Capítulo 58

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Horas haviam se passado e nada de eu chegar no apartamento.
- O que será que aconteceu com ele?- Perguntou Julie preocupada.
- Eu não sei! Ryan não atende o celular!- Falou Chris tentando me ligar mais uma vez.
- Conseguiram falar com ele?- Perguntou Thomas vindo do meu quarto, também com o celular na mão.
- Não... Tem certeza que o Ryan não chegou ainda na sua casa?- Perguntou Ryck já ficando alterado pelo nervosismo.
- Acabei de falar com a minha mãe. Nem sinal dele!- Falou Thomas já deixando a preocupação ser maior que tudo.
- Não, mas nós precisamos achar ele! Em algum lugar Ryan se meteu!- Falou Eliza que também estava lá no nosso apartamento.
- Talvez não tenha acontecido nada... Vai ver ele passou em outro lugar!- Falou Julie não querendo acreditar no pior.
- Onde, Julie? Ryan nunca foi de sumir assim!- Falou Chris com a mão no rosto todo preocupado.
Escutaram a campainha tocar, Rychard já correu para atender esperançoso de que fosse eu. Abriram a porta e viram o porteiro do nosso prédio, ele estava me ajudando a ficar de pé.
- Ai, meu Deus! Ryan!
Todos já entraram em pânico ao me ver daquele jeito, vieram até mim, mas o porteiro falou para dar espaço.
- O que ouve, Ryan?
- Por que está todo machucado?
- O que aconteceu?
Todos vieram até mim preocupados e fazendo varias perguntas, enquanto o porteiro me deixava no sofá, qualquer movimento que eu fazia parecia doer 10 vezes mais.
- Ryan... O que aconteceu com você?- Falou Thomas, nunca tinha visto ele tão apavorado. Se aproximou olhando para o meu rosto que tinha vários ematomas e para meus lábios que sangravam.
Abri minha boca com dificuldade e consegui dizer:
- Mike...
Naquele momento Thomas congelou. Ele não conseguia acreditar. Mike havia feito aquilo? Me machucou daquele jeito para se vingar dele?
- O Mike fez isso?- Ryck perguntou irado e incrédulo.
- Eu não acredito...- Falou Eliza com a mão na boca.
Olhei para Thomas, que parecia todo agoniado. Ele também me olhou e vi o quanto se sentiu culpado por me ver naquela situação.
- Eu vou matar aquele cara...- Falou ele se levantando com tudo, pronto para ir, do jeito como Thomas estava, não duvidei que seria capaz mesmo de fazer uma loucura.
Já me desesperei, com medo dele se meter em problemas ainda piores e me ergui do sofá dizendo:
- Thomas, não!
Mas esperneei de dor ao me mover, Eliza e Julie voltaram a me encostar mais no sofá preocupadas.
- Por favor... Não vai...
Thomas olhou para mim todo cheio de dores, com uma enorme aflição no olhar. Não conseguiu sair com esse meu pedido, estava tão preocupado.
Deixei minha cabeça se encostar mais sobre o sofá e fechei meus olhos.
- Não deviamos levá-lo ao médico? Ao talvez até a polícia?- Perguntou o porteiro.
- Não... Não quero ir!- Falei assustado.
- Isso não pode ficar assim, Ryan!- Falou Chris.
Balancei a cabeça negando sem parar.
- Por favor...
Acabou que eu não deixei eles sairem de lá, nem para ir até a polícia, nem atrás do Mike. Acho que queriam mais a última coisa.
Eliza e Julie ajudaram a me limpar, a desinfetar as feridas e também a fazer os curativos.
depois de algumas horas, meu rosto estava menos pior, minha boca só tinha um corte ao lado, meus olhos estavam um pouco inchados, um bem roxo, já meu queixo e testa também estavam com ematomas. Eu tinha impressão de que as dores não iriam me deixar.
Thomas entrou no meu quarto e parou olhando para mim todo preocupado. Eu estava sentado na minha cama, arrumando um curativo do braço.
- Thomas...- Falei o olhando. Ele ficou observando meu olho esquerdo que estava roxo em volta.
Balançou a cabeça em negação, como se não conseguisse aceitar o que fizeram comigo.
- Ainda não consigo acreditar... Como puderam fazer isso com você, meu anjo?- Falou vindo e se sentando ao meu lado, me olhando sentido. Parecia doer ainda mais nele me ver assim.
Abaixei meus olhos e ficamos um momento em silêncio com as cabeças baixas.
- É tudo minha culpa, Ryan...- Falou ele com a voz tremula.
- Não diga isso.
- Mas é verdade. Se eu não tivesse peitado o Mike você não estaria assim! Na verdade, se você não tivesse se envolvido comigo nada do que aconteceu nessas últimas semanas teriam acontecido!- Ele estava quase chorando por culpa. Neguei com a cabeça aflito e falei colocando minha mão na sua.
