Prólogo

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— Sem dúvida você vai querer voltar nesse lugar. — Eric garantiu com um sorriso presunçoso pregado no rosto. — As mulheres daqui são de outro mundo.

E eu esperava que fossem realmente.

Depois de algumas histórias e a tentadora promessa de diversão garantida com bocetas inesquecíveis e um whiscky melhor ainda, Eric me convenceu a vir a este lugar.

Devia ser por volta das onze quando manobrei e estacionei o carro, uma Lamborghini Urus próximo à fachada da boate. O lugar não era muito bem localizado, e eu diria que muito pouco provável encontrá-lo ocasionalmente na periferia do Queens. A frente não era muito bem iluminada e a fachada não parecia indicar o que realmente acontecia lá dentro. Pelo menos era o que Eric havia me garantido. Belas gostosas; dançarinas impagáveis, sexo fácil.

Fitei a placa cujas letras liam-se "The Blue Room" na lateral da parede de entrada. As letras redondas brilhavam num tom de azul ciano quase discreto.

Deixei soltar uma lufada de ar, jogando a cabeça para trás, no encosto da poltrona confortável.

— O nome do lugar é quarto azul? — indaguei com um leve quê de ironia.

— Você nem imagina o porquê, mas deixa de ser idiota! — Eric bateu a porta do outro lado, depois de sair do carro. — E chega dessa conversinha besta. — Ele se animou do lado de fora.

Eric era o meu primo. Nós tínhamos um vínculo de sangue, amizade e negócios. Fomos criados como irmãos, porque os nossos pais eram irmãos e além disso, eram os Diretores das Indústrias Borden. Família e sociedade. Isso nos uniu da mesma forma que unia os nossos pais. Eric na minha casa. Eu na casa dele. Mesmo bairro. Mesma escola, mesmos amigos e inimigos. Mesmas brigas, porque compartilhávamos até mesmo dos ressentimentos.

Ele me conhecia melhor do que qualquer um, e seu melhor argumento era que depois de o cara ter uma semana de merda, ele merecia um pouco de distração.

Era isso ou virar a madrugada no escritório tentando pensar em como restaurar a empresa.

Então, que se dane! Conclui ao dar de ombros!

Abri a porta do carro, e a batida forte da música vinda de dentro da boate alcançou os meus ouvidos.

— Você não vai se arrepender... — Ele insistiu, muito animado em estar nesse lugar novamente.

Enquanto caminhava para a entrada, Eric puxou uma caixinha prateada do bolso de dentro de seu terno, e abriu a tampa, pescando dois cigarros e um isqueiro dela, fechando-a em seguida, para depois devolvê-la ao seu lugar na roupa.

— Nada melhor do que um baseado para esquecer dessa realidade merda. — Ele comentou, esticando o braço, entregando um deles para mim, para em seguida, levar o seu a boca, acendendo-o.

Eric tragou o cigarro e soltou a primeira lufada de fumaça, e então jogou o isqueiro no ar para mim. Eu o peguei e acendi o meu.

Não era como se eu usasse maconha sempre que algo desse errado, ou como se eu fosse atrás de algum fornecedor para consegui-la, mas Eric usava com certa frequência e vez ou outra, eu fumava também. Não costumava ser um refúgio da realidade. Mas hoje teria que ser, porque éramos homens na casa dos 25, com responsabilidades e pressão demais sobre nossas cabeças. Mas não era só isso.

O mundo tinha despencado nos nossos ombros depois que os nossos pais foram presos. Nosso nome estava na lama. Imundo de uma sujeira que mal sabíamos que existia. As Indústrias Borden estavam quebrando, e nos víamos descendo uma ladeira rumo à decadência. Nossas ações valiam menos do que banana na feira, ninguém queria fazer negócios com uma empresa que estava envolvida com narcotráfico, e mesmo que tentássemos nadar contra a correnteza, ainda éramos dois homens arruinados, pagando o preço pelos erros e pela ganância dos nossos pais.

Bela FraturadaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora