Capítulo XXV

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“Não podemos acreditar em tudo que vemos, as pessoas só nos mostram o que elas querem que saibamos”
— Vendida para o dono do morro
 
 

 
A noite foi péssima, não consegui pegar no sono com medo de algo acontecer e os pesadelos que estava tendo não me ajudava muito. Me sentei na cama e fiquei refletindo e pensando no que eu poderia fazer para manter minha família segura, já que hoje seria um dia decisivo para muita coisa. Saí dos meus pensamentos com um resmungo muito fofo da minha pequena, então fui trocá-la e dar de mamar enquanto Rane não acordava.
 

 
— É filha, tudo tá tão bagunçado – falei olhando aqueles olhinhos curiosos — Hoje mamãe vai ter que decidir o futuro do seu pai, eu tentei protegê-lo mesmo depois de tudo por você, pra conhecer o pai incrível que ele é... Pena que ele não soube aproveitar a mulher incrível que eu sou – disse pegando ela no colo e saindo do quarto pra acordar Rane, depois de acordá-la e trocar sua roupa molhada de suor dei uma fruta pra ela comer e fui pra sala esperar Beta acordar, coloquei Luara no carrinho virado para o desenho que passava na televisão e Rane no outro sofá também para assistir o desenho e fui meche  no celular um pouco, tinham algumas mensagens e alguns e-mails então fui ver quem havia encaminhado os e-mails e no primeiro tinha uma mensagem automática do meu banco informando que o depósito de seis milhões havia sido confirmado e que minha conta havia sido mudada para a categoria Black Good, o outro e-mail era do meu pai dizendo que ele estava me protegendo e que era pra eu ficar calma e curtir a maternidade, os outros eram do banco debitando as compras que fiz de roupas para Luara e Rane
 
 

— Já tá acordada? – beta diz entrando na sala com Eduarda nos braços e Vini vem atrás com Pedro — Da bom dia pra sua dinda amor – diz forçando uma voz de criança que me tira um sorriso
 

 
— Sua mãe tem a mania de ser muito engraçada de manhã – disse sorrindo para Eduarda que não estava com uma cara muito boa
 

 
— É  hoje Jane – Vini me olha com uma cara triste, eu não queria ter que ir mas eu sou a responsável pelo Vidigal enquanto Toni não pode mandar — Eu vou com você pra te dar apoio – disse com um sorriso meio apagado e eu agradeci e voltei a pensar, como eu vou comandar um morro, cuidar de duas crianças e ainda me manter viva? Eram muitas perguntas para pouca resposta, a única coisa que eu queria era paz e esta sendo a única coisa que falta, sai dos meus pensamentos com o celular vibrando

 
 
— Alô?
 
 

— Oi irmãzinha, como tem passado? – aquela voz me trazia arrepios
 
 

— O que você quer Raquel? – perguntei rude, sem mostrar o desconforto que ela me causa
 

 
— Não soube da última? O papai passou a empresa par seu nome, a maldita primogênita dele! E pra ajudar tirou tudo que eu tinha pra te dar – sua voz transparecia ódio — Eu vou te achar Jane e vou torturar você e essas duas carniças que chama de filha — desligou o telefone e eu fiquei sem reação, me ameaça mas não ameace minhas filhas. O dia correu bem na medida do possível, conversei com Mauro sobre o que dizer na tal reunião e ele disse que apenas a verdade, quem decidiria o que fazer não seria apenas eu

 
 
— Mas eles vão querer que eu assuma o Vidigal ? – perguntei e ele confirmou com a cabeça
 
 

— Todos presenciaram quando Toni lhe passou a gerência do morro, então em caso de morte ou afastamento você quem cuida de tudo – olhou pra minha cara e sorriu — Ainda bem que lhe ensinei tudo – disse me abraçando e dizendo que tudo ia ficar bem
 
 

 
— E em relação à Raquel? – perguntei mas minha voz deu uma falando
 
 

— Estando na gerência ou não, vou  te proteger como sempre fiz – concluiu e deu um sorriso — Agora deixa essa tristeza de lado, vamos pensar em coisas boas – Mauro sempre teve essa energia boa que contagia qualquer um que esteja triste, saímos junto com as crianças no fim da tarde para tomar um sorvete e comer batata frita, quando voltamos já era hora de se arrumar e ir em direção do tribunal.
Chegando lá vi alguns rostos conhecidos, outros que nunca havia visto antes , quem iria iniciar e comandar aquele tribunal era Maurício Nunes, o chefe do comando vermelho.
 
 

 
— Então vamos começar – disse no microfone chamando a atenção de todos — Hoje estamos aqui para o julgamento de Toni, conhecido por muitos como Rabecão. A exatos 2 anos atrás Toni comprou Jane Silva do traficante Geraldo, morto pelo mesmo, Toni assim como muitos têm como posse uma mulher que serviria para o que ele desejasse, porém, apenas ele poderia tocá-la sexualmente como está escrito na cláusula 8 do contrato – deu uma pausa e olhou para mim e pediu que eu ficasse de pé — Sei que teve bebê a alguns dias,  não  vai demorar, prefere que te chamemos como? Jane ou Catarina ? – perguntou e eu respondi Jane então ele prosseguiu — Ok, então Jane, você confirma que Toni te violentou juntamente com Marco Guide, José Ferreira e Carlos Aurélio em um sítio próximo à Duque de Caxias? – olhei pra Mauro que acenou com a cabeça dizendo que eu já podia falar
 

— Sim, não sei se esses são os nomes pois eu não estava muito consciente por não estar comendo direito – falei e a cena veio novamente na minha cabeça, aquele momento tão doloroso — Toni fez um estupro coletivo comigo, por ciúmes, mas ele havia me traído antes com Melissa, mãe dos gêmeos – respirei fundo pra não chorar e continuei — Eu só queria paz, eu estava bem, não estava incomodando a mulher que ele escolheu, mas Camila, a ex de Roberto que estava me abrigando foi dizer a ele que nos estávamos tendo um caso, o que não era verdade pois eu amava Toni e sim houve investidas de Roberto mas apenas isso. Quando Toni me levou eu não sabia da gravidez e acredito que se soubesse ele não teria feito o que fez – uma lágrima teima em descer — Eu perdoei ele, pela nossa filha. Apenas – conclui me sentando novamente, Toni estava sério, seu semblante era de raiva, ele não emitia medo nenhum e todo o remorso que ele parecia sentir havia sumido
 

 
— Além da quebra de contrato, você também está sendo julgado pela crueldade de sequestrar e matar Melissa, Matheus e Mariana – olhei para ele e minha pressão caiu na hora, os gêmeos mortos pelo próprio pai, não é possível — E por colocar a vida de Luara e Jane em risco, mostrando a localização de ambas a organização rival – eu já não conseguia mais pensar, falar e minha respiração estava ofegante quando  Mauricio começou a votação de culpado ou inocente e a grande maioria o declarou culpado — Sua sentença será sofrer assim como Jane, Mariana, Matheus e Melissa, primeiro vão fazer igual você fez com Jane, depois vão te espancar assim como fez com Melissa e te asfixiar assim como fez com os gêmeos, e depois queimar você, para servir de exemplo, a facção não é brincadeira — falou e alguns homens levaram ele embora — Agora Jane, o Vidigal precisa de alguém para comandar e como você foi nomeada na festa e tem como filha a herdeira do Vidigal, você é a pessoa mais indicada para esse trabalho – olhei pra ele meio sem acreditar, eu a primeira mulher a comandar um morro — Você terá toda a proteção dos seus aliados, pense bem, talvez seja a paz que tanto procura. Obrigado a todos que estiveram presente, apenas lembrando, o que fazem com a mulher de vocês não importa a ninguém, porém se envolver mais uma pessoa ou querer tirar proveito do corpo dele para outro fins terá o mesmo destino de Toni – concluiu e saiu , Mauro me ajudou a andar até o carro e seguimos para o alemão no maior silêncio, eu só queria poder abraçar minhas filhas.

Vendida Para o Dono Do Morro - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora