#11- O Senhor de Tudo

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O funeral de papai foi ainda maior que o do Maurice. Não pude contar quantas pessoas vieram até eu apresentar seus pêsames. Muitos políticos, personalidades, e empresários se colocaram a minha disposição para o que fosse necessário. E todos diziam que a partida de papai era uma perda irreparável. As palavras eram extremamente gentis, mas eu estava num torpor tão grande que nada daquilo fazia qualquer sentido para mim. Tempos mais tarde minha mãe me disse que eles estavam apenas sendo bondosos, e se colocando a disposição do herdeiro do amigo. O padre da cidade conduziu a cerimônia, apesar de ter personalidades mais eminentes do clero presente, segundo Frida essa fora a vontade de papai, ele e o velho padre sempre tiveram uma ótima relação. Tudo aquilo demorou horas, e cada vez que alguém subia na tribuna da câmera de vereadores, onde se deu a cerimônia, eu pensava que talvez fosse falar algo de novo sobre meu pai, apresentar algo diferente, que eu não conhecia, e assim me ajudar a conhecer melhor ele, mas era sempre mais do mesmo. Dizia como ele tinha sido um homem bom e caridoso, apesar de um empresário pragmático, energético e forte, cada um tentando usar mais adjetivos para fazê-lo, mas no fundo a essência das palavras era a mesma. E isso me cansava demais. Tudo que eu queria era correr para casa, e ficar sozinho por longas horas, talvez abraçado em silêncio com Frida, enquanto ela passava suas delicadas mãos em meus cabelos, mas como ela mesma me disse, eu tinha deveres a cumprir ali, deveres que eram mais importantes no momento. E teria que fechar a cerimonia com um discurso, papai sabia que eu não falava em publico com a mesma destreza que ele, mas mesmo assim tinha pedido que o discurso final fosse meu. E quando chegou a hora, pesadamente me ergui de meu lugar, apoiado por Frida, e fui à frente. Um mar de pessoas olhava fixamente para mim, como se eu tivesse algo inovador para lhes dizer, algo que pudesse mudar suas vidas. E quando fiz menção de começar a falar, um enorme silêncio se fez no recinto, e comecei a falar:

"Agradeço a todos os senhores, que tão gentilmente vieram se despedir de meu pai. Alguns dos senhores o conheciam como amigo, empresário, filantropo, ou ainda como um ótimo orador. Eu por outro lado escolhi pela vida toda lhe enxergar apenas como meu pai, o homem que fez de tudo para me passar seus ensinamentos, que considerava fundamentais para me tornar um homem de boa índole. Sei que provavelmente em muitos aspectos, e momentos falhei com ele terrivelmente, mas como o bom pai que era estava sempre disposto a me perdoar, e dar uma nova chance. Então por toda minha vida não vou recordar do grande Ludovic Bahn Linderberg, como o empresário, ou como o filantropo, nem mesmo pela sua capacidade de persuasão em seus discursos, mas ele sempre estará em meu coração pelos momentos que vivemos juntos, pelos conselhos que me deu, até mesmo pelas vezes que ele fez coisas que me desagradaram, porque apesar de muitas vezes essas denotarem nossas diferenças, mostravam mais fortemente o quanto ele se importava comigo."

"... Então hoje quando os senhores retornarem a suas casas, que seja lembrando que Ludovic Bahn Linderberg foi muito além de um empresário vigoroso, um filantropo generoso, ou um bom financiador do partido. Lembre-se que ele foi um homem sempre disposto a ajudar os amigos, a dar um conselho aqueles que cruzavam seu caminho, e que principalmente foi p melhor pai que poderia ser, e um esposo amado, e um apaixonado pelos livros, e a musica nacional. Lembre-se que ele foi além de um nome, foi um humano com grandes erros, e qualidades. Obrigado!"

Quando retornamos para casa, já com a noite mostrando seus primeiros sinais, percebi o quanto minha mãe estava destruída pela perda de seu maior companheiro, e o quanto ela tinha se obrigado a ficar firme diante daquelas centenas de pessoas que estavam no funeral. E soube que ele não se manteria assim por muito tempo. Durante toda sua vida foi meu pai que a conduziu, desde cedo estavam juntos, mesmo antes de namorarem, e era ele que lhe mostrava os caminhos da vida, mesmo depois que ela ganhou o mundo, conheceu pessoas novas, e se tornou uma mulher adulta, forte e inteligente. Meus pais sempre foram como um só organismo, e mamãe era o lado doce, gentil e ponderado, que fazia contraponto ao lado mais enérgico e pragmático de papai, juntos eles eram imbatíveis. No entanto agora ela estava sozinha, como nunca estivera antes, e sem esteio ela não sabia como viver mais. Sem saber como ajudar, pedi ajuda aos céus para que ela encontrasse um meio de ser feliz, mesmo longe de papai. Foi tudo que consegui fazer naquele dia.

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Where stories live. Discover now