A coisa

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Os cinco estavam presos ao chão, não por uma força maligna, mas porque simplesmente não conseguiam crer no que estavam vendo e ouvindo

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Os cinco estavam presos ao chão, não por uma força maligna, mas porque simplesmente não conseguiam crer no que estavam vendo e ouvindo. Era um medo inexplicável, um arrependimento enorme de terem concordado em sair para beber, mas Simon, apesar de parecer o mais forte deles, estava soluçando e tremendo.

- Estamos mortos...estamos mortos...- soluçava Camille.

- Não estão, não. - disse aquele ser que escorria sangue negro e cheirava a podre. - Pelo menos, ainda não.

- O que você quer? - arriscou Jason.

- Eu quero ver vocês sofrerem... - então soltou uma risada grossa e aguda que fez os pelos dos braços e da nuca arrepiarem.

Annie agarrou Jason como nunca abraçara na vida. Reprimia uma vontade incontrolável de chorar.

- Você vai nos matar? - perguntou um Jason assustado.

- Não se dirija a mim como se eu fosse uma estranha. - falou a coisa. - Vamos, amigos. Não vão cumprimentar uma velha amiga?

À primeira vista, praticamente todos estavam aturdidos e perdidos, mas Lilian quebrou o silêncio.

- Charlotte? É você? - ao dizer essas palavras, todos encararam o ser pálido e reconheceram que só poderia ser a jovem.

Charlotte acenou a cabeça e uma mecha de cabelo escorreu para o lado, dando visão para uma boca mucha e caída, como se derretida ou queimada.

- Vocês, mais que ninguém sabem o que aconteceu comigo e sabem o quanto sofri. - sua boca mexia de forma estranha e exalava uma podridão repugnante.

Annie soluçou e as irmãs Hanz se abraçaram como se a vida dependesse disso. Simon estava acuado em um canto, quase chorando.

- Primeiro, eu imaginei que matar vocês seria a solução adequada para minha vingança, mas... - ela se contorceu mais um pouco. - a morte é pouco quando há a oportunidade de fazer vocês sofrerem. Então... Vamos brincar?

- O que? - escapou de Annie. - Como assim?

- Vocês gostam de jogos, não é? Não vão negar isso ao "gnomo nerd" ?

- Charlotte. Me desculpe. - falou Camille aos prantos. - Nós não queríamos deixar você chateada quando zoamos você e...

- Calada! - rosnou Charlotte com sua voz gutural fazendo Camille soltar um gritinho agudo e sombrio.

- Vocês não sabem o quanto aquilo me queimava por dentro. - E como se não bastasse... Resolveram me queimar por fora.

Ao dizer essas palavras, ela afastou todo o cabelo seboso que estava encharcado daquele líquido grosso, revelando um rosto completamente deformado e buracos negros nas esferas onde antes havia olhos grandes e castanhos.

Simon deixou escapar uma exclamação de horror e se agachou no canto da parede.

- Vamos continuar a brincadeira que vocês começaram. Mas já que fizeram as verdades, vamos aos desafios.

- Não! - rosnou Jason. - Não vamos fazer nada que você mandar.

Charlotte se rastejou e agarrou o maxilar dele com as mãos negras e macilentas e levou seu indicador aos lábios do garoto. Então se virou para o restante do grupo.

Ela se rastejou até Camille que estava paralisada e sussurrou algo em seu ouvido. Ao se afastar, Camille exibia a expressão mais perplexa que já a haviam visto fazer. A jovem tapou a boca com a mão e uma lágrima escorreu de seu olho. Em seguida, as mãos frias agarraram o crânio de Lilian e sussurrou para a jovem.

Lilian soltou um grito abafado imaginado seu desafio se tornando realidade.

Charlotte se virou bruscamente e disse algo para Jason que só ele pôde ouvir e então se dirigiu para Annie.

Ao terminar de ouvir, Annie não sabia  expressar o que sentia, em parte porque não entendera muito bem seu desafio, apenas ficou paralisada e sem entender como faria o que lhe fora mandado.

- Bom... - Charlotte se virou para todos. - Saibam que se não cumprirem  os desafios... Irei atrás de vocês, porque acreditem ou não, você já são meus. Vocês tem até meio-dia  de domingo para completarem.

Todos olharam para Simon, que continuava encostado no canto do quarto, quieto. O único que não havia recebido o desafio daquela versão macabra de quem antes fora Charlotte.

- E você, Simon. Muito bem. - continuou a garota, ainda escorrendo e sussurrando ferozmente para Simon. - Conseguiu completar seu desafio.

- O que? - quis saber Jason. - Como assim?

- Isso mesmo. O desafio de Simon era trazer vocês aqui. E ele conseguiu.

Os quatro olharam perplexos para o rosto inchado de Simon.

- Olhem... Me escutem... - Simon se levantou e estendeu as mãos em frente ao corpo, na defensiva. - Eu vim aqui semana passada para fumar. Você tinha me desafiado, Jason, lembra?

- Foi uma brincadeira e...

- Me escute! - protestou o jovem tentando se explicar. - Ela me desafiou e... Eu não tive escolha... tive que trazer vocês aqui senão ela ia me matar.

- Então é por isso que você já sabia como estava o quarto dela e por isso estava com tanto medo. - concluiu Lilian. - Você só nos trouxe aqui como fantoches para se livrar disso! Você nos ferrou, Simon!

- Como você teve coragem, cara? - Jason se alterou e partiu para cima de Simon. - Como pôde fazer isso com a gente?

- Jason, calma - Annie tentou apartar a briga.

- Seu canalha, seu... idiota...

Jason agarrou a jaqueta de Simon e começou a empurrar ele.

- Para, cara! - protestou Simon.

Jason o socou no rosto e Simon pisou em falso, estava de costas para a parte destruída da parede e caiu.

Era uma queda de mais ou menos sete metros e Jason levou a mão à cabeça quando viu a cena. As meninas gritaram quando viram o que havia acontecido.

Simon foi em direção ao tronco pontudo da árvore que fora queimada pelo incêndio e ficou ali, preso, um bom pedaço da madeira negra perfurando suas costas e rasgando seu abdômen, como um espeto.

Todos soltaram gritos de horror quando ele fixou um olhar morto e horrendo para o céu, escorria sangue que em pouco tempo formou uma poça no gramado.

Aturdidos, os quatro restantes olharam um para o outro e viraram em tempo de ver Charlotte voltar se rastejando para a banheira e deitar na água esbranquiçada.

Eles desceram correndo as escadas e puxaram a maçaneta da porta de entrada que se abriu facilmente, dando acesso ao quintal e uma visão terrível do corpo estirado de Simon.

Eles correram noite à fora, cada um para sua casa, com medo, não somente do que havia acontecido, mas do que ainda teriam que fazer.

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Fim de JogoWhere stories live. Discover now