Capítulo XXI - Laços

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         Ao acordar, as cores a serem vistas pelas finas janelas já eram outras. O laranja queimado, ainda que singelo, indicando o fim do entardecer havia sido substituído por um negro tom de azul, profundo. Tão profundo quanto às relações que ali estavam sendo mantidas e guardadas, a sete chaves, para que nada pudesse interferir novamente.

       Para Sasuke, ter sua rosa ali, consigo, era quase como se Deus estivesse sendo generoso demais. Em contrapartida, sabia que os pesos eram diferentes agora. Que ter Sakura e Daisuke, inteiramente em sua vida, exigiriam dele uma visão completamente singular e aberta para o que a vida tem de bom para dar. Oposto do que foi ao lado de Karin. Anos de trevas, malignas e dolorosas que o fizeram carregar um olhar cansado e, de fato, triste, pelo homem que se tornou.

              Hoje, abrir os olhos, ver aquele corpo pequeno e delineado, buscando conforto e real amor no seu, já o torna o homem mais feliz do mundo. Levantar-se era a tarefa mais difícil, mas por um motivo bom agora.

"Seu cheiro é maravilhoso... Por que me enfeitiça constantemente, Sasuke?" Aquela doce voz ecoou pelo quarto. O moreno lançou um sorriso singelo, enquanto os braços da pequena acariciavam o seu peitoral, em uma gesto lento.

"Acho que confundiu sobre quem enfeitiça quem, amor." A vez de sorrir foi dela, lançando mais um beijo delicado nos lábios do médico, quase que em agradecimento. Sentou-se na lateral da cama, retirando as mãos dele e deixando à mostra suas costas ainda muito magras. Ela mordeu o lábio só em pensamento do que acontecera naquela cama poucas horas atrás e logo tratou de enrolar o lençol por sua cintura, como tentativa de livrar sua mente de mais pensamentos impróprios pra aquele momento. "Ei..." O homem chamou.

"Diga, antes que eu mude de ideia sobre um novo banho." Ela brincou.

"Também estou pensando nisso. E em algo mais..." O comentário fez com que o rosa mais uma vez chegasse às bochechas da pediatra.

"No quê?" Perguntou.

"No quanto eu amo você."

        Nesse exato momento, os olhares de ambos se travaram, como se toda a emoção arrebatadora que quase era possível tocar entre os dois, fosse lançada em direção ao centro de suas almas. Em uma conexão tangível e necessária de existir. Era o laço entre eles que não poderia quebrar.

"Eu também, demais." Respirou fundo. Como a dor de uma facada, quebrou o olhar para que pudesse se levantar, já que o banho era preciso, estava tarde. Sasuke se apressou, levantando da cama. "Sasuke!" Ela sorriu.

         Poucos segundos depois, os braços dele estavam envolvidos carinhosamente ao redor dela, levantando-a acima e colocando-a sobre o ombro com cuidado, brincalhão. "Sasuke, me bota no chão, o que pensa? Olha, eu te amo muito, mas..." Ele mexeu mais uma vez com ela sobre os ombros, que teve como resultado mais risadas e gritinhos.

"Deixa eu tomar banho contigo?" O olhar de pidão, mais a atmosfera já aquecida que foi criada naquele espaço fez com que qualquer sinal de negação sumisse, evaporasse. Ela queria estar com ele, queria explorar seu corpo e deixar ser explorada, apenas por ele. Já havia se passado tempo demais separados para que essas almas continuassem da mesma forma. Precisavam do movimento e do calor. Estavam vivos. Amando.

[...]

"Eu quero pizza, papai! De calabresa. Uma bem grande!" Disse o dono do outro sorriso mais lindo de se ver, agora estava presente na casa. Daisuke andava animado com seu brinquedo, enquanto o pai permanecia no telefone, observando tal agitação contente e pedindo justamente o que ele dissera.

       A dor no coração do pequeno menino foi acalentada ao ser compartilhada com alguém. E não apenas um alguém, mas aquele alguém que lhe passou segurança e paz. Sakura também observava a felicidade dele, com um sorriso discreto, porém, de grande importância. Era o sorriso que esboçava toda vez, contidamente, quando um paciente saia totalmente saudável da sua clínica. O sorriso também de um pai ou mãe que respira aliviado em saber que o peso a ser carregado pelo filho é menor ou, felizmente, nulo.

            Tais momentos de felicidade, embora poucos, são os que deveriam ser apreciados com mais afinco, justamente por não saber quando o teremos de novo. Porém, no caso dos Uchiha, tendia apenas a melhorar, desde que a dor estava indo embora, lentamente, mas estava. Eventualmente, seria um caso de felicidade que não se restringia apenas a pequenos momentos, mas sim a uma vida inteira.

"Ele parece bem melhor. Devo isso a você, Sakura." O moreno falou, deixando o telefone de lado após o pedido para o jantar da noite. Exalou lentamente, enquanto a dita caminhava em sua direção, despretensiosamente, acalentando-o com um sorriso tímido.

"Você é um pai incrível, sabe disso. Eu fiz e vou continuar a fazer o que devo. Quero ver os dois bem, felizes."

"Você também, mocinha... Não esqueça desse rosto lindo que me faz feliz." Abraçaram-se e o pequeno logo veio.

                      Esqueceram de mães abusivas, psiquiatras sem limites, tribunais... Tudo que fosse inquietar a mente e tiraram aquele momento, aquele único momento, para respirar. Viver como uma real e forte família que haviam, de fato, se tornado, diante do grande laço que se formou. 

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⏰ Last updated: Jan 20, 2018 ⏰

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Just One More Day (SasuSaku)Where stories live. Discover now