- Não diga isso, Thomas! Não é sua culpa!
- Você sabe que é! Olha por tudo o que você teve que passar por causa de mim, Ryan! Você não merece isso!
Pensei em todas as palavras de ódio que ouvi durante aquelas semanas e em todas as que ouvi enquanto me machucavam. Relembrar doía... Eu queria tanto poder apagar isso, mas não podia. Sempre diziam o nome de Thomas, falando que a razão disso era por estarmos juntos. Thomas estava acreditando nisso.
Me aproximei dele e o puxei mais para mim. O abracei como nunca havia abraçado.
- Por favor, Thomas... Não diga isso...
- Talvez seja melhor você ficar longe de mim...- Falou ele se contrariando aflito.
- Mas eu não quero isso!... A culpa não é sua... A única coisa que é melhor para mim é te ter ao meu lado, Thomas... Eu preciso de você.
- Mas...
- Quando estou com você tudo fica perfeito... O que aconteceu não importa mais... Porque eu te amo.
Nos afastamos um pouco e ele viu que eu deixava uma lágrima correr por meu rosto. Nada poderia ser maior do que eu sentia por ele, nem mesmo as dores ou o ódio do mundo incompreensível. As pessoas poderiam não entender, mas aquilo era amor verdadeiro.
- Ah, Ryan... Eu te amo tanto...
Falou ele passando a mão de leve no meu rosto e me olhando. Se aproximou devagar e depositou um beijo suave em meus lábios, um beijo simples, mas com tanto sentimento que foi o suficiente para eu saber que tudo ficaria bem...
Sorri de leve, enquanto olhava para o brilho do seu olhar e ele sorria olhando para o azul do meu.
- Me prometa...
- O que?- Ele perguntou.
- Que não vai tentar ir atrás do Mike.
- Mas eu preciso, Ryan.
- Não precisa, não. Ignorância não se acaba com mais ignorância!
- Como posso só deixar quieto?- Perguntou ele aflito.
- Só confie em mim.- Falei passando a mão no seu rosto- Me prometa, Thomas...
Ele abaixou o olhar contrariado, engoliu em seco e acabou cedendo:
- Eu prometo.
Depois daquilo nos deitamos juntos, ele ficou abraçado comigo e me fazendo carinho. Cuidando de mim como só ele sabia fazer. E assim acabei caindo no sono.
Thomas se levantou quando viu que eu havia adormecido, foi para a sala pensando em tudo.
- Filho da... Eu não consigo ficar de braços cruzados!- Falou Ryck todo irritado e pensando no que Mike havia feito comigo.
- Eu também não! Por mim ia agora na casa desse tal de Mike acabar com ele!- Falou Chris.
- Não é melhor irmos na polícia?- Perguntou Eliza.
- Não sei porque Ryan não quer!- Disse Julie dando de ombros.
- Então está resolvido! Se ele não quer, fazemos justiça com as próprias mãos! Quem vem comigo?- Perguntou Ryck.
- Você vai atrás do cara uma hora da manhã, Rychard?
- E?
- Julie tem razão, temos que agir com a cabeça. Nem sabemos se ele está mesmo na casa dele.- Falou Chris pensativo.
Ryck não queria deixar para depois, mas acabou sendo obrigado pela grande maioria a conter sua raiva.
Mas só conseguiu até amanhecer novamente, Ryck foi atrás do Mike, mas acabou sendo informado que ele de fato não estava em casa, tinha ido para seu apartamento.
Teve uma vez em que Ryck saiu com Mike e seu grupinho e ficou sabendo que na maioria das noites de sexta para sábado, eles faziam uma festa no apartamento com cobertura que Mike havia ganhado dos pais, em seguida passavam na irmandade da faculdade e depois iam aproveitar a noite, em alguma das baladas de luxo.
Estava dando 14:00 da tarde, então Mike devia estar na irmandade naquele momento.
Ryck ligou para o Thomas.
- Oi, Ryck.
- Thomas, eu estou aqui de frente da faculdade esperando o Mike.- Falou Rychard observando ao redor.
Thomas olhou para mim, que estava sendo ajudado a trocar os curativos pela Julie.
- Sei...- Thomas se afastou de mim disfarçando, preocupado de eu perceber.
- Você vai vir? Daqui uns minutos Mike vai sair e aí ele vai ter que se resolver comigo pelo que fez ao meu irmão.- Falou Ryck bravo.
Thomas foi até a cozinha, Chris ao perceber algo diferente, foi atrás dele, disfarçando para eu não ver.
- Rychard, vai dar merda... Ele está com o grupo de amigos dele.
- Eu sei, vou esperar e encurralar ele sozinho para Mike provar do próprio veneno. Minha vontade é matar esse cara...
- Sei disso, mas é perigoso!
- Tô nem aí! E aí, você vai vir me ajudar? Com nós dois ele não vai ter chance alguma!
Thomas pensou se sentindo tenso e preocupado.
- Não posso...
- O que?! Por que não?- Falou Ryck indignado.
- Prometi ao Ryan que não faria nada com ele...
- Mas, Thomas! Olha o que ele fez com o Ryan! Não está nem um pouco irritado com isso? Para você é normal espancarem seu namorado? Eles podiam ter matado ele!
- Eu sei!- Thomas falou alterado deixando sua raiva aumentar com as palavras de Ryck, mas respirou fundo- Eu sei, ok?... Por mim já teriam feito alguma coisa... Mas Ryan não quer, então é por ele que eu vou manter minha palavra.
Ryck já estava ficando ainda mais nervoso do outro lado da linha.
- Ótimo! Que seja! E o Christian? Sabe se ele vai me ajudar?
Chris estava ao lado de Thomas tentando ouvir a conversa, pegou o celular e falou:
- Eu também prometi ao Ryan que não faria nada, Rychard...
- Ah, mas que maravilha!- Falou Ryck sarcástico- Agora os dois patetas vão fazer as vontades do Ryan e deixar isso como está?
- Claro, Ryan é meu melhor amigo, faria qualquer coisa por ele e você sabe disso... Então como posso fazer algo tão grave assim contra sua vontade?
- Sei lá, socando a cara do Mike e depois pedindo desculpa por ter quebrado a promessa? É tão simples!- Falou Ryck irônico.
- Não, Ryck. É errado e você também devia pensar duas vezes antes de agir por impulso.
- Quer saber? Que se danem! Se vocês dois não querem me ajudar, eu me viro sozinho!- Desligou.
Rychard ainda teve que esperar um bom tempo, mesmo depois que Mike saiu de onde se encontrava com a galera da sua irmandade, ficava com seus amigos, que riam parecendo nem se importar ou com peso na consciência pelo que fizeram, o que só aumentou ainda mais a raiva de Ryck.
Teve um momento em que Mike se afastou com uma garota, ainda estavam no campus da faculdade. Ficaram se beijando um pouco mais afastados do resto do grupo para ter mais privacidade.
- Hum, você é linda demais... O que acha de irmos para o meu apartamento antes do resto da galera?- Perguntou Mike a olhando malicioso, enquanto a puxava mais para si.
- Sozinhos?- Perguntou a garota mexendo nos botões da camisa de Mike com um sorrisinho travesso.
- Sozinhos...
- Ok...- Ela mordeu o lábio- Mas primeiro preciso avisar minha amiga que não vou poder ir ao shopping. Desmarco para aproveitar um pouco com você.
- Um pouco? Se prepara que vamos aproveitar é muito, princesa...
Ela deu uma risadinha e se afastou indo procurar sua amiga, deixando Mike esperando ali.
Foi o momento ideal para Ryck se aproximar.
- Mike!- Chamou o olhando com os olhos faíscando de ódio, enquanto caminhava em sua direção.
- Ryan? Mas... Como você...- Mike pareceu espantado por um dia depois "eu" já estar sem nenhum ematoma.
- Ah, está surpreso em me ver? Achou mesmo que não teria acerto de contas, idiota?
Falou Ryck agora a poucos centimetros. O puxou pelo colarinho e falou o encarando cheio de raiva:
- Pois agora você vai aprender que com o Ryan não se mexe...

Uns vinte minutos depois, eu estava de frente para o grande quadro com a imagem da senhora McKellen, observava os traços dele enquanto me sentia tenso... Mas também mais aliviado. Professor Jones se manteve ao meu lado, com sua mão em meu ombro, me transmitindo força.
- Bom, com base nessas informações eu...
- Diretora! Diretora McKellen!
Todos da sala nos viramos assustados com alguém que abria a porta com tudo e invadia a sala gritando:
- Eu fui agredido! Olhe para mim! Olha o que Ryan fez com...
Mike parou olhando para mim, parecia espantado em me ver ali. Seu rosto estava todo ferido e sangrando com aparencia de quem havia tomado vários socos, deixando sua aparência bem inchada e roxa.
- Mas o que...
- Meu Deus! Mais um aluno ferido?- Falou a diretora se levantando alarmada.
Mike ainda me olhava sem entender. Como de um momento para o outro eu estava com todos aqueles curativos?
- Quem fez isso com você, senhor Evans?- Perguntou o professor aflito.
- Quem? Ele!- Apontou para mim indignado- Esse gay acabou de vir para cima de mim, querendo me agredir sem motivo! Eu exijo que o expulsem!
- Calma, senhor Evans. Tenho certeza que algum engano aconteceu aqui!
