o meu pai, eles esperaram ele ter reconstruído toda a sua vida para roubar-lhe todo o dinheiro e porque sabiam que minha mãe iria sofrer muito com isso, mas o principal motivo para eles terem esperado tanto tempo foi para que eu visse e deixasse registrado para sempre o momento em que uma bala atingiu a cabeça do meu pai, outra perto do coração e mais duas no peito. Meu pai só teve tempo de sussurrar amo vocês antes dos últimos três tiros e depois caiu no chão todo ensanquentado. Os caras foram embora e eu corri até meu pai e chorei como nunca havia chorado em toda a minha vida, eu não sabia o que fazer, abraçava o corpo sem vida de meu pai e pensava o quanto era injusto este mundo, então resolvi ligar para a polícia e em menos de 15 minutos eles chegaram. Tiveram que ligar pra mamãe e contar o que havia acontecido para que ela voltasse e resolvesse as coisas do funeral. Três dias depois meu pai já havia sido enterrado e por conta do pedido do delegado eu minha mãe fizemos terapia, foram meses seguidos indo a terapia para tentar superar a perda e quando finalmente estávamos melhorando, os quatro homens apareceram de novo lá em casa, mas desta vez nem se deram o trabalho de tocar a campainha, nós estávamos jantando quando do nada uma vez grossa mandou a gente levantar. Eles tinham em mãos vários papéis e os entregaram para minha mãe, dizia que todos os bens que fossem dela e do meu pai passariam a pertencer a um deles, embaixo a assinatura do meu pai. Lembro que minha mãe ficou furiosa pelo que meu pai havia feito, ela pensava que ele tinha voltado a jogar e que tinha acumulado dívidas e por isso passou tudo para eles, mas um dos quatro, provavelmente o líder nos disse que quem se mete com eles uma vez jamais sairá ileso, meu pai sabia demais e para eles quanto mais poder melhor então ameaçaram meu pai, se ele não assinasse os papéis eles iriam me matar, e meu pai não pensou duas vezes para assinar. Eles disseram também que meu pai sabia que ia morrer desde o início.
Parecia um filme se repetindo em minha cabeça, novamente nós havíamos sido expulsos de nossa própria casa, pelo menos desta vez com algumas roupas, comida e uns 500 reias, mas nada disso durou muito tempo. Minha mãe sabia que se fôssemos para uma pousada ou algo do tipo gastaríamos tudo em um único dia, então encontramos uma barraca abandonada num lugar super estranho e ficamos lá durante os meses que se seguiram. Um dia fomos acordados por um homem e duas mulheres eles alegavam ser os donos da barraca abandonada e nos xingaram por invadirmos algo que não era nosso, eles disseram que tínhamos uma dívida com eles por causa das noites que passamos na barraca e como forma de pagamento minha mãe deveria ir trabalhar com uma das mulheres, minha mãe aceitou, mas jamais pensou que seria aquele tipo de serviço, ela jamais havia dormido com outro homem apesar de ser uma mulher linda do qual os homens sempre tiveram inveja de meu pai, ela não tinha escolha então todos os dias ela ia trabalhar, ganhava o suficiente para a comida, mas seu psicológico estava acabado. Os outros oito anos se seguiram assim, minha mãe continuava no mesmo serviço e eu ajudava o homem nas ruas vendendo coisas roubadas. O pior ainda estava por vir, um dia quando cheguei mais cedo na barraca escutei minha mãe gritando e quando abri a barraca o homem que vivia com a gente estava abusando dela, lembro que quando entrei tinha visto um pedaço de ferro então sai peguei o mesmo e sem pensar duas vezes acertei a cabeça dele, minha mãe estava desesperada pegou as coisas que tínhamos lá e fugimos sem nunca olhar para trás. Depois de muito caminhar encontramos um lugar para ficar onde haviam vários moradores de ruas e depois de alguns meses minha mãe conseguiu emprego na casa de um senhor e eu a ajudava no serviço. Nesse tempo fomos roubados várias vezes, mudamos de lugar, certa vez uma senhora nos acolheu e quando o homem faleceu minha mãe perdeu o emprego então ela ficou um ano sem conseguir emprego até ir a casa de vocês.
-E como você estudava?
-Apesar de tudo que passamos eu via no rosto da minha mãe a felicidade quando eu ia para a escola, para ela era como se fosse um momento no qual eu estaria a salvo do resto do mundo e ela tinha razão era assim que eu me sentia, eu tinha amigos, me divertia e brincava mas jamais tocava no assunto da nossa vida. Mesmo sentido tudo isso em relação a escola eu sentia medo por saber que minha mãe estava lá fora desprotegida e amava poder abraça-lá quando chegava da escola.
-Meu deus eu to chocada eu imaginava que tu tinha passado por muitas coisas, mas jamais iria pensar que tu sofreu tanto assim, tua mãe meu deus que coisa horrível que aconteceu com ela. Eu sinto tanto.
-Agora estou melhor.
Ela me abraçou como se o mundo fosse acabar e assim ficamos durante um bom tempo.

***Mãe da Manu na multimidia***

AMOR POR ACIDENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora