O silêncio que guia nossa mente

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 IV

Narração por Isabela.

Dar fim ao show, esse era o meu intuito. Não considerava mais passar um dia ao lado deles, pois enquanto caminhava até eles a minha mente recebia flechadas com as cenas da minha mãe sozinha em casa e tendo que lidar com toda violência psicológica que sofrera nos últimos meses.

Ao me aproximar, risadas da Heloísa dispararam na minha direção enquanto ela tinha o braço enroscado no do meu pai. A taça de champagne em sua mão parecia tão leve e a sua naturalidade denunciava a sua falta de consciência e empatia para comigo e a minha mãe. Fazendo a leitura labial do meu pai, notei que estavam falando sobre mim e quando o homem que conversava com eles junto a esposa olhou na mesma direção que a Heloísa, ou seja, para mim, senti-me enojada.

Estaria me tornando motivo de piada para eles?

Não perdi tempo. Aproximei-me deles, gostaria de ouvir o que tanto os fazia rir.

― Com licença. – Falei ao me aproximar, parando ao lado da Heloísa e sorri cordialmente.

― Estávamos falando agora de vo... – A voz estridente da Heloísa denunciava o exagero no álcool. Meu pai também não estava longe de estar bêbado, percebi através dos seus olhos quase se fechando.

Ela não completou a frase, pois logo que virou para a minha direção o líquido em sua taça encontrou destino na minha roupa, respingando até os meus sapatos. O desespero fingido em seu olhar junto a boca aberta de surpresa dava a ela ar de inocência, mas a posição de sua mão e o olhar venenoso não conseguiram me enganar.

― Claro que estavam falando sobre mim, por acaso eu sou alguma idiota para não saber que virei motivo de piada para vocês dois? – Questionei-os mantendo o tom baixo e afiado da minha voz.

― Hey! – Meu pai gargalhou olhando para os amigos – Parece que alguém aqui não está se divertindo. – Ele esticou a mão para tocar em meu ombro, mas antes que isso acontecesse eu o impedi segurando a sua mão e dei um passo para trás – Aconteceu algo, Isabela? – Sua cara de felicidade estúpida não deu espaço nem mesmo para a preocupação.

― Não irá acontecer se vocês continuarem com esses personagens estúpidos. – Encarei-os deixando os quatro em posição de constrangimento – O intuito era apenas em me despedir de vocês com o bom e velho diálogo, visto que nos últimos meses vocês agiram de total desonestidade, não é mesmo, papai? – Olhei para o meu pai, pois era ele o centro da minha raiva.

Os quatro se entreolharam desentendidos e me encaram como se eu estivesse à beira da loucura.

― Isabela, querida, vamos ao seu quarto para você trocar de roupa. – A Heloísa falou sorrindo para todos e segurou firme em meu braço, podia sentir suas unhas cravando lentamente em minha pele.

Ela não iria me constranger, nem mesmo me tirar dali. Tentei escapar de suas garras, mas dessa vez o meu braço foi puxado e suas unhas machucaram a minha pele.

– Anda logo, Isabela, sem cena! – A Heloísa esbravejou.

― E quando você irá deixar de atuar, Heloísa? – Indaguei e dei um passo em sua direção limitando o espaço entre nós. Estávamos tão próximas que podia sentir a respiração ofegante dela. Ela pensou em algo para dizer, abriu a boca e eu interrompi – Não abra a sua boca! – Esbravejei – Você tentou com muito esforço se mostrar alguém para mim junto ao meu pai, tentaram comprar os meus pensamentos a fim de concordar com a falta de caráter de ambos. Mas não se engana, Heloísa, você achou mesmo que eu não ficaria ao lado da minha mãe? Que eu iria abaixar a minha cabeça e aceitar pacificamente essa história de amor escrota de vocês? – Com força soltei meu braço de sua mão e ele foi arranhado.

Onde você estava?Where stories live. Discover now