QUARENTA E DOIS

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Rhea


De repente, paramos o carro no acostamento da estrada deserta. Os canalhas abriram as portas e desceram. Sem alternativa, vi-me arrastada para fora. Mais uma vez fui pega pelo pescoço, agora pelas mãos enormes da parede de músculos.

– Só não matamos você por simples cortesia – justificou ele calmamente, na verdade parecendo pesaroso. E então me atirou com tudo no chão.

Caí de costas no acostamento, senti o cascalho sob meus cotovelos nus, esfolados pela tentativa inútil que eu fiz de não bater a cabeça. A camisa era de manga curta, e havia uma pedra maior em algum ponto da minha omoplata, cravando-me com sua ponta afiada apesar do tecido.

Os três me cercaram. De pé, suas cabeças cobertas pelas tocas enquadraram o céu límpido, de um plácido azul.

Eu fitei aquela imensidão por um instante enquanto delirava...

Depois de uma tempestade era permitido que o céu parecesse tão puro e intocado assim?

Será que tudo mudava tão rápido, e ia do preto ao branco de um instante a outro sem nem nos darmos conta? Será que as nuvens cinzentas e sujas iam embora sem deixar nada de si para trás?

Eu deixarei nuvens cinzentas para trás quando me for?

Estupro ou execução direta, o que teremos agora?

O mais alto se agachou ao meu lado e desceu o rosto até que eu fixasse os olhos nele. Vi meu reflexo nas lentes, e então fiz questão de sorrir com arrogância e dizer:

– Desta vez... – Minha voz soara rouca e sussurrada. Parecia que haviam passado pedras pela minha garganta, a traqueia destruída, mas eu não me importava. – Quando mirarem... Façam o favor de não apontarem para o meu rosto... Odiaria que estragassem a minha maquiagem.

A ironia não teria funcionado tão bem se eu de fato tivesse me maquiado naquela manhã.

Mas os filhos da puta riram e o que estava agachado passou a mão enluvada pela minha mandíbula. Então a desceu pelo meu pescoço, traçando o que devia ser a marca dos apertos da faixa na minha pele. Depois, ocupou-se de erguer a barra da camiseta, olhando meu estômago atingido mais cedo.

Ele respondeu:

– Não era para deixar você com tantas marcas, mas com essas piadinhas você não nos deixa escolha... – Ele se voltou para me fitar e passou a mão enluvada na minha face. – Ao menos prometo que seremos bonzinhos com o seu rosto.

Então ele fez um gesto, e de repente os três se divertiram me chutando com toda a força no estômago, nas coxas e nas nádegas.

Golpe atrás de golpe, até que eu quase desmaiei. Talvez tenha quebrado uma costela, não sei. Eu já não conseguia raciocinar.

– Viu só? – disse um deles. – O seu rosto está intacto. Assim como as suas pernas e os braços, para que você consiga dirigir e dar o fora daqui.

Eu não podia assimilar. Nem mesmo falar. Era tanta dor...

Até que por fim um deles se agachou ao meu lado novamente.

– Você deve estar se perguntando o que queremos com você. Se iremos matá-la ou não.

Sim, talvez eu estivesse... Se... Eu... Meu Deus...

O desgraçado puxou o meu rosto para o dele e continuou:

– Então aqui vai a resposta: o chefe quer que você vá viver a sua vida e não volte nunca mais.

– Clayton... – é um filho da puta!, eu queria conseguir dizer.

– Clayton? – riu o idiota. – Você pensa que é o Clayton que quer você pare de procurar a própria morte?

Agarrando o meu cabelo, ele puxou a minha cabeça em direção à estrada.

À nossa frente, havia um SUV parado no acostamento com os faróis traseiros e o motor ligados.

Não pude enxergar a placa, e em verdade eu nem queria.



Que difícil escrever estes últimos capítulos. :/ Espero que a próxima atualização seja na terça-feira, se tudo correr bem. Ah, e já não será mais com a Rhea sofrendo assim, prometo.

Feliz Natal e boas festas! Não se esqueçam de votar e adicionar nas listas se estiverem curtindo. ;) Obrigada pelos comentários!

FURORWhere stories live. Discover now