A TORRE DE ARCÉH (PARTE 1)

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#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se a deusa outonal, Yubay, sentada em um trono de folhas e de cipós, com vagalumes ao redor de tudo

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#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se a deusa outonal, Yubay, sentada em um trono de folhas e de cipós, com vagalumes ao redor de tudo.

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MESMO ABANDONADA E JOGADA À PRÓPRIA SORTE FRENTE A SECA DOS ÚLTIMOS DIAS, A ESTUFA DE NAUS AINDA MANTINHA TRAÇOS DE SUA BELEZA. Quem chegava pela ponte e olhava em direção às colinas podia ver os vestígios da outrora "joia dos arcéh". A estufa, construída para poder ser vista de todos os cantos da cidade, fora tomada por plantas e se transformara em um labirinto verde. O ferro retorcido da estrutura estava coberto por ervas e dava a impressão de que os galhos brotavam da ferrugem. Nas paredes carcomidas pelo tempo, as plantas se embrenhavam até o teto e formavam cortinas naturais. Muitos comparavam a estufa à uma espécie de catedral dedicada à Natureza.

"Natureza..."

O pensamento fez Yubay fechar os olhos e suspirar.

Aquela cena durante o Conselho não ficaria sem troco. Reconhecia o próprio erro, sim, mas jamais recebera palavras tão duras. Não era uma deusa qualquer para ser tratada daquele jeito. Os Anciãos lhe deviam muito para a ignorarem. No Princípio, quando os Grandes se reuniram e começaram a forjar os humanos, a obrigaram a se entregar ao Vento com o objetivo de engravidar. Assim, por causa dela, foram forjados os pilares da magia.

Yubay passou a mão pela barriga. Sentia falta de sua Déa. Cultivara aquela raiva por muitos milênios e ela só se intensificara nos últimos séculos. Estava na hora de fazer algo a respeito. A figura da Anciã de cabelos rubros tomou seu alvo. Sim, ela mostraria à Celbo. Banharia o mundo com o sangue dos seus queridos humanos para combinar com o cabelo da Natureza. Primeiro, mataria Gyen e a menina. Depois, cuidaria de Ladel e reivindicaria a posse da magia de Déa. Por fim, a Anciã teria uma resposta à altura. Já estava na hora de certas coisas mudarem e novos poderes virem à tona.

Yubay seria a nova Natureza.

Sentada em um trono de cipós e perdida em devaneios, o Outono esperava a hora certa para agir. Conhecia bem a lenda da Nyrill e sabia o significado daquela estufa para os arcéh. O plano seria muito simples: por uma noite, ela seria a Nyrill e surgiria em toda a sua grandeza no alto da colina. Viria como uma salvação contra aqueles tempos difíceis. Caminharia em meio ao povo, saudada e aplaudida; muitos ousariam até se aproximar, cuidadosos, surpresos por tamanha aparição. Os sinos tocariam, os choros de alegria seriam sua canção e em pouco tempo Arcéh estaria ao lado de sua "lenda" para enfrentar Gyen e Ladel.

"E eu terei uma nova primavera.", pensou. "Uma primavera sob o meu controle..."

Seus devaneios foram interrompidos por uma saudação repentina...

— VIVA! VIVA A NYRILL DE ARCÉH!

O grito encheu a estufa ao mesmo tempo em que uma flecha escura cortou o ar e acertou o trono pouco acima do ombro direito da deusa. Descendo as escadas do segundo andar, Ladel vestia uma casula* branca e tinha o rosto coberto pela máscara dourada de olhos e sorriso vazios. Parou no último degrau e tornou a disparar.

O Bailarino de ArcéhOnde histórias criam vida. Descubra agora