- Engano nenhum! Esse idiota precisa pagar pelo que me fez!
- Como Ryan pode ter feito tudo isso, se estava comigo o tempo todo?- Perguntou professor Jones achando aquilo muito estranho.
- Mas foi ele! Era o Ryan!
- Senhor Evans! Parece que está tentando encriminá-lo propósitalmente dessa maneira!
- Ficamos sabendo dos desentendimentos que aconteceram na semana passada e no falso boato que o senhor espalhou com respeito a ele ser homossexual.- Falou o professor o encarando.
- Não é boato! Eu vi ele beijando o Thomas! Ele é gay!- Cuspiu como se tivesse nojo de dizer aquilo.
- Se ele é ou não, não vem ao caso. O que realmente importa é que Ryan apareceu poucos dias depois com essa aparência alegando ter sido vítima do senhor e dos seus colegas, que agrediram ele por causa desse fato da homossexualidade. Estou correto?
- O que? Eu nunca nem cheguei perto desse cara! Ele não tem como provar!
- Na verdade, tenho.- Falei o encarando. Naquele momento tive pena de Mike, ele era tão desprezível que eu não devia nem me importar com ele.
- O senhor Miller relatou tudo o que aconteceu em detalhes, o que bateu exatamente com a filmagem da câmera da faculdade que flagrou você e seus dois colegas indo para a parte de trás da faculdade.
- Isso não prova nada! Não tem câmeras na parte de trás então não tem como provar que fui eu.
- Tem razão, as câmeras não podem. Mas uma pessoa que participou daquilo, pode.
Professor Jones abriu a porta que dava para uma sala de espera e pediu para Victor entrar, ele era um dos amigos que participou.
Mike já congelou quando o viu e ficou pálido quando percebeu que estava sem saída.
- Victor Smith confessou o que fez junto do senhor e mais um colega.- Comentou a senhora McKellen.
- Seu... desgraçado! Você me traiu!- Falou Mike irado. Foi detido pelo professor Jones.
Victor apenas o olhou sem jeito, ele veio falar comigo e pedir perdão pelo que havia feito. Senti que havia se arrependido de verdade de participar daquilo com Mike, que acabou fazendo a cabeça dele. Então juntos fomos até a diretoria da escola e relatamos tudo. Sim, eu poderia ir na polícia, mas o caso iria ficar muito mais extenso e demorado do que aquilo para no final Mike sair ileso. Então a única coisa que queria era que ele se afastasse de mim e de quem eu amava.
- Com base nessas informações, senhor Evans, eu só posso dizer que iremos investigar mais o caso e que se for provado de fato que o senhor é culpado, será expulso da UNIMAD, que tomará as devidas providências. Até lá o senhor deverá manter total distância da vítima, ou isso irá nos obrigar a levar o caso para a polícia por agressão e homofobia.- Disse a diretora encarando ele bem séria.
- Não! Mas e o que ele fez?! Olhe para mim! Como assim só eu vou ser expulso?
- Como pode provar que foi o Ryan que fez isso se ele estava aqui o tempo todo?
- Não sei! Ele se clonou! Fez alguma coisa! Mas eu sei que foi ele!
- Quando tiver provas mais relevantes, poderemos conversar.
Acabou que vi Mike saindo esperneando e sem poder fazer nada contra mim, a verdade estava ao meu favor, por mais que ele não estivesse de fato mentindo sobre "eu" ter agredido ele. Coisa que me deixou muito bravo com o Rychard, se eu não estivesse ali naquele momento, também seria expulso por um ato impulsivo. A ignorância realmente não é vencida com mais ignorância.
Ao chegar em casa, vi Rychard sentado no sofá. Era errado achar irônico o olho roxo que ele estava por ser do mesmo lado que o meu?
Me sentei em silêncio, mas olhando para a cara dele como se esperasse explicações.
- Eu... Fui ver o Mike.
- Fiquei sabendo.
- Desculpa, Ryan. Mas não consegui ver você desse jeito e não fazer absolutamente nada!
Respirei fundo e olhei para frente.
- Tivemos uma briga feia... Mano a mano, mas no final eu saí ganhando!- Afirmou ele.
- Ah, claro... Ganhando um belo presentinho, né?- Falei olhando para o olho e sorrindo de leve.
- Olhe pelo lado bom, ainda vamos poder trocar de lugar sem ninguém reparar. Até no olho roxo somos idênticos!
Demos risada, olhei para ele sentido e o abracei. Mesmo que não concordasse em resolver as coisas assim, Ryck fez aquilo por mim.
- Obrigado, Ryck...
- Pelo que?
- Por cuidar de mim.
- Acho que você faria o mesmo por mim.- Falou ele sorrindo.
- Com certeza faria...- Sorri de volta. Afinal, nós sabiamos que nossa união ia além de tudo.

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