Prólogo

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Notas: o prólogo foi reescrito e profecia alterada.

Egito - Mênfis

O sol já se punha, mas o pequeno Naruto ainda corria plantação a dentro. Adorava bagunçar todo o sistema de irrigação e fugir de quem o notasse. No grande deserto que nunca chovia se refrescar nos rios ou nas piscinas do palácio eram partes da rotina do pequenino. Especialmente nesse dia foi notado por um número muito maior de agricultores do que o costume e sua rota precisou ser alterada, contornou as plantações de modo furtivo e cuidando para não fazer nenhum som, mas estava tão molhado que acabou escorregando e ao ouvir um grito em sua direção disparou sem pensar rumo ao mercado aberto mais próximo.

Achava que seria fácil se esconder entre tantas pessoas, mas essas o olhavam com reprovação e claramente alarmadas chamando mais atenção para si. Obviamente todos já o reconheciam, a cabeleira loira e os olhos azuis tão únicos a ele não poderiam pertencem a outro, tentou com fracasso esconder sua cabeça com parte de sua túnica, percebera que precisava de um local para se esconder antes que os guardas se inquietassem.

Avistou um beco escuro e fechado, julgou ser ideal para se esconder temporariamente, logo andou cautelosamente até o local. Não havia notado que era tão escuro e tão denso, quanto mais se afastava da saída mais sombrio tudo se tornava, e então os calafrios começaram, mas não parou. Naruto era teimosamente curioso e tornou seu dever descobrir a que fim levaria o beco, enquanto encarava a interminável escuridão sem regredir seus passos uma risada macabra ecoou por toda a extensão, seu coração estava muito acelerado e a adrenalina aumentava para que fugisse por onde entrou. Todavia chegara até ali e precisava continuar, era uma necessidade chegar até o fim.

Então o beco sem fim se tornou subitamente frio, muito gelado como as noites no deserto, já não ouvia mais os risos que antes o cercavam e tudo ficou quieto demais. Pela primeira vez teve receio em continuar e pensou em recuar, e como se algo lesse seus sentimentos uma iluminação lunar clareou seu caminho e uma gigante esfinge o esperava no fim.

Primeiro pensou em como era possível um ser gigante daqueles em um beco tão pequeno, instintivamente olhou para trás e se arrependeu, a escuridão tomou conta de tudo novamente.

"O gatinho se perdeu?", disse uma voz que parecia vir de sua própria cabeça, "Hm, parece ser dotado de total pureza, é um pouco decepcionante sabia?", soltou uma gargalhada e tudo se acendeu. O beco se mostrou do tamanho que imaginara desde o início, a saída estava intacta, tudo tinha voltado ao normal com exceção de uma porta dourada que só então se revelou no final do beco. Ela não parecia possuir cor dourada, mas sim feita de ouro, muito dos desenhos ali não reconhecia. Talvez se tivesse prestado melhor atenção as aulas que recebia de sua mãe conseguisse decifrar os hieróglifos desconhecidos.

Foi então que decidiu entrar, sem bater ou se pronunciar, apenas empurraria a porta. A sensação da porta em sua mão era de formigas caminhando sobre elas, riu com a sensação, o interior se mostrou belíssimo com toda a mobília em puro ouro. Além de todos os hieróglifos que compunham as paredes, teto e chão. Mas o que chamou a atenção foi a mulher sentada atrás de uma mesinha com um pergaminho enrolado em sua mão.

– Eu o estava esperando, sente-se Príncipe.

– Como sabe quem eu sou? Espere... me esperando? – a confusão no olhar de Naruto era clara para a mulher, o que a fez sorrir.

– Primeiro, queira me desculpar pelo que meu... – pensou bem nas palavras para seguir – meu guarda causou lá fora, mas entenda que muitos me procuram intencionalmente e obviamente para fins ruins. Mas por favor, sente-se – apontou para a cadeira dourada em sua frente, enquanto manteve um olhar sereno em resposta a um azul inquieto.

– Quem é você? – perguntou enquanto se aproximava, mas sem sentar, o que fez a mulher suspirar com o ato.

– Receio que essa pergunta ainda não posso responder, um dia lhe contarei. Nosso tempo é curto e vou ser direta sobre os motivos que me levaram a estar aqui em plena luz do dia.

– Se é de seu desejo dificultar meu entendimento, vá a diante – deu de ombros.

– És um príncipe muito engraçado Vossa Alteza. Contudo, preciso insistir que se sente.

– Me diga quem és e– antes que pudesse completar a frase a luz voltou a ficar em escuridão profunda. – De novo? – sem resposta, procurou alcançar algo com as mãos e encontrou a tal, a contragosto resolveu se sentar.

Tudo se acendeu novamente, mas não era mais a humilde sala dourada comparada ao pedaço de oásis em que se encontravam agora. Naruto soltou sons inaudíveis enquanto admirava a beleza do lugar, a superfície abaixo de si parecia uma forma de água, porém não refletia nada e ao fundo podia notar que um pequeno riacho corria entre muitas plantações exóticas para si. Enquanto pensou na ideia de que flutuavam, percorreu os olhos e não viu o deserto, apenas montanhas totalmente verdes.

Não estava mais em Mênfis.

– Onde estamos?

– Em um local longínquo de suas terras Príncipe. Somente aqui podia tratar dos assuntos que tenho com Vossa Graça, por isso a cadeira – apontou para a própria deixando um príncipe muito envergonhado pela teimosia.

– Poderia dizer quem és? – seu olhar era firme contra a serenidade indecifrável do dela.

– Sou a verdade, o correto, a justiça, – respondeu sorrindo reverenciando minimamente a cabeça – e para vocês, egípcios, sou Maat.

– Por isso da cadeira, para me provar quem era – a deusa apenas sorriu em confirmação.

– Sinto muito se o assustei de alguma forma, ainda é um espírito livre e admirei ver como usa toda essa energia humana... Não seria do meu agrado perturbar essa fase em que humanos se desenvolvem e experienciam as coisas novas com tanto ânimo, mas preciso lhe conferir o que os profetas estão prevendo para o futuro de Vossa Graça – seu rosto ainda era totalmente indecifrável, Naruto pensou que talvez não seriam uma má previsão.

– Não possuímos isso de... Profetas por aqui, o que pretende com isso que conta?

– Vossa Graça ainda é muito jovem para conhecer tais coisas e sinto como meu dever informar – parecia prestes a sorrir a qualquer momento, nada mudava sua expressão. Naruto tentou ler sua face tão jovem para uma deusa e os olhos que o incomodavam, imaginou que tal gesto era uma forma de diminuir o impacto do que viria a seguir. Soltou um longo suspiro.

– Prossiga.

Então a deusa adquiriu sua real forma, mas era tão brilhante e cheia de todas as cores que não conseguia distinguir ou verbalizar o que estava presenciando. Encontrou com os olhos sérios dessa vez e com uma voz alterada proferiu o que tanto quisera dizer.

– Lembre-se de minhas palavras, logo atingirá a maioridade e virá a descobrir que não é quem deveria ser. Mas esse não será seu maior sofrimento, ventos quentes trarão seu pior pesadelo e dentro dele a traição por amor. Não sendo o bastante, irá agonizar em sofrimento por aquilo que está ligado à sua alma desde o início dos tempos, para então ser traído novamente por quem nunca poderia imaginar. Nesse momento não deve cair em ruína, essa profecia tem o propósito de minimizar a tragédia e fornecer coragem para enfrentá-la em uma terra tão distante. Porque você é a única chave para dar fim ao que já está corrompido.

Tudo escