5. Áries

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Quando o silêncio ficou insuportável, eu coloquei meus fones, respeitando a privacidade do resto das pessoas que moravam naquele apartamento. Fechando os olhos, eu tentei me acalmar, mas foi impossível. Uma hora depois, algumas batidas na minha porta e outras tentativas de abri-la foram o suficiente para eu abandonar meus fones e ir como um leão abrir. Lola estava com um sorriso tímido do outro lado.

- O que foi?

- Eu ia te contar, é só que...

Ergui minha mão aberta na direção dela, impedindo que ela continuasse.

- Não quero ouvir. Não quero nem conversar com você agora, Heloísa. Ou você sai da minha casa, ou você pode fazer bom proveito do Davi.

- Julia, você tá sendo muito injusta. - Ela murmurou, os olhos úmidos.

- Eu? Você não contou que estava transando com o meu irmão. E isso não tem uma semana, têm meses já! Vão fazer quase oito meses, Heloísa. Você não tem consideração nenhuma pelos outros? Pela sua própria amiga?

- Espera aí, Julia. Você nem quer ouvir o que temos para falar, não tá reconhecendo nem o seu próprio erro. - Davi se aproximou, envolvendo a cintura de Lola com seu braço.

- E qual é ele? - Coloquei as mãos na cintura, o queixo erguido na direção dos dois. - Qual é o meu erro?

- Você já parou para pensar que nós não tínhamos nada definido? Ou que simplesmente temos o direito de não falar nada para você? - Meu irmão ergueu a sobrancelha na minha direção.

- É claro. Eu sou a otária que divide tudo com vocês. Quer saber? Adeus. - Joguei meu fone em cima da cômoda ao lado da porta e passei pelos dois, guardando o celular e saindo de dentro daquele apartamento que pareceu sufocante demais de repente.




Acordei atrasada no dia seguinte, o que não me deu tempo de tomar café e não me deixou alerta o suficiente.

No dia anterior vaguei pelas ruas do bairro até escurecer e não falei com ninguém assim que entrei em casa. Davi provavelmente dissera alguma mentira deslavada para que nossos pais não descobrissem o que se passara conosco. Fiquei feliz que ninguém havia se dirigido à mim, de qualquer modo.

Não deixei de comer sozinha antes de dormir e só então percebi o quanto estava com fome. Toda a irritação e descoberta havia me desviado da fome.

Até o momento a Julia Ariana brigara com duas amigas, com a família e eu mal podia esperar para sair daquele corpo. Não havia experimentado dos outros signos e não sabia se realmente iria - ou se estava apenas sendo escrota com as pessoas -, mas com certeza sabia que qualquer coisa era melhor do que aquilo.

Passei as três primeiras aulas sem falar com nenhum dos meus três melhores amigos. Quando cheguei, eles já estavam conversando entre si sobre a tarde anterior de Carolina e eu não estava nem um pouco interessada em ouvir sobre mais uma de suas burradas, por isso continuei com meu fone.

Não era novidade que durante a troca de aulas eles ficaram de cochichos, me deixando de fora e passando a me irritar profundamente. Sabia que falavam de mim também, porque vez ou outra eu via um olhar em minha direção. O que eu fazia era apenas revirar os olhos ou retribuir com um semicerrar de olhos, fixando na pessoa que me olhava que logo desviava seu próprio olhar.

Enquanto me colocava na fila para comprar alguma coisa para comer na lanchonete do colégio, vi meus amigos se sentando em uma das mesas dispostas no refeitório, os olhares ainda sendo lançados para mim vez ou outra enquanto eles comiam suas próprias coisas trazidas de casa. Fiz o meu pedido quando chegou a minha vez e me recostei no balcão, esperando por ele e dando espaço para o próximo fazer seu próprio pedido. Assim que o tive em mãos, virei meu corpo e me choquei com outro.

Não Acredito Em SignosWhere stories live. Discover now