Cul-de-Sac

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— Gigi, eu e seu pai estamos prontos. Tem certeza que não quer ir com a gente?

— Não vou.

— Sua prima ficaria tão feliz de ter você por lá...

— Já disse que não vou...

— Tudo bem, meu amor! Não irei insistir. Se precisar de algo, ligue para mim, certo?!

—...

— Até mais tarde!

Finalmente livre! Agora Giovanna pode fazer o que quiser sem a desagradável presença de seus pais. Eles nunca cumpriram direito seu papel social, então era inútil tê-los por perto. Certamente a TV, a internet ou até mesmo a música eram mais reconfortantes que o afeto familiar.

Uma vez viu um documentário a respeito de coisas como reencarnação e até a possibilidade de seres de outros planetas estarem encarnados como humanos. Não que acreditasse nessas bobagens, mas aqueles relatos... era como se lhe compreendessem. De alguma forma sabiam que não pertenciam a este lugar, assim como ela sabia.

Aproveitou que já estava com o computador ligado para assistir o primeiro episódio da nova temporada de sua série favorita.

Mal podia esperar para ver o que lhe aguardava até que... a luz piscou. Já estava na metade do episódio eletrizante e com certeza perdeu ótimas cenas no tempo que levou para ligar novamente o computador. Por um momento lembrou de um documentário paranormal que falava sobre a presença de espíritos em lugares onde a energia oscilava.

Mas que bobagem!

Sua mente realmente queria lhe distrair do que importava. Poucos minutos depois de voltar a assistir o programa, barulhos estranhos vieram do teto. Se pareciam com passos, mas quem iria andar sobre o telhado de uma casa? Eram altos demais para serem de um animal, e mesmo que fosse um ladrão, provavelmente não seria estúpido a tal ponto.

De qualquer maneira, vai verificar o que acontece. Abre a porta que dá acesso à varanda de seu quarto, mas não há nada de diferente. Um silêncio mórbido paira sobre a vizinhança até ser quebrado pelo toque estridente do telefone da cozinha. Por um momento hesita em descer as escadas. Mesmo a escuridão do andar de baixo não é mais incomoda que aquele toque agonizante que lhe motivou a fazer o que devia ser feito.

— Alô?

— Giovanna, meu amor. Me prometa que vai ficar calma!

— Pai? O que está acontecendo?

— Houve um problema! Estou indo para o hospital... foi a sua mãe... tudo vai ficar bem, tá legal?! — Sua voz era ofegante.

— O que houve com ela? Por favor me explique...

Não obtém resposta além do silêncio após o fim da ligação. Tenta retornar a ligação, mas ninguém atende. Talvez se usasse seu celular para ligar ocultando seu número. Sobe até seu quarto em passos ágeis. Tão ágeis que soam perfeitamente duplicados, como se alguém lhe seguisse.

Seu plano não dá certo e continua sem respostas quando se dá conta de que os passos estão ali novamente. Mas que besteira! Passos são insignificantes quando a vida de sua mãe está em risco! Desce as escadas rapidamente e ataca o telefone discando para sua prima.

— Alô? Sofia? — sussurra.

— Gigi? Por que não veio com seus pais? E por que tá sussurrando assim? — ri de leve.

— Não posso explicar agora. Preciso que me fale o que houve com minha mãe.

— Como assim? Sua mãe tá aqui bem ao meu lado. Quer falar com ela?

— ...

— Giovanna??? Filha?

— Eles estão aqui! Ligaram se passando pelo meu pai. Os passos...

— Eles quem? Estamos indo para casa, está bem? Me responde!

Não é capaz de responder depois do que vê: há vultos no quintal. Vários deles! E lhe observam atentamente. Logo começa uma corrida contra o tempo. Se lança na direção das portas e janelas para trancá-las e impedir que entrem em seu lar.

Sabe que é inútil. O que quer que fossem, facilmente quebrariam as enormes vidraças da residência e invadiriam o local. De longe, ela ouve o toque do seu celular. Corre para atendê-lo e não ouve nada além de sua mãe pedindo que ligue para a polícia. Logo depois, veio aquele barulho, e ninguém mais respondeu. Estavam no carro a caminho de casa...

Tenta sua última alternativa. Discou 190 na esperança de que alguém ainda possa ajudar. No momento em que passa seu endereço, a ligação cai. Bateria completamente descarregada. Sabe que ainda pode usar o telefone da casa, mas não tem coragem de descer até lá.

Delicadamente, engatinha até a varanda. Ainda estão lá. Olha para a rua e só consegue perceber como que a casa mais próxima ainda fica muito distante. Mesmo que quisesse pedir ajuda aos vizinhos, não teria como.

De repente, Giovanna escuta um barulho. Algo ensurdecedor como se um avião pousasse no quintal da casa. Foi forte suficiente para quebrar todos os vidros da casa.

Suas mãos gelaram. Os passos voltaram e estão cada vez mais perto. Só tem uma certeza: eles entraram na casa. Sua reação foi correr para sua cama e se cobrir como fazia quando tinha dez anos. Era como se o cobertor pudesse defendê-la de tudo. Por um momento, sentiu segurança novamente.

A escuridão dos seus olhos fechados deu lugar a um clarão que cegava as vistas. Ouviu a porta de seu quarto abrir, e logo em seguida, lhe veio uma voz familiar.

— Gigi, meu amor! Mamãe veio aqui para te buscar!


[MENSAGEM DA FAMÍLIA GOLDEN HOUR]

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São Tadeu (Vol. I) Where stories live. Discover now