Capítulo 29

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Quando chegamos da faculdade eu estava exausto como nunca e com a cabeça latejando sem parar, parecia que ia estourar a qualquer momento. Só me joguei no sofá.
- Ai, caramba!- Me encolhi quando me sentei, esqueci que minha bunda estava ardendo com qualquer toque.
Ryck e Chris começavam a gargalhadas sempre que lembravam.
- Muito engraçado!- Falei irritado.
- Pô, Ryan! Não sabia que você conseguia ser tão louco bêbado!- Falou Chris se sentando ao meu lado.
- Né? Se soubesse que ia rir tanto da cara dele teria convencido ele a beber antes!
Eu estava convencido era de que nunca mais colocaria um pingo de álcool na boca depois daquilo, mas as coisas mudam...
Dois dias depois descobri o que achei que seria o grande mistério da minha vida e soube quem foi a pessoa que deu um beijo na minha bunda. Constatei que naquela noite fui até um amigo que Ryck havia me apresentado, ele era tatuador. Estava no seu dia de folga e adivinha o que estava fazendo também? Exatamente, bebendo! Aí juntou um tatuador bêbado, um retardado bêbado, um baton da Eliza que estava no meu bolso e deu no que deu, o primeiro cara que teve contato com a minha bunda foi ele! E até hoje não sei se ele é gay ou se foi só no calor do momento mesmo. Já a parte do Chris, não lembrava de absolutamente nada, mas devia ter chegado com tanto sono e ainda bem bêbado, que só tirei a roupa que fazia a tatuagem arder e me deitei com ele.
Mas aquilo me deu coragem para fazer uma coisa boa, um dos sonhos que eu tinha naquela época era o de fazer uma tatuagem, eu sempre adorei a ideia de ter uma, mas meu lado certinho sempre me fez desistir de fazer alguma coisa nesse estilo. Bêbado eu não tenho lado certinho, vai ver por isso esse foi meu primeiro objetivo naquela noite, então depois disso eu pensei... Por que não?
E decidi fazer uma tatuagem, dessa vez sóbrio. Escolhi fazer uma imagem de um lobo realista no quadril que eu sempre achei incrível, significava astúcia e coragem, deixando os olhos azuis bem destacados e, a melhor parte, cobrindo o lugar em que fiz o coração e o beijo! Foi um jeito de acabar de uma forma boa aquela loucura e ainda tomei coragem para realizar um sonho meu. O mais engraçado é que fiz com o mesmo tatuador. Ele já tinha visto minha bunda mesmo!

Uns dias se passaram, eu estava indo para a casa dos meus avós, todos os meus tios e amigos da família estavam lá para aproveitar todos juntos. Chris também estava com a família dele.
Eu estava me arrumando para ir, passei um pouco de gel no cabelo e fiquei procurando minha chave, já estava atrasado.
Ouvi vozes vindas da porta da entrada, me aproximei devagar e fui olhar quem era pelo olho mágico. Era só o Ryck... Com a Anne?!
Ferrou, ele já estava abrindo a porta, corri desesperado para o quarto e escorei a porta, só deu tempo de fazer isso antes deles entrarem. É lógico que o senhor Ryck iria aproveitar o local vazio para tentar alguma coisa!
- Prontinho, bem vinda ao meu apartamento! O que foi mesmo que eu disse na primeira vez que te vi? Oh, é mesmo! Falei que uma hora ou outra você iria acabar conhecendo ele. Parece que acertei em cheio!- Falou Ryck se achando, enquanto os dois entravam.
Anne revirou os olhos sorrindo e falou:
- Ok, Nostradamus! você previu o futuro!- Brincou ela- Mas isso não quer dizer que eu tenha vindo aqui com o objetivo de fazer aquilo. Vim só para conhecer o apartamento e porque você ficou insistindo a semana inteira!
- Bom, nem sempre está no nossos objetivos, mas as vezes o acaso pode fazer hoje ser o melhor dia da sua vida!- Falou ele sorrindo.
- Nossa, como você se acha! Eu já disse que não.- Falou Anne rindo.
- Tabom, não vou insistir...Talvez só mais um pouquinho. Tem certeza mesmo?- Falou ele fazendo uma expressão de sofrimento.
- Ryan...- Anne cruzou os braços o encarando, mas ainda com um sorrisinho.
- O que? Eu falei alguma coisa? Ah, quer algo para beber, um copo de suco, refrigerante, vodka?
- Um copo de suco seria ótimo!- Sorriu ela e Ryck foi buscar.
Eu me encontrava dentro do quarto escutando tudo e tentando achar um jeito de sair dali, meu celular ficou na sala e eu não tinha como avisar o Rychard de que eu estava ali sem a Anne me ver.
Ryck voltou para a sala.
- Obrigada.- Anne pegou o suco e os dois se sentaram no sofá, Ryck ligou a TV e tomou um gole da garrafa de cerveja que tinha trazido para ele.
Eles conversaram mais um pouco sobre coisas aleatórias.
- Gostei do seu apartamento, imaginei algo muito mais bagunçado!- Comentou Anne observando o lugar admirada.
- Ah, tento organizar o máximo possível!- Mentiroso, ele era o que mais bagunçava- Dá para aproveitar bem o lugar...
Ryck deu um sorrisinho e Anne suspirou.
- Não faz essa cara, vai?- Falou Ryck rindo.
- É que você só pensa nisso, Ryan!
- A culpa não é minha! Não posso fazer nada se não consigo olhar para os seus lindos olhos sem sentir vontade de chegar mais perto para admirá-los melhor...- Ryck se aproximou mais dela com o braço encostado no sofá- Ou ver esses lábios vermelhos sem sentir um grande desejo de te beijar...
Anne sorriu, enquanto Ryck olhava para sua boca, deixou que ele se aproximasse e a envolvesse em um beijo cheio de vontade.
Eles ficaram naquilo por um bom tempo, Ryck tentava tocar nela em lugares um pouco mais atrevidos, mas Anne sempre segurava ou tirava suas mãos, só se entregava ao beijo mesmo.
Ryck respirou fundo quando pararam para recuperar o fôlego e falou erguendo uma sobrancelha:
- Acho que ainda não te mostrei meu quarto...
- Hum, e eu vou querer conhece-lo?- Perguntou ela passando a mão do lado do rosto de Ryck em um toque suave.
- Aposto que vai!
Para o quarto não!
Anne revirou os olhos:
- Ok, pode me mostrar. Mas para mim é apenas mais um cômodo da casa.
Merda!!
Me desesperei quando vi que eles estavam vindo e me escondi no guarda-roupa o mais rápido que pude, podia ter ido para debaixo da cama, mas achei mais arriscado.
- E... Aqui é o meu quarto.- Falou Ryck vindo de mãos dadas com a Anne.
Ela olhou ao redor e se aproximou de onde eu tinha minhas coleções de bonecos, livros e revistas colecionáveis.
- Ah, não ligue muito para os bonequinhos, as vezes me dá a louca e eu compro essas besteiras sem sentido!- Afirmou Ryck rindo.
Não fala assim das minhas coleções!
- Está brincando? Eu sempre tentei terminar a coleção desses daqui mas só consegui 22! Você praticamente tem um tesouro escondido aqui!- Falou Anne maravilhada com minhas coisas.
- Eu sei, eles são incríveis, não são?- Disse Ryck fingindo adorar aquilo.
- Nossa olha o tanto de livros que você tem!
- Uhum...- Ryck se aproximou dela, enquanto Anne continuava vendo. Ficou beijando seu ombro.
- Eu sempre quis ler esse aqui, sabia?
- Hum...- Ele segurou a cintura dela e ficou descendo por seu pescoço.
Anne sentindo aos mãos dele deslizando por seu corpo e seus beijos, fechou os olhos e afirmou:
- Ryan... Não podemos!
- Por que?- Perguntou Ryck quando ela se voltou a ele.
- Porque... Eu não sei se quero isso agora, não estou pronta.
- Não confia em mim?- Perguntou ele baixinho.
E eu escondido em silêncio no armário.
- Eu confio, mas...
- Estou apaixonado por você, Anne. Você não tem ideia do quanto te desejo...- Falou ele tirando um mecha do cabelo dela da frente dos seus olhos- Só queria que você também me desejasse assim.
Anne se aproximou e beijou ele.
- A verdade é que eu desejo, Ryan... Você não sabe o quanto. Mas tenho medo de me entregar de novo e de me arrepender depois.
- Não vai se arrepender, Anne... Eu prometo.
Os dois ficaram se olhando em silêncio por alguns momentos.
E eu ficando preocupado no armário.
Anne se aproximou dele e o beijou com vontade, Ryck correspondeu com mais vontade ainda, trazendo seu corpo mais para si e a beijando cheio de desejo. Aos poucos aquele beijo foi ficando cada vez mais intenso e logo se deixaram cair sobre a minha cama.
E eu me desesperando no armário. Que bosta, na minha cama, não!
Ryck ficou sobre ela, enquanto segurava uma perna da Anne próxima a sua cintura e movimentava o quadril, sentiam um corpo contra o outro em movimentos ousados. Se beijavam com muita vontade, Anne gemeu um pouco e falou:
- Ryan... Ainda acho que não devemos...
- Não pense mais em nada, Anne...
Ele tirou sua camisa, Anne passava a mão por ele enquanto não conseguia resistir aos beijos de Ryck e as mãos dele que passeavam por todo o seu corpo.
E eu entrando em pânico no armário! Caramba, eu não queria presenciar aquilo nem um pouco! Será que se eu só saísse correndo dali eles me veriam? Com certeza...
Ryck desabotoou a calça jeans que Anne estava vestindo e abaixou o ziper pronto para começar a tirar a roupa dela, enquanto isso passou a mão pelo seu bolso da calça só para ter certeza de que tinha, mas estava sem camisinha.
Ryck parou por um momento e falou:
- Já volto, é só um instante...
E correu para o guarda-roupa, onde aos meus pés eu tinha um monte de camisinhas jogadas. Ele abriu a porta e quase deu um berro de susto ao me ver. Mas me desesperei e fiz o sinal de silêncio. Ele colocou a mão no coração e respirou fundo tentando se recuperar.
Anne ainda esperava na cama, ele fechou um pouco a porta do guarda-roupa e sussurrou bem baixo:
- O que está fazendo aí?
- Escolhendo que camisinha usar, lógico! O que acha que estou fazendo aqui, besta? Me escondi para Anne não me ver!
- Mas você não ia sair, idiota?- Falou irritado.
- Você chegou antes!- Também falei nervoso.
- E agora?- Falou preocupado e pensativo- Se importa da gente fazer...
- Nada, fiquem à vontade! Claro que me importo, cabeção! Além de ser na minha cama ainda quer que eu fique escutando?!
- Mas, Ryan...
Ele fez um sinal de suplica e eu balancei a cabeça.
Ele fez uma cara de desespero e eu balancei a cabeça sem parar com uma careta.
- Ryan?... Está tudo bem?- Perguntou Anne se erguendo um pouco na cama.
Ryck fechou a porta do guarda-roupa desanimado e se virou para ela pensativo.
- É que... Mal aí, Anne. Estou sem proteção e... isso complica as coisas.
- Ah...- Falou surpresa e confusa.
Ela se sentou na cama pensativa de tudo o que ia acontecer.
- Mas... Eu poderia comprar uma! A gente aproveita e já passa em outro lugar! Que tal um motel?
Anne balançou a cabeça e falou se levantando e fechando sua calça.
- Não, Ryan... Isso é um sinal de que não devemos fazer isso agora. Acho que preciso de um tempo para pensar nessa... parte.
- O que? Mas, Anne... Estávamos tão perto...
- Eu preciso ir embora. Nos vemos lá na faculdade, ok?- Falou ela, deu um beijo rápido nele e saiu apressada.
Assim que Anne saiu, eu abri a porta do guarda-roupa.
- Eh, Ryck! Isso realmente foi um sinal... de que você vai continuar sem dormir com ninguém por mais um tempinho!- Falei sorrindo e ele mostrou o dedo do meio para mim.
Depois daquilo eu finalmente consegui sair de lá e fui me encontrar com o pessoal. Eles falaram bastante sobre a minha demora, mas dei uma desculpa qualquer e todos entenderam.
Passei aquele dia inteiro conversando com eles e falando sobre os planos de cada um, um conhecido da família ia casar, já outra amiga estava grávida, vi meus pais comentando sobre como achavam que seria quando eu, Julie e Ryck estivessemos casados e com filhos e não pude deixar de ficar pensativo. O que diriam caso eu revelasse que não sou como a maioria dos rapazes da minha idade? Que o filho mais certinho deles estava apaixonado por um garoto e duvidando muito que meu futuro fosse exatamente como imaginavam, talvez eu ainda tivesse muitas coisas para descobrir sobre mim mesmo...
Mas o que minha família e amigos diriam se eu realmente me assumisse gay? Será que mudariam comigo e iriam querer distância? E se meus pais fossem preconceituosos com relação a isso e totalmente contras?
Respirei fundo tentando afastar o medo de dentro de mim, porque era a única coisa que eu podia fazer naquele instante. Só estava deixando acontecer.
Enquanto todos riam e conversavam na sala, eu me aproximei da janela e fiquei olhando para o azul do céu, onde gostaria de acreditar estar a grande solução dos meus problemas e temores. Respirei bem profundamente, perdido em pensamentos.
Senti alguém me abraçar e me virei, vi minha mãe sorrindo para mim e me olhando.
- O que foi, filho? Você parece estar tão pensativo hoje... Aconteceu alguma coisa?
- Não, mãe... Só estou um pouco preocupado com o meu futuro.- Me virei para ela, tecnicamente falei a verdade.
- É por causa da faculdade?
- É...- Dei uma desculpa- Tenho medo de estar seguindo pelo caminho errado, sabe? De perder o controle das coisas e desapontar a todos.
Ela sorriu de novo para mim e passou a mão suavemente do lado do meu rosto. Incrível como carinho de mãe sempre irá te fazer bem, não importa quantos anos você tenha, pode ser 8, 18 ou 28, sempre será uma das maravilhas do mundo.
- Querido, você não tem que ter medo de desapontar as pessoas. Sempre vamos estar lá para você, mesmo que você siga por caminhos difíceis. A única coisa que você precisa se preocupar agora é se o caminho que está seguindo está te deixando feliz! O resto não se preocupe que tudo se encaixa no seu devido lugar cedo ou tarde.
Olhava para minha mãe sentindo todo o carinho que vinha dela e realmente quis acreditar em suas palavras. Sorri de volta e a abracei com carinho também, depois que aquele abraço terminou, ela me olhou.
- Agora vem, não precisa ficar aí no cantinho! Vamos encher o saco do seu tio Justin, isso sempre levanta a minha moral!- Falou me cutucando animada.
Dei risada e fui junto dela, voltando a me reunir com a minha família.

Entre Segredos e MentirasWhere stories live. Discover now