Zero.

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{Passado}

Transformar todo o conjunto de memórias a que geralmente denominamos de passado em palavras custa, mas pensar nele como memórias aleatórias levadas pelo tempo, destrói.

Refletir sobre as escolhas que poderíamos ter tomado, as palavras que podíamos ter dito, os momentos que podíamos ter aproveitado, custa, mas é essencial para não cometer o mesmo erro duas vezes.

Eu deixei-a ir.

Deixei que o vento soprasse, para demasiado longe, o seu perfume até ao ponto em que eu já não podia sentir o odor primaveral que já me tinha feito sorrir tantas vezes. Deixei que a água apagasse o seu toque suave que outrora fazia a minha pele pálida arrepiar-se. Deixei que a música se sobrepusesse ao som da sua voz melodiosa que me acolhia. Deixei que os seus beijos fossem substituídos. Deixei que as suas fotografias fossem guardadas em gavetas, e as molduras que as protegiam fossem utilizadas para novas fotografias com outro alguém.

Deixei que o tempo levasse as memórias.

Pior, deixei que o sentimento me fosse retirado de maneira inexplicável.

{Sentimentos}

Sempre ouvira dizer que devemos fazer o melhor para nós próprios, apesar de isso poder magoar os outros. Não sei se se pode considerar esse conceito egoísta ou não.

A verdade é que na altura fiz o que era melhor para mim, pensei em mim, mas também pensei nela, então eu não podia considerar-me egoísta. Lembro-me de ponderar se aquela decisão era a correta e, no momento, parecia.

Agora, dois anos e sete meses depois, não me arrependo da decisão que tomei naquela tarde de Inverno porque eu tinha tido coragem suficiente para não ser egoísta ao ponto de a enganar. Mas as saudades que tinha dela, e a sensação de já não a ter comigo estavam a tornar-se insuportáveis, talvez devido à memória de momentos passados juntos, ou apenas à falta de algo com que eu estava acostumado a conviver.

NostalgiaWhere stories live. Discover now