Ok.

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Jungkook.

Na segunda semana de fevereiro, uma nevasca deixa a cidade inteira sem energia durante dois dias. O lado positivo é que as aulas são canceladas, mas o negativo é que a neve está tão alta e o ar tão gelado que a gente mal consegue ficar fora de casa mais de cinco minutos. Digo a mim mesmo que é só água em outro estado físico e vou andando até a casa de Taehyung, onde construímos o maior boneco de neve do mundo. Batizamos ele de sr. Cho e decidimos que vai ser uma atração para as pessoas em suas andanças. Depois sentamos com os pais dele em volta da lareira e finjo que sou parte da família.

Quando as estradas são liberadas, Taehyung e eu saímos com muito cuidado pra ver a Ponte Gwangan, o Mostruário da Tabela Periódica, e o templo Seokbulsa. 

Vamos a Haman pra ver se conseguimos ouvir o misterioso zumbido que dizem que a cidade tem, e depois paramos o carro em ponto morto na base da ladeira que causa ilusão de óptica, então ele sobe sozinho até o topo. É como se fosse a montanha-russa mais lenta do mundo, mas, de alguma forma, funciona, e em alguns minutos estamos no ponto mais alto. Depois o levo pra um jantar de Dia dos Namorados no meu restaurante favorito, Happy Family, que fica no final de um minishopping a mais ou menos vinte e cinco quilômetros de casa. Eles têm a melhor comida chinesa a leste de Haman.

O primeiro dia quente cai em um sábado, e acabamos em Taejongdae, no Buraco Azul, uma praia, que entre pedreiras gigantes possuí um lago de mais de um hectare que fica numa propriedade privada. Pego os objetos que vamos deixar pra trás — os tocos dos lápis que ele usou pra fazer o exame de admissão da faculdade e quatro cordas arrebentadas de guitarra. O ar está tão quente que nem precisamos de casacos, só suéteres, e depois do inverno que passamos parece quase tropical.

Estendo a mão e o ajudo a subir a ribanceira e descer até uma piscina redonda e ampla de água azul, rodeada por árvores. É tão particular e silencioso que finjo que somos as duas únicas pessoas no mundo, o que queria que fosse verdade.

— Tudo bem — ele diz, deixando escapar um suspiro longo, como se o estivesse segurando todo esse tempo. Os óculos estão pendurados em volta do pescoço. — Que lugar é este?

— É o Buraco Azul. Dizem que não tem fundo, ou que o fundo é de areia movediça. Dizem que existe uma força no meio do lago que nos puxa pra baixo, pra dentro de um rio subterrâneo que corre direto pro Índico. Dizem que leva pra outro mundo. Que é um esconderijo onde os piratas enterram tesouros e onde os contrabandistas da China despejam corpos e carros roubados. Que nos anos 50 um grupo de adolescentes veio nadar aqui e desapareceu. Em 1969, dois assistentes do delegado iniciaram uma expedição para explorar a área, mas não encontraram carros nem tesouros nem corpos. Também não encontraram o fundo. O que encontraram foi um redemoinho que quase os engoliu.

Já abandonei o gorro vermelho, as luvas e o suéter preto, e estou usando uma blusa azul-marinho e calça jeans. Cortei o cabelo e quando Taehyung viu pela primeira vez, disse: “Jeon tipicamente coreano. Muito bem”. Agora tiro os sapatos e a blusa. Está quase quente ao sol e quero nadar.

— Buracos azuis sem fundo existem no mundo inteiro, e todos têm lendas relacionadas. Foram formados como cavernas, há milhares de anos, durante a última era do gelo. São como buracos negros na terra, lugares de onde nada escapa e onde o tempo e o espaço terminam. Não é absolutamente incrível termos o nosso?

Ele olha pra trás em direção à casa e ao carro e à estrada, então sorri pra mim.

— É incrível.

Tira os sapatos e a blusa e a calça e, em segundos, está parado ali só de cueca, que é estampada, mas a coisa mais atraentes que já vi.

Fico absolutamente sem palavras e ele começa a rir.

The froster brightness  [kth +jjk]Where stories live. Discover now