#17 - Nova Fase

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Manter uma convivência normal com as outras pessoas, era uma tarefa cada vez mais difícil, e menos prazerosa para mim, mesmo com aquelas pessoas que antes da morte de Frida, tinham se tornado próximas. Alguns podem dizer que eu era um monstro desde que nasci, e que tenho sérios problemas mentais, eu não me importo, pois já falaram coisas bem piores sobre meus antepassados, e isso não alterou em nada o desejo deles de serem livres. Mas a verdade é que nunca fui um monstro, e com certeza tenho todas minhas faculdades mentais intactas, e se alguém acha isso de mim, é porque não percebe que tenho algo incrivelmente forte dentro de mim. Um chamado para uma missão que não posso deixar de responder, no entanto confesso que após a partida de Frida, a coisa ficou bem confusa, porque ela de certa forma era o que me aproximava da normalidade das outras pessoas. Sem ela meu mundo era triste e vazio, e apenas uma coisa era capaz de aplacar um pouco da dor por alguns instantes. Matar pessoas indignas de suas vidas. Analisando agora, com frieza acho que meus parâmetros para avaliar a dignidade dessas pessoas ficou muito mais flexível depois desse evento traumático. Pouco me importa se a pessoa tinha alguma coisa realmente ruim, era mais o caso de cruzar meu caminho, num momento de extrema dor. Chegando a altura de que eu não sabia mais quantas pessoas realmente eu tinha libertado de suas vida. Uma centena? Duas? Não importava, pois a cada dia sem minha esposa e filho, era um dia a mais que eu desejava punir o mundo hipócrita que me rodeava.

Olga e Carol tentavam me consolar, se fazer presente em minha vida, e eu sabia que suas intenções eram verdadeiras, e boas, mas eu não queria a pena delas, na verdade não precisava que ninguém sentisse pena de mim. Eu sempre fui forte, e se me faltava algo, era o amor que eu nunca poderia recuperar, e elas nunca poderiam me dar. Ou será que elas pensavam que eu poderia escolher uma delas como minha nova esposa? Não, com certeza não pensavam algo assim, esse era um pensamento tolo, pois elas eram como irmãs de minha esposa, e não desonrariam sua memória. Porém acima de qualquer bondade, ou amizade que pudessem ter por mim, eu não queria ficar perto delas, isso era algo doloroso demais, para mim já era muito penoso ter que viver na casa onde vivi tão bons momentos com Frida, e onde tudo me recordava do que eu não poderia mais ter. Muito acima de qualquer expressão de dor, era entrar no quarto de nosso filho, onde meu menino viveria, onde juntos poderíamos descobrir tantas coisas juntos. Saber que tudo tinha sido me negado, fazia crescer a dor e a mágoa dentro de mim, e a certeza que a vida, o mundo, e os céus tinham brincado com minha cara, tinha me dado uma fonte de alegria, e saciedade, para em seguida retirar de mim sem a menor consideração. Mas se esse era o jogo, então eu iria entrar nele, e distribuir minha dor.

Os dias se tornaram semanas, que se tornaram meses, e quando dei por mim, havia se passado muitos anos. E era o ano de mil novecentos e noventa e seis, aos meus trinta e três anos, e já tinha feito, e passado por coisas que ninguém acreditaria, mas também ninguém sabia da maioria dessas coisas. A dor pela perda de Frida, e de nosso pequeno Klaus Enrico, não tinha diminuído nem um pouco, e sob os efeitos dela, muitas outras pessoas tinham dado seu último fôlego de vida, no porão do chalé, e também na cabana que eu havia mandado construir por ocasião da grande reforma que iniciei três anos antes no chalé, para enfim colocar em prática meu plano de expandir o porão, e construir passagens subterrâneas para unir o chalé ao velho cemitério familiar. Como eu não poderia continuar minhas atividades no porão enquanto operários trabalhavam lá, eu construí uma cabana um pouco mais a leste, seguindo o lago, era pequena, mas o suficiente para eu conseguir levar minhas vítimas. Para a construção das passagens chamei alguns antigos colegas da faculdade de engenharia, já que eu não tinha concluído o curso, e não tinha o conhecimento necessário, o que eles tinham pois já estavam formados. Optei por eles, pois sabia que não fariam muitas perguntas para mim, e assim foi, apenas fizeram o serviço, que durou cerca de três anos, e ficou exatamente como eu desejava. Agora eu tinha minha rota de escape para corpos que sairiam do porão.

Tudo havia sido feito conforme o que eu desejei, as salas, onde poderia guardar documentos, e apetrechos, e até mesmo pessoas se assim quisesse, se acima do solo eu ainda precisava ser um empresário comum, abaixo dele, eu era um deus, que só seguia as próprias regras, e tinha suas vontades satisfeitas. E é bem verdade que a cada dia eu sentia menos vontade de interagir com as outras pessoas, e elas não faziam muita questão de interagir comigo, até mesmo Carol e Olga, que já haviam se casado, agora apareciam bem menos para suas visitas, e  quando me procuravam, estavam acompanhadas dos barulhentos filhos, o que sempre acabava por me deixar triste, e até bravo, porque de muitas formas, estar com eles me fazia lembrar de meu próprio filho que nunca teve a chance de crescer, e ter uma infância ativa, como eles tinham. Olga aparecia menos, pois tinha estudado direito, e recentemente se tornará promotora,  o que ocupava muito seu tempo.  

Minha sogra faleceu cinco anos antes, não tendo conseguido superar a morte do esposo, da filha e neto, após seu funeral minha mãe tentou retomar a viagem pelo mundo, mas não era mais a mesma coisa, um ano depois retornou ao Brasil, indo morar na capital, onde seis meses depois também faleceu devido um aneurisma cerebral não tratado. Suspeito que ela tenha postergado ao máximo buscar tratamento, na esperança de ir ao encontro de papai, e seus amigos. Não fiquei bravo com ela, pois eu mesmo pensei inúmeras vezes em tirar minha vida, para ir ter com minha esposa e filho.

Após a morte de minha mãe, e de não ter mais qualquer parente direito nesse mundo, me conformei que não teria semente, e que o nome Linderberg morreria comigo, quando chegasse a hora. Então eu não precisava acumular mais bens de qualquer tipo. Tudo que eu tinha seria o suficiente para suprir minha vida, e ainda sobraria muito. Foi nessa altura que fiz meu testamento, deixando que eu tinha, após minha morte, para a única pessoa da minha família afastada, que de certa forma tinha se aproximado de mim. Olga se tornou minha herdeira universal. Minha segunda atitude foi vender todos negócios que eu tinha na cidade, e na capital, pelo simples fato que eu não aguentava mais aquela rotina de trabalho, quando sabia que as pessoas desejavam me ver longe dali. Se elas me queriam longe, e eu não queria estar ali, a melhor solução foi eu sair, e lucrar muito com isso. Não vendi nenhuma das terras que herdei de meu pai, ou de minha esposa, apenas os comércios, também mantive os imóveis.

Podia sentir que uma nova fase estava para começar.

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Qual será essa nova fase? Sinto que estamos tão perto de um desfecho...e vocês? Deixem suas opiniões nos comentários...E votem !!!

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Where stories live. Discover now