xxxiv. voz da lua

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você sabe que nunca fui muito religiosa

mas a religiosidade em abraçar seu corpo

com o mesmo formato que o meu

consome minhas madrugadas

e me fisga

os pensamentos

— odeio cerveja

mas amo seus lábios

&

pego-me cultuando pessoas de mármore

e estátuas de carne

de toda divindade que nunca existiu

antes & depois de cristo

te carrego como chiclete na sola do sapato

quero tirá-lo dali

salvá-lô dali

mas tenho medo de só piorar a sujeira

&

temo que nunca poderei mostrar carinho,

principalmente por mim mesmo,

ainda assim suas mãos aveludadas selam

minha pele

e minha mente afiada parece

ferir-te com o sangue

que respinga de meus olhos

&

agora meus braços estão vazios

me dou um abraço de despedida

por tudo que deixei se perder, deixei-te perder,

todas as minhas manhãs são azuis e

minhas tardes violetas,

às vezes violentas,

pego-me pensando em seus carinhos,

será que ele gosta do seu cheiro tanto quanto eu? te entende tanto quanto eu? te escuta tanto quanto eu? te respeita tanto quanto eu? te acompanha tanto quanto eu? te anseia tanto quanto eu? te olha tanto quanto eu? te instiga tanto quanto eu?

uma vez você me disse que minha pintura

era a mais bonita e só consigo pensar

em todos os quadros que não pintei

com a cor de seus olhos

por culpa minha nossa viagem já tem fim antes mesmo da partida

e não culpo-te,

faltaria algo

anomia // poesia (ii)Where stories live. Discover now