Capitulo XXVII

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“Talvez a paz esteja nos detalhes que deixamos passar no dia a dia”
 
— Vendida ao dono do morro
 
 
Cheguei na casa da Roberta e estava muito quieto para uma casa com quatro crianças, então fui até os quatros e me deparei com a cena mais fofa do mundo, estava na cama Rane, Luara e os gêmeos da beta e a beta  dormindo, pensei em pegar as meninas e colocá-las na cama, mas estavam tão quietas que deixei pra lá. Fui até o quarto que eu estava ficando e me deitei um pouco para pensar em tudo que estava acontecendo, eu seria a “dona" do Vidigal, eu poderia ter paz em um lado mas seria muito perigoso por que as meninas ficariam na reta e isso tiraria mais ainda minha paz.
 
 
 
— Podemos conversar? – Mauro entra no quarto com uma lata de cerveja eu afirmo com a cabeça e ele se senta na cama também — Sabe, quando meu pai me designou a seguir seus passos eu não tive uma escolha, eu estava completando dezoito anos e hoje eu não mudaria nada, ser o dono do alemão me fez ver a importância da família, eu pude  ajudar muitas pessoas, famílias que não tinham casa e agora vivem bem debaixo de um teto e trabalhando dignamente – deu uma pausa, tomou um gole da sua cerveja e continuou — Temos muitas rivalidades sim, mas também temos muitas alianças, as vezes conseguimos proteger melhor quem amamos nos arriscando – disse dando um beijo na minha testa e saindo do quarto me deixando um pouco menos confusa sobre o que eu vou fazer, fiquei pensando sobre esse assunto, colocando os pros e contra na ponta do lápis até tomar minha decisão.
 
 
— Daria o mundo pra saber o que se passa na sua cabeça – disse beta entrando no quarto — Está indecisa ainda? – perguntou deitando do meu lado e eu confirmei com a cabeça — Queria dizer que é uma decisão fácil, mas imagino o quanto deve estar preocupada — olhei pra ela com um sorriso tímido
 
 
— Eu tenho vários motivos para não ir, e vários para ir também. Meu pai me deu quase toda a herança dele, tenho milhões na conta que dariam tranquilamente pra eu sair do país e viver bem lá fora, mas eu não posso deixar aquele povo com uma pessoa maldosa cuidando deles e a segurança que isso me traria em relação a Raquel – respirei fundo e sentei na cama olhando pro nada — Eu vou aceitar, vou ser a nova dona do Vidigal e vou transformar aquela favela em um lugar bom pra se viver, igual seu pai fez com o alemão – falei e ela sorriu
 
 
— Eu sempre vou estar do seu lado! – disse me abraçando e ficamos ali conversando até Luara chorar, peguei ela e fui dar de mamar enquanto beta contava o chifre lindo que Roberto tomou — Tava na cara que o filho não era dele, mas ele teimou e ainda pegou sífilis pra aquietar aquele pau dele – eu estava rindo horrores quando meu telefone começou a tocar
 
 
— Alô?
 
 
— Oi Jane, como está? – Cris pergunta do outro lado
 
 
— Ainda estou viva, não graças a Raquel – disse ríspida, não sei até que ponto ela está envolvida, já que foi ela quem me levou pra o ninho das cobras
 
 
— Eu não sabia da herança e nem que a Raquel estava tentando te matar, só liguei pra saber se você estava bem e se a bebê já nasceu – disse segurando o choro — Eu nunca ia trazer você pra morrer Jane, eu só achei que você iria gostar de conhecer nosso pai. Eu entendo se quiser nunca mais olhar na minha cara, mas não me julgue pelo que eu não fiz – disse e eu abaixei a guarda um pouco
 
 
— Luara nasceu faz alguns dias, estamos bem sim e desculpe, foram muitas coisas nos últimos dias pra digerir – disse respirando fundo, ela falou que pra ela também não está sendo nada fácil, todos estão contra ela por acharem que ela deu o golpe na família. Ficamos conversando por um tempo mas precisei desligar pra dar banho nas minhas pequenas e tomar um banho também, já estava cansada de mais e com a cabeça a mil depois de tantas informações
 
 
— Jane, Roberto esta aí querendo falar com você – Vini falou batendo na porta
 
 
— Não tenho nada pra falar com ele – respondi rude, o que ele queria agora
 
 
— Jane o cara tá mal, fala com ele – Vinicius insistiu então abri a porta olhei bem no fundo dos olhos dele e disse tudo que estava entalado
 
 
— Você me pede pra ver seu amigo mesmo depois de tudo que ele fez comigo?  Foram dez anos Vinícius, dez anos de idas e vindas, de traição, de humilhação, me diz você aguentaria ? E quando eu achei que tudo estaria indo em um rumo certo ele me traiu de novo com a mesma pessoa! – eu estava alterada já então minha voz saiu bem alta — Fala Vinicius, se a beta fizesse o mesmo que ele fez comigo com você, ainda a amaria? Perdoaria ela ? Ou eu tenho que perdoar pela milésima vez por ele ser o fodão, instinto masculino né, é mais forte que ele?  Pelo amor de Deus, fala para seu amigo que sim eu perdoou as diversas vezes que ele me traiu, me machucou, me usou e me descartou, mas de mim ele só tem a minha educação – disse mãos nervosa ainda
 
 
— Ele ouviu, o alemão inteiro ouviu – disse rindo, não demorou muito e ele bateu na minha porta de novo então me levantei na força do ódio
 
 
— Sei que é o dono da casa e meu melhor amigo mas eu vou te espan...– quando olhei melhor era Roberto com uma cara abatida
 
 
— Eu só queria te falar que nesse tempo que ficou fora muita coisa mudou, e que eu não quero te ter de volta até por que eu sei o quanto machuquei você e sei que não mereço seu perdão, só queria que você soubesse que eu me arrependo amargamente de ter feito o que fiz e estou pagando pelos meus erros – disse saindo, eu o perdoou mas apenas isso, a mudança vou ver com o passar do tempo e se arrepender depois não adianta , foram dez anos nisso. Fiquei um tempo processando as informações para tomar minha decisão e levando em conta todos os pros e contras eu optei por me arriscar e tentar ajudar a comunidade que me acolheu tão bem, peguei meu celular e liguei pro Mauro
 
 
— Avisa ao Maurício que eu aceito – ele me confortou dizendo que era a melhor decisão e desligou, agora eu sou a dona do Vidigal e agora quem quiser meu bem boa sorte, quem quiser meu mal, boa morte!
 
 

Vendida Para o Dono Do Morro - Livro IWhere stories live. Discover now