Capítulo 38

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Perspectiva de Roberto Castelo.

Despertei sobressaltado. Passei a mão pelo rosto ensopado de suor. Sentei na cama, coloquei os pés para fora, aterrissando-os no chão. E passei ambas as mãos sobre os cabelos unidos. A lembrança de como presenciei a catástrofe da família Green ainda me fazia ter pesadelos.

**

Tive uma crise de asma, assim foi mais fácil sair cedo. Tinha deixado Lize cuidando da loja.

Eu tive uma reunião naquela tarde que perdurou até a noite. Decidir fazer uma visita à família Green, uma família respeitada no ramo de caçadores de vampiros. O casal Charlie e Amy havia imigrado e se estabelecido no país. Tiveram dois filhos: Bruce, o mais velho, e Oliver, o mais novo.

Mas o que encontrei foi somente um cenário de caos, e fiquei entorpecido. Os corpos de Charlie e Amy cada um amarrado em uma cadeira com os pescoços brutalmente cortados, ainda gotejando, o cheiro forte de sangue perdurava por toda a casa. Tinha chegado poucos segundos depois da tragédia ter ocorrido.

Alguém estava deitado ao chão tremendo, com uma arma de fogo apontada para o coração. Agachei-me diante dele e tomei a arma imediatamente.

- Me mate.

O garoto carrancudo aquém vi crescer, agora tinha 23 anos e estava devastado.

- Me mate, por favor – ele voltou a pedir.

Era um dos filhos, o mais novo. O rosto e principalmente a boca banhados em rubro, ele estava se tornado um vampiro.

- O que houve?

- Me mate, eu não quero viver nessa forma – suplicou.

Ele puxou minha mão e posicionou o cano da arma novamente em seu peito.

- Respire – aconselhei.

Ele olhou com pesar para as dois os corpos nas cadeiras.

- Faça, faça logo – continuava a implorar.

Eu via uma criança sofrendo a morte dos pais do mesmo modo que minha querida Lize. E não era culpa dele que o transformaram contra sua vontade. Sentir a necessidade de ajudar aquele jovem.

- Eu vou te ajudar, você não precisa morrer.

Recolhi suas armas e as levei comigo, temendo que ele voltasse a fazer o que eu prendia. Andei pela casa, procurei pelo quarto dos garotos. Encontrei uma mochila e coloquei alguns pertences que encontrei.

Voltei à sala, ajudei Oliver a levanta-se. Seria melhor que os membros da Ordem pensasse que ele simplesmente sumiu.

- Minha estaca e minha pistola?!

- Só devolvo se me garantir que não vai usa-las em si.

Com um suspiro pesado ele respondeu:

- Tudo bem.

Levei-o ao meu carro.

- Onde está Bruce? – perguntei, já dentro do Cadillac.

- Quando cheguei... uma vampira atacou. Não quero ficar assim eu não quero ser esse monstro... – Ele parava para pegar ar. - Ela transformou Bruce e eu.... e enquanto nosso corpo fazia a metamorfose ela matou nosso pais... Eu podia ter sido mais forte e lutado... e impedido. – A voz dele estava cheia de pesar e culpa.

- A conhecia?

- Não, só sei que era uma incorrupta e levou Bruce.

- E por qual motivo ela fez isso?

- Ela disse que meus pais tinha matado o marido dela... e que eles mereciam ver o que os filhos se tornaram antes de morrer... a maluca queria um novo marido também.

- E isso é verdade, seus pais mataram o marido dela?

- O marido dela deveria ser um corrompido... E ela parecia uma psicopata – explicou ele com fúria.

Passei a mão pela cabeça desnorteado. Uma catástrofe para os caçadores e um choque no juízo do rapaz.

- Eu não quero machucar... ninguém.

- Respire o máximo que puder para se acostumar.

Ele começou a respirar mais fundo.

- Estela? – questionou.

- Ela era totalmente diferente de qualquer um.

Oliver remexeu na mochila e retirou um boné.

- O boné do Bruce – ele comentou.

Percorremos o percurso de Velásquez até Antunes. No momento estava estacionando numa esquina perto da Castelo. Entregue o molho de chaves da loja a ele.

- Pra que isso?

As luzes da loja estava apagadas, provavelmente Lize já tinha ido.

- É ali. Saia logo cedo amanhã e me espere aqui nessa esquina. Vou ver se arrumo um lugar pra você ficar. Lize não pode te ver.

*

No outro dia nenhum sinal dele na esquina que indiquei. Verifiquei toda loja procurando vestígios de sua estadia, mas parecia que ele nem havia entrado no estabelecimento. Procurei-o pela cidade a noite e não obtive êxito. Não queria perguntar a Lize se ela tinha visto algo incomum em Antunes.

No dia posterior decidi procurá-lo pelo dia, um vampiro recém-transformado não teria experiência para conhecer muitos esconderijos da luz solar. Vaguei por horas pelos bairros e o encontrei jogado ao chão embaixo da sombra de uma árvore com a mochila sob a cabeça e uma garrafa de bebida alcoólica na mão.

- Oliver... Oliver... – o chacoalhei.

- Hum – resmungou.

- Por que fugiu?

- Foi difícil resistir ao cheiro – disse, abrindo os olhos.

- Lize, você viu a Lize, num foi? Ela chegou logo depois de mim...

- Vi! Eu ia entrar, mas a vi saindo e depois sendo atacada por um corrompido.

- Meu Deus!

- Eu tinha minhas armas e a salvei. Mas o sangue dela tinha um cheiro tão bom...

- O sangue dela... Isso foi incrível não sei como conseguiu resistir.

- Lembro muito bem dela, parece a mesma. Eu não vou machuca-la, nunca poderia.

Senti verdade no que ele disse, eu poderia confiar nele.

- Você promete? Tem uma floresta aqui perto você pode...

- Prometo. Eu não vou ser um monstro.

- Vou confiar em você, e você pode trabalhar na loja até conseguir se aceitar. Você ainda tem muito a viver jovem. Agora vamos.

**

"Surpreendentemente" a foto de meu grande amor reapareceu na mesa de cabeceira noite passada. Estendi a mão para pegá-la e não cansava de olhar para a linda moça da fotografia. O sorriso que ela esbanjava em seus lábios recordou-me do oposto que expressava minha querida sobrinha.

Lize estava triste com a ida de Oliver. Ela ficava o tempo todo com um casaco, um pouco folgado em seu corpo, que eu tinha certeza que vi o rapaz usar.

Entretanto, eu não conseguia perdoa-lo, tinha confiado muito nele e achado que era forte o suficiente para resistir a sede. Mas ele não era mais o mesmo e vampiros eram impulsivos e traiçoeiros.


E ai leitores o que acharam?

VAMPIRE HUNTERWhere stories live. Discover now