XIV

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DÉCIMA QUARTA CARTA – (O PRISSIONEIRO)

Após a partida de Pitter, Marinete aparentava confusa e nervosa ao ler as páginas do seu grande livro, sua testa escorria suor e não estava quente para isso, deveria ser o nervosismo que a fazia ter aquela reação, ela me olhou como quem esperava ter alguma ideia a mais, me chamou e acompanhei carregando as coisas que ela pedia, ela retirou do seu cordel a chave da cela e a abriu, pediu que eu a esperasse ali fora, fiquei parada esperando ela me chamar, mas em minha mente ainda tinha a imagem de Pitter e suas palavras "Espere por mim" ele não sabia o quanto aquilo me custaria, mesmo que a ideia de ficar ao lado dele mais um dia fosse maravilhoso eu não poderia me agarrar a isso, assim que o tempo melhorasse eu iria embora, pois a felicidade da minha família estava acima da minha. Afastei os pensamentos quando Marinete me chamou, entrei naquela cela e a primeira coisa que senti foi o cheiro de especiarias, não era algo que vinha dos seus chás ou receitas, era um cheiro quente e apimentado, eu não tinha sentido um cheiro tão intenso e forte, olhei para a cama e vi um homem deitado nela, seu rosto estava coberto por um lenço vermelho, os poucos cabelos que apareciam eram negros, assim como a sua sobrancelhas grossas, Marinete me pediu que eu chegasse mais perto e levasse a vasilha com trapos, a temperatura dele estava alta e precisávamos abaixar o mais rápido possível, coloquei as coisas que estavam em minhas mãos no chão e peguei o que ela pediu, cheguei perto da cama e ela retirou o lençol que cobria aquele corpo que vestia trajes estranhos, não era uma roupa de um soldado, não era roupa de um homem comum, suas roupas eram de panos finos, mas ao mesmo tempo eu duvidava que ele sentia frio com elas, só se tratava de um material diferente, não era lã, não era um tecido comum, era de cor viva, as suas mãos estavam enroladas com o mesmo tecido que lhe cobria o rosto, seu peito estava um pouco amostra e um adorno com pedras verdes estava em seu pescoço, parecia um cordão, mas era grosseiro de mais para ser um, alguns fios que fugiam do lenço me deu uma pequena ideia do comprimento dos seus cabelos, me surpreendi ao vê finas tranças entre eles, quem era aquele homem que desde o momento que chegou deixara todos naquele convento nervosos? Seus olhos estavam fechados e um deles parecia uma grande ameixa roxa, Marinete o destapou e tive a visão de seu corpo, apesar dos ferimentos eu puder vê que se tratava de um homem jovem, seus braços músculos e tórax largo indicava que ele tinha enfrentado muitas batalhas, Marinete o limpava e rezava junto, algo que era novo, ela nunca tinha feito isso com outros feridos antes.

Fiquei a auxiliando em tudo que ela pedia, minha curiosidade era grande, mesmo só vendo suas sobrancelhas, seus olhos deformados e nariz, eu queria ter a visão completa de quem era aquele homem tão precioso ao ponto de fazer Marinete suspirar de medo e rezar como uma verdadeira freira, eu sabia que ele era alguém diferente, porque, ele não era como o Duque, o capitão ou o meu pai, quem ele era? Eu estava ansiosa para descobrir quem podia causar tanto medo na madre e em Marinete, quem quer que fosse eu já gostava dele.

Só saímos daquele lugar na alta madrugada quando o corpo molhado de suor dele superou a febre, ao fechar a porta Marinete o xingou em tom baixo.

Maldito pagão.

Cai em minha cama cansada, mas ansiosa para saber mais sobre o novo "hospede" no dia seguinte eu vi Rose ser arrastada por duas freiras, às segui apavorada, o que estava acontecendo? O que Rose tinha feito?

Eu andava tão ocupada com as minhas atividades na masmorra que mal ficava nos corredores daquele lugar, minha obsessão por aprender as receitas daquele livro não me deixava com tempo para saber das coisas daquele lugar, entrei no refeitório e a madre estava sentada em uma das cadeiras, Tereza estava em seu lado como um cão de guarda, ela não falava alto, cochichava para a madre como quem lhe dava ideias sobre o que poderia fazer, todas as meninas da cozinha estavam em pé enfileiradas, dava para vê o pavor em seus olhos, Rose ficou diante da madre e ao se levantar da cadeira a mesma lhe deu um tapa que fez o seu rosto virar para o lado, meu sangue ferveu, como ela poderia fazer isso como a pobre e doce Rose? As lagrimas da minha amiga começaram a descer descontroladamente, até que aumentou ao ouvir a sua "sentença".

O Prisioneiro e a freiraWhere stories live. Discover now