Capítulo V - A Casa do Bosque

84 14 11
                                    

     Quando Luciel era pequeno, Christine, sua mãe, sempre o levava para casa da sua avó. Havia anos que não ia àquela casa. A trajetória foi fácil de ser lembrada, a casa se localizava fora da cidade, em um bosque. Sua mãe lhe contava que sua avó gostava do ar livre, de ficar longe da poluição e das pessoas, ela amava a natureza. Para chegar até lá, um grande percurso teria que ser feito por dentro da mata. Por ali havia muitas árvores, umas tão grandes que conseguiam cobrir a luz do sol, algumas tinham tantos cipós que pareciam ser longos cabelos pendurados pelas copas, outras possuíam troncos totalmente desengonçados. Ao passar por alguns arbustos, as folhas úmidas o deixavam mais molhado do que a própria chuva tinha feito.

     Enfim chegou ao seu destino, a casa rústica estava diante dos seus olhos. Sua mão foi diretamente à maçaneta, porém a mesma não se abriu. A porta estava trancada como havia imaginado, mas isso não o fez desistir, se recordou que sua mãe sempre pegava a chave embaixo do tapete, só que agora, ali não existia mais nenhum tapete, onde deveria estar a peça escrita "bem-vindo" havia apenas grama. Com o tempo a vegetação cresceu e ele acabou se tornando parte do solo. Por causa da chuva, a terra estava úmida, então Luciel aproveitou essa oportunidade e começou a cavar em frente à porta onde deveria ter um tapete. Finalmente a chave foi encontrada, estava um pouco enferrujada, mas sem dúvidas ela ainda servia. Ele colocou a chave na fechadura e girou, os trincos foram destravados e a porta foi aberta fazendo um rangido em sinal de que estava muito velha. Imediatamente suas mãos correram na parede ao lado da porta procurando por um interruptor, quando seu dedo o achou ele apertou o botão mas as lâmpadas não se acenderam. Então se lembrou que havia um gerador no galpão na parte de trás da casa. Mesmo cansado, foi até lá. O gerador era comum, o dínamo que se localiza no interior da turbina era um aparelho que gerava corrente contínua. Para funcionar, dependia da indução eletromagnética. A turbina era movida a gás e após Luciel puxar a corda, ela começou a girar o dínamo convertendo a energia mecânica em energia elétrica, transmitindo, assim, energia para toda a casa.

     Ao entrar novamente na sala a luz estava acessa, alguns insetos foram revelados como cupins e baratas, mas a casa estava intacta, igual como se lembrava quando era criança, tirando a poeira e algumas teias de aranhas. Quando teve a certeza que aquele seria o seu refúgio ele fechou a porta e girou a chave travando os trincos, colocou o paletó no sofá e se jogou ali mesmo. Sua cabeça não parava de latejar, era uma dor insuportável. Mas não era só isso que doía, seu coração sangrava por dentro, era como se estivesse em pedaços. A dor de perder alguém que você ama é algo insuperável. Luciel resolveu ficar deitado no sofá por um tempo até sua dor de cabeça amenizar. Após uma madrugada em claro, seu corpo já mostrava sinais de cansaço e ele acabou cedendo ao sono. O descanso não foi longo, dormiu apenas três horas, mas foi o suficiente para aliviar sua pressão na cabeça. Agora era hora de dar uma geral naquela casa. Depois de encontrar os produtos de limpeza, pegou a vassoura e começou a remover todas as teias de aranhas, em seguida varreu a casa, pegou um tecido velho que estava sobre uma mesinha da sala e o fez de pano de chão. Logo depois de ter varrido e passado pano no chão da casa toda, era a vez de limpar a poeira dos móveis. A casa não era tão grande, eram apenas quatro cômodos; sala, cozinha, banheiro e quarto. A arrumação demorou algumas horas, mas valeu a pena porque a casa ficou impecável, agora só faltava uma última coisa a ser limpa: ele mesmo.

     Por sorte Luciel não teria problemas com a água, pois a casa era abastecida por um rio que havia ali perto, era possível ouvir o som da água correndo pelos canos semi enferrujados. Depois do seu merecido banho se enrolou em um pedaço de pano que encontrou enquanto arrumava a casa foi até o quarto, ao abrir o armário para procurar alguma peça de roupa, notou que só havia colchas e lençóis, "Ué, cadê as roupas?". Talvez sua mãe tenha doado para alguma instituição de caridade. Aquilo não importava, naquele momento ele só queria se deitar na cama. Antes de ir dormir foi até a sala conferir se a porta realmente estava travada, olhou bem as janelas para certificar-se de que estavam bem trancadas, tudo parecia seguro, então apagou as luzes e se dirigiu até o quarto novamente. Tomou um lençol para se cobrir, fechou a porta do quarto e deitou na cama à espera de um outro dia, desejando que aquilo tudo fosse apenas um terrível pesadelo.

Uma Nova Escuridão - As Crônicas dos GuardiõesWhere stories live. Discover now