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A vida depois que você sai da casa dos seus pais é um verdadeiro caos, principalmente se você saiu da casa dos seus pais e não foi pra ir morar nos dormitórios de uma universidade, e as vezes eu me pergunto por que eu não me candidatei a uma universidade e achei que a carreira de modelo teen  vingaria, e adivinha... Não vingou, e na verdade 'ta mais no fundo do poço do que nunca. 

Depois que você atinge a maioridade e sai da casa dos seus pais você é obrigado a  lidar com todo tipo de problema possível, e isso não é brincadeira, você precisa arrumar um emprego, pagar contas, aluguel, lidar com um gerente levemente filha da puta do seu banco, fazer economias pra caso você precise de um médico, lembrar de fazer compras ou você vai viver a próxima quinzena de macarrão instantâneo, lavar as roupas porque eu garanto que as pessoas vão te olhar estranho na rua se você não lavar, vizinhos loucos, uma cadela desgraçada que faz coco todos os dias na porta da sua casa e é claro, você esta do outro lado do país e longe de qualquer tipo de ajuda familiar.

- Bom dia Savy!- Sr. Mileston diz indo pegar seu jornal na frente de casa.- Ah, Ruby fez  cocô na frente da sua porta de novo?

Forço um sorriso enquanto arrumo minha postura pra olhar o homem de 50 anos do outro lado da rua, Sr. Mileston e seus roupões divertidos de bichinhos e sua cadelinha infeliz que insiste em me odiar e mostrar isso deixando seus rastros na porta da minha  casa.

- Parece que sim.- Digo ironicamente.- Acho que vou ter que passar as noites acordada vigiando a entrada da minha casa.

O homem da um sorriso sem graça, acena e retorna a sua casa.

O lugar mais barato que achei pra viver foi num bairro de idosos, parece estranho dizer isso, mas pelo  menos 90% dessa vizinhança é de gente velha, alguns ainda moram com esposas ou maridos e alguns tem animais como companhia e a maioria passa os fins de semana sozinhos, pois são velhos demais para que os filhos se lembrem de que eles existem e são pessoas que gostam de pelo menos uma ligação de um familiar, principalmente se o familiar for quem eles colocaram no mundo.

Depois de pegar o cocô de Ruby do meu capacho, o despejo na lata de lixo e volto pra casa, pois mais um dia de desempregada é mais um dia em  que preciso procurar um emprego que me queira, não é possível, em algum lugar tem uma empresa procurando funcionários.

Meus amigos do ensino médio nesse momento estão na faculdade, ou formados, eu sou uma mulher de vinte e oito anos sem um diploma e sem um emprego, talvez eu devesse ter feito a aplicação pra alguma faculdade, quem sabe eu não estivesse pobre e desempregada.

O celular toca em cima da mesa de madeira no meio da sala de jantar e eu ja imagino quem seja, essa mulher me liga todos os dias dizendo que paga a minha passagem se eu quiser voltar a Miami, o porem é que eu não quero. Caminho em direção ao  aparelho vibrando sobre a madeira, me aproximo do móvel e o alcanço, deslizo o dedo sob a  tela atendendo a chamada e levo o celular até próximo do meu ouvido.

- Bom dia querida!- Minha mãe diz docemente, com aquele humor matinal que eu não sei como ela consegue ter.- Como você esta?

Digo que esta tudo ótimo e arrumei um emprego incrível ou sou verdadeira e digo que continuo na estaca zero e sem  saber como construir uma escada até o um? Vou ser verdadeira.

- Bom dia mãe, estou bem  na medida do possível e a senhora?

- Eu ainda não sou uma senhora, Savy!- Convenhamos, é sim!- Não conseguiu nada ainda?

- Eu estou tentando mãe...- Tento a reconfortar.

Caminho calmamente até o sofá de listras brancas e azuis mofado na sala e me sento, sentindo aquela crise antes dos 30 vir. Como é possível uma pessoa de 27 anos não ter conquistado nada na vida a não ser uma casa com móveis velhos? 

- Savy você sabe que tem um cargo ótimo na empresa dos Boss te esperando, não sabe?

- Eu sei!- Respondo sem muita esperança de que sairemos desse  assunto.- Mas mãe eu estou tentando fazer algo além dos Boss, eu não realizei o meu sonho, me deixe pelo menos concertar a minha vida sozinha.

Ouço um suspiro do outro lado da linha, sei bem o que ela está pensando, as vezes eu penso a mesma coisa, é meio auto-depreciativo mas é real.

- Querida, quando precisar não hesite em voltar para casa.- Minha mãe diz derrotada.

Voltar pra casa significaria desistir e eu não estou pronta pra essa decisão, não estou pronta pra pegar o primeiro avião para Miami e cair nos braços carinhosos e acolhedores dos meus pais, embora fosse a opção mais facil.

- Não irei mãe.

Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, tenho certeza que ela está pensando que mais um dia ela me ligou para tentar me fazer voltar pra casa e mais um dia ela falhou, não é culpa dela, eu é que preciso quebrar a cara mais algumas vezes pra entender que meu lugar é lá.

-  Seu pai já foi trabalhar.- Luana  começa.- Também irei, até amanha querida.

- Até mamãe, bom trabalho.

E o barulho da respiração calma da minha mãe é substituído pelo som insistente do celular, indicando que a ligação acabou.

Eu não posso mais continuar dessa forma, sem um único sonho que possa ser alcançado agora, sem um objetivo na vida e tirando cocô de cachorro da minha porta todas as manhãs, não posso mais viver num bairro de idosos e ficar como eles, com todo respeito, os senhores e senhoras que moram aqui são tristes, solitários e pessoas que não se dedicam a aprender algo novo, mas eles tem mais de sessenta, eu nem cheguei nos trinta. O que eu estou fazendo?

Abro o app de mensagens e entro nas conversar com Liv, a  única amiga que me restou desde o ensino médio e a única que veio para Cleveland comigo. Graças a Deus Liv trabalha em uma corporação bem grande, tipo nível mundial, cujo dono precisa de uma babá bem forte e corajosa pra ficar com as duas filhas dele, o homem é podre de rico então o salario será muito bom e os benefícios também, se ele confiar em mim sei que vou conseguir ficar muito tempo lá, tempo o suficiente pra concertar e mudar de vida.

Digito tão rápido quanto a velocidade da luz uma mensagem a minha amiga, que responde tão rápido quanto me alertando pra ir lá o quanto antes com um portfolio, pois ele está fazendo a seleção hoje!

Vamos lá, o não eu já tenho!

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Bem vindos a nova versão de Querida Babá! 

A ultima era a minha maior vergonha como autora, e por isso irei refazer, agradeço quem continuar nessa aventura comigo!

Até...

Querida Babá (Reescrevendo)Where stories live. Discover now