Capítulo LVI

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Karen


A noiva de Cauê estava muito ferida e escapou da morte por um milagre. Quando ela acordou e o viu ao seu lado, começou a gritar e tiveram que tirar ele da oca.

...

_ Oi!

Cauê estava sentado debaixo de uma árvore fazendo flechas, ele me encarou e pude ver a dor nos seus olhos; alguns parentes dele tinham sido assassinados por Yen.

_ Você deve voltar pra cidade.

_Vou voltar hoje à tarde. Como você está?

_ Ficarei bem; o luto da aldeia dura sete dias, esse é o tempo que tenho para chorar meus mortos.

_ E depois disso?

_ Devo me casar.

Engoli seco: Minha alma gêmea iria se casar com outra.

_ Eu espero que você fique bem.

Saí apressada e fui me encontrar com o pajé; ele queria conversar comigo antes que eu fosse embora. Tentei não pensar que daqui alguns dias Cauê estaria casado com outra mulher e que eu não podia impedir isso. Entrei na oca e o pajé estava fumando uma erva esquisita e tinha enchido o lugar de fumaça. Ele me ofereceu o cachimbo com um gesto e recusei educadamente; nem morta que eu ia fumar aquela coisa.

_ Ajuda a me conectar com os espíritos da natureza. – Sei. Se fumo um negócio desses, iria ficar viajando o dia todo.

_ O senhor quer falar comigo?

_ Sim; vamos dar uma volta.

O pajé me mostrou a aldeia, os rios, as árvores milenares, as ervas usadas para fazer remédios... Contou histórias e fez milhares de perguntas sobre minha vida.

_ Cauê treinou você muito bem.

_ Ele é um ótimo mestre.

_ Temo que ele não terá um bom futuro aqui na aldeia.

_ Como assim?

_ A noiva dele... Ela não quer mais o casamento, a família não quer, aparentemente nenhuma outra família quer casar uma filha com Cauê.

_ Não estou entendendo...

_ Coisas ruins acontecem com as noivas de Cauê e estão acreditando que ele é amaldiçoado.

_ Não foi culpa dele; era uma armadilha.

_ Eu sei, mas não posso obrigar ninguém a dar a filha em casamento e sem uma esposa ele não pode ficar na aldeia.

_ Como assim?

_ São as nossas leis; todos devem se casar com um membro da aldeia ou são banidos.

_ Mas ele tem parentes aqui...

_ Sim, os pais, os irmãos e alguns sobrinhos dele escaparam da necromante.

_ Ele nunca mais poderá vir até aqui?

_ Nunca.

_ Mas vamos falar sobre coisas boas: Estamos fazendo uma festa em sua homenagem.

_ Agradeço a gentileza, mas a minha família deve estar preocupada e tenho que voltar para eles.

_ Não se preocupe, você estará em casa ao anoitecer.

O pajé me deixou em uma oca, onde índias muito simpáticas me arrumaram para a cerimônia onde eu seria homenageada. Elas confirmaram que ninguém queria se casar com Cauê e sendo assim, ele teria que deixar a aldeia em alguns dias. Ele devia estar sofrendo muito; afinal nunca mais poderia voltar ao seu lar ou ver seus pais. Novamente fui arrastada por minha magia e fui parar em outra vida.

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