Momentos bons apagam momentos ruins.

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(Tomaz)

Faz alguns dias que não tive notícias da Bianca. Fico tentado a aparecer no seu apartamento, mas não quero ser muito invasivo. Ela disse que me ligaria assim que fosse fazer algum exame. Espero que ela não tenha esquecido.

_Vamos sair, cara? Vai ficar em casa angustiado por notícias?_Fábio tenta pela milésima vez me chamar pra visitar uma boate na cidade.

_Não estou no clima. Curta a noite, amigo.

Ele assente e vai embora. Não deixei ele levar o carro pois sei que uns poucos copos de bebida alcoólica ele vai ingerir. Ele é moderado, mas direção não combina com bebida. Estou encostado na varanda do apartamento observando a noite linda que está hoje. Uma saudade fora do comum me acomete. Meus pensamentos são interrompidos pelo toque do meu celular. Ao olhar o visor, vejo que não é um número salvo. Atendo.

_Alô?

_Tomaz, oi._É a voz dela, da Bianca._Desculpe ligar essa hora...

_Não, não peça desculpa. Ligou em boa hora. Eu estou com saudades._Digo eufórico, logo escuto seu suspiro pesado._Saudade da Julinha e de você também.

_Só queria avisar que irei ver como está a nossa filha amanhã. Tenho consulta marcada às 8hrs. Você quer me acompanhar?

_Sim, quero muito._Nem me dei conta que respondi rápido demais._Você está bem? Está se cuidando? Tomando água e comendo bem?

Ouço sua risada e meu coração parece querer pular pra fora do peito. Será que essa mulher não percebe o quanto sou louco por ela?

_Estou bem, Tomaz. Te espero amanhã aqui na hora marcada. Tenha uma boa noite.

Logo a ligação é encerrada e meu coração começa a doer. Essa rejeição dela não é só por ela ter alguém, mas sei que é um tipo de castigo. Ela quer que eu sinta como é ser rejeitado por alguém que ama. Ela está certa em querer me fazer sentir. Só que nada disso vai adiantar se ela não perceber que é ao meu lado o lugar dela. Lembro-me nitidamente do tempo em que fui um cretino estúpido.

Flashback on:

Saí do trabalho muito antes da hora prevista. Ajudar meu pai a tocar as várias empresas automotivas da família me custa muito. E eu não tenho saco pra nada. Só quero beber, beber muito. Beber até cair, até perder os sentidos.

_Quer mais um pouco de tequila?_A garçonete pergunta pela milésima vez.

_Isso... Tequila._Respondo embriagado._Tequila. Muita tequila. Depois whisky, por favor.

_Como quiser.

Pra não precisar sentir tudo que venho aprisionando, eu bebo. Bebo porque não tenho mais minha filha. Bebo porque sou um verme por não ter comparecido ao enterro da Nathalie. Bebo por não conseguir dizer uma palavra de amor a minha esposa, que deve estar me esperando pra jantar. Bebo porque não consigo olhar pra minha mulher e não lembrar da minha filha. Se sou um estúpido? Sim. Cretino? Muito. Insensível? Não, isso não. Eu só sou um covarde que tenta afogar a dor em um copo de bebida todos os dias pra aguentar a saudade da minha filha.

_Aconselho o senhor a ir pra casa. Ligarei para um de seus amigos. Dirigir é perigoso._A dona do bar avisa, mas estou muito bêbado pra responder.

Escuto ela falando com o Estêvão, um amigo da faculdade que mora perto. Logo depois tudo fica escuro, acho que cochilei no balcão. Sou despertado por umas chacoalhadas um pouco bruscas.

_Eu não sei quando você vai parar de beber dessa forma, Tom._É a voz de Estêvão. Não quero responder._Vamos, vou dirigindo seu carro.

Estêvão me levou até em casa. Chamou a Bianca e então a mesma apareceu. Eu via duas dela, e a imagem estava muito distorcida. Sinto o vômito subir a garganta e então não consigo segurar.

_Obrigada, Estêvão._A voz da Bianca está muito longe._Daqui em diante eu cuido do meu marido.

Depois de vomitar, sou ajudado por alguns funcionários. Não lembro o nome deles, mas sei que trabalham pra mim. Sou deixado em cima da cama, de todo jeito. Sinto as mãos da Bianca tentando tirar minhas roupas, isso faz meu corpo esquentar e minha pior reação aflorar.

_Não me toca._Brado com a pior das vozes._Eu tomo... Banho só. É. Eu consigo. Sai.

Consigo ver um pouco do seu rosto, decepção é clara. Ela não fala nada, só se retira do nosso quarto. Nosso quarto. Quarto que há muito tempo deixou de ser nosso ninho de amor. Sigo pro banheiro com muita dificuldade, preciso de um banho. Preciso de mais bebida pra esquecer o que estou começando a sentir. Droga de rato eu sou!

Flashback off.

Esses momentos eu não posso me esquecer jamais. São esses momentos que me dão força pra lutar ainda mais pela mulher que amo. Pela minha amada e pela minha filha. Eu fui um crápula, um homem que realmente merecia perder a mulher que ama. Mas eu mudei. Não é motivo suficiente pra merecê-la, confesso. Mas é motivo suficiente pra insistir em tê-la novamente, pra conquistá-la. Eu a amo, eu a amo mais que tudo. E usarei momentos bons atuais para apagar momentos ruins do passado. Pego o celular e ligo pra uma floricultura requisitada. Encomendo as flores prediletas da Bianca e mando entregar em seu apartamento amanhã pela manhã. Exigi que no cartão só tivesse as iniciais do meu nome, nada mais. Tenho certeza que os girassóis vão fazê-la sorrir, vão melhorar um pouco sua manhã. E também vão provar que mesmo tendo sido um idiota por tanto tempo, eu não esqueci de nada. Eu nunca esquecerei de nada. De nenhum detalhe.

***

A pergunta desse cap é: Você perdoaria o Tomaz? Por quê?

Quero geral deixando suas opiniões ✌😍

Até o prox cap💋

Tentando recomeçar - Duologia Recomeço  Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz