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Altagracia percebeu a tensão de Saúl enquanto os dois se vestiam para receber à Juliana. Ele era bastante reservado quanto à sua família. Não falava deles e eles não haviam ido à sua casa nenhuma vez após o casamento. Parte dessas reservas se devia às circunstâncias atípicas daquele matrimônio. Por mais que estivessem em um momento de proximidade no instante em que foram surpreendidos pela visita de Juliana, normalmente, se comportavam como adversários em uma constante disputa. Especialmente no que se referia às defesas de Altagracia e a todas às mágoas que só mesmo um intenso amor poderiam curar.
_ O que será que sua irmã quer, a essa hora? – Altagracia se mostrou preocupada.
_ Não se preocupe. Eu vou pedir a ela que não volte a incomodar em tua casa. – Saúl recordou sua situação naquela casa.
_ Não há nenhum problema que tua família frequente essa casa. É tua também. – Altagracia sentiu-se atingida.
_ Não, Altagracia. É tua casa. – disse Saúl de cabeça baixa enquanto colocava os sapatos. – Foi adquirida com teu dinheiro, não? O dinheiro que herdaste de teu avô.
_ Mas vives aqui. E tua família sempre será bem recebida. – ponderou Altagracia.
_ Não acho que minha mãe e minha irmã se sentirão à vontade aqui. – justificou-se Saúl. – Elas não estão acostumadas com todo esse luxo.
_ Além disso, seguramente sua irmã veio te dizer algo importante, ainda mais que colocas as coisas assim. – baixou os olhos triste por sentir-se cair da nuvem de união que sentia com Saúl momentos antes.
_ Tens razão. Disse Saúl aproximando-se e notando a tristeza dela em seus olhos tristes. Perdoa-me, querida, eu só estou nervoso por essa surpresa. – disse acariciando levemente o queixo dela. – Na verdade... Eu não queria que tivéssemos sido interrompidos. – sorriu pícaro beijando de leve o canto da boca dela.
Altagracia retribuiu ao beijo sorrindo. Não respondeu nada, sentiu-se tímida com as palavras dele. Custava lhe crer que havia se comportado daquela maneira, é que ele lhe despertava tanto desejo, tantos sentimentos que não podia resistir ao impulso de entregar-se a ele. Não depois de ele ter se declarado de maneira tão bonita mesmo após ela havê-lo humilhado. Suas palavras naquele poema permaneceriam sempre em seu coração. Estaria Saúl conseguindo vencer a barreira construída por tantas perdas e mágoas?
_ Eu vou ver o que minha irmã quer. Não te movas daqui! – Disse ele sorrindo dando-lhe mais um beijo terno.
_ Nada disso! – contestou Altagracia – Eu te acompanho.
_ Como queira mi doña... Não! Como queira, meu amor!
Altagracia tomou-lhe o braço e seguiram como um verdadeiro casal até a sala para receber Juliana.
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A jovem estava claramente aflita, notava-se que tinha chorado e a impaciência pela espera a deixou mais nervosa. Ao ver Saúl ela correu até ele chorando. Não conseguiu dizer nada de início.
_ Juliana, acalme-se, o que aconteceu minha princesa? – preocupou-se Saúl ao ver o estado da irmã.
_ Venha, Juliana. Sente-se aqui, precisas acalmar-te. – observou Altagracia. – Dona Úrsula, peça para alguma das criadas preparar um chá para minha cunhada. – dirigiu-se à viúva que acompanhava a jovem até a chegada do casal.
_ Não se preocupe, Altagracia. Eu já fiz isso. – disse a viúva.
_ Não precisa! – Juliana finalmente reagiu – Eu estou com pressa. Precisava falar com você ainda hoje, Saúl.

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Casamento Arranjado
FanficSe passa em 1870 e narra a história de um casal que se magoou no passado, Altagracia e Saúl, dos quais uma grande herança muda o destino. Altagracia, decidida a se vingar do homem que lhe jurou amor e a trocou por outra mais rica, "compra" Saúl por...