2- ¡Casados!

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A parte em itálico e entre aspas foi totalmente extraída do livro "Senhora" de José de Alencar.

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Início de Flashback

Rio de Janeiro - 1868

Altagracia estava muito ansiosa. Saúl costumava vir todos os dias, mas fazia algum tempo, às vezes tardava dois ou três dias em aparecer. Sofia se preocupava pela aflição da filha. Saúl era um bom homem e havia lhe prometido casamento, mas ela sabia que, naquela sociedade, uma mulher sem dote era considerada pouca coisa. O casamento era visto como um bom negócio para homens como Saúl. Se lembrava de seu marido Tomás e da ventura que havia sido que ele a tivesse amado tanto ao ponto de romper com toda sua família e se dedicado a viver uma vida modesta com ela e a filha que tiveram. Mas temia pelo destino de Altagracia. Jamais a podaria, podaria suas asas e seu entusiasmo em estar vivendo um grande amor porque ela mesma havia vivido um amor improvável, mas Altagracia era seu tesouro, sua única filha.

Em nenhum momento do dia Altagracia deixava de ir até a janela sem conseguir esconder sua inquietude pela iminente visita de Saúl. Às 4 da tarde chegou um garoto com uma mensagem de Saúl e disse que esperava a resposta dela para levar até ele. A alegria encheu o coração de Altagracia. O homem que amava estava pensando nela, a estava buscando. Abriu o bilhete e leu cheia de emoção. Pediu ao garoto um tempo e foi até o quarto de costura, onde sua mãe trabalhava com Úrsula contando o que havia acabado de acontecer.

_ Mamãe, Saúl me enviou uma mensagem, quer me ver esta noite. – disse sem disfarçar sua emoção.

_ Que bom, filha. Não sei o que aconteceria com você se o senhor Aguirre deixasse passar mais um dia sem te visitar. Acredito que de Santa Teresa ao Catete se note o quanto você está apaixonada por seu noivo. Tome muito cuidado por tanto amor, minha filha.

_ Claro que eu vou tomar. Mas não é maravilhoso amar e ser amada, mamãe? – disse com o rosto iluminado pela alegria de falar naquele amor.

_ Sim, é maravilhoso. E você merece todo o amor deste mundo, filha. – Concordou Sofia.

_ Mas o que eu queria falar com a senhora, é que Saúl não mandou avisar que vem me visitar esta noite e sim enviou a mensagem para me fazer um convite e quero sua autorização para sair com ele.

_ Sozinhos? – Se preocupou Sofia.

_ Ele é meu noivo, mamãe, logo vamos nos casar e eu não sou uma moça da sociedade para que todos falem do que eu faço. – Altagracia insistiu para ter a permissão da mãe.

_ E onde ele quer te levar?

_ Ao teatro. Não o Teatro Municipal que está reservado apenas para as famílias abastadas, das quais, nem Saúl nem eu fazemos parte, mas o Recreio Dramático. Tem uma obra muito boa e ele quer que a vejamos juntos. Ele quer vir me pegar às 7 da noite.

_ Está bem, você pode ir. Mas esteja em casa cedo, filha! Mesmo que você não seja uma moça da sociedade, não é bom dar motivos de que falar aos que te conhecem. A honra de uma mulher, é o bem mais precioso dela. – concordou Sofia sem deixar de orientar Altagracia.

A jovem explodiu de felicidade. Deu um salto e um beijo carinhoso na mãe e outro em dona Úrsula que costurava com ela e correu para a sala para preencher o bilhete de resposta a Saúl. Estar com o homem que amava em qualquer lugar era maravilhoso. Se preparou, com toda pompa que sua modesta condição permitia para aquele encontro da tarde. Prendeu os cabelos de modo a deixar caídos alguns cachos ruivos sobre o pescoço e os ombros e se perfumou discretamente. Mas mesmo com a discrição no vestuário, sua beleza reluzente chamava atenção. Suas curvas saltavam para fora da roupa e demonstravam que ela era uma flor pronta para desabrochar.

Casamento ArranjadoWhere stories live. Discover now