Capítulo VI - Subterfúgio

82 10 12
                                    

Luciel entrou pela passagem, o lugar estava um breu, como imaginava, e a lamparina lhe serviu muito bem. A escada espiral e a parede eram construídas de pedra, parecia uma espécie de calabouço. Ele descia as escadas vagarosamente com medo de pisar em algo e ativar alguma armadilha, pois nunca se deve confiar em construções antigas. Após descer as escadas, chegou numa espécie de corredor estreito que estava coberto de teias, havia alguns insetos como aranhas e baratas. No final, encontrou uma porta de ferro e ao abri-la deu direto a uma sala, ela não era muito pequena e no centro havia uma mesa rústica. Ao se aproximar dela, colocou a lamparina sobre o móvel para iluminar o local, o ambiente a sua volta estava coberto de poeira e teias. Na mesa havia alguns papéis que eram diferentes, como se fossem feitos de algum tipo de planta, como o papiro do Egito Antigo, e não parava por aí, tudo estava escrito com uma linguagem totalmente estranha. Alguma coisa ali poderia conter as respostas que Luciel tanto buscava. Mas como poderia descobri-las se não conseguia entender aquela língua? Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida violenta contra sua porta, imediatamente seu coração começou a bater acelerado, ele pegou a lamparina da mesa e subiu as escadas correndo. Aquele calabouço não poderia ficar aberto e, antes de abrir a porta, puxou aquele livro antigo de madeira da estante, fazendo com que ela voltasse ao lugar, assim, cobrindo a passagem novamente. No mesmo instante que corria até o quarto com o livro de madeira na mão, ouviu mais uma batida em sua porta e isso o fez se apressar para guardar o objeto embaixo do colchão.

Pensando no que iria dizer dessa vez aos policiais, com o coração palpitando e suando frio, foi até a porta para destrancar a fechadura. Quando a abriu estranhou, não havia ninguém, ali só tinha matagal. Aquilo foi super esquisito: "talvez os policiais tenham dado a volta". Luciel foi até o galpão e nada, não havia ninguém: "como eu não percebi que esse mato havia crescido? Devo ter ficado muito tempo dentro de casa, só pode!". Nesse momento algo se prendeu em suas pernas, eram vinhas de cipós, ao tentar se mexer foi puxado para dentro do matagal. Enquanto estava sendo puxado, tentava se segurar em qualquer coisa que visse em seu caminho, desde pedras a plantas, mas isso foi inútil. Depois de ser arrastado até chegar num local cheio de árvores, tentou se levantar o mais rápido possível mas seus outros membros foram pegos por vinhas de cipós, quanto mais se debatia tentando se soltar mais apertado aquilo ficava. De dentro da mata surgiu uma planta carnívora, ela era grande o suficiente para consumir um cavalo ou um homem, caso estivesse com muita fome. Sua estrutura era como de uma planta normal, a diferença é que essa andava, era lenta e se atrapalhava ao se mexer. Seu corpo era formado por um conjunto de caules que formava uma espécie de tronco para poder sustentar seus dois lóbulos que eram como uma mandíbula e possuía dentes que destilavam um líquido esverdeado. Não demorou muito para Luciel ficar completamente enrolado naquelas vinhas de cipós, como um casulo. Enquanto se debatia inutilmente, a criatura se aproximava abrindo a boca para devorá-lo.

Então era isso? Sua mãe havia dado a vida por ele, para ele virar comida de planta? Não importava mais, o medo já não passava por sua mente, era o momento de fechar os olhos esperando pelo seu fim. Mas sua despedida desse mundo foi encerrada quando ouviu o som de algo se chocando contra a criatura. Luciel, de dentro do casulo, pode ouvir a criatura berrando em agonia, logo em seguida, percebeu algo se aproximando pelo som de passos nas folhas do chão:

- Não se mexa! - Alguém encostou no casulo, sua voz era grave como de um jovem adulto. O rapaz cortou os cipós com uma faca para libertá-lo.

- Quem é você? - Perguntou Luciel um pouco assustado por ter sido salvo por alguém mais alto e forte que ele, além de estar usando um capuz e uma máscara.

- Isso pode esperar, a criatura não vai ficar atordoada por mui... - Uma vinha de cipó se enroscou na barriga do rapaz, fazendo com que ele fosse puxado para trás e arremessado no ar.

Uma Nova Escuridão - As Crônicas dos GuardiõesOnde histórias criam vida. Descubra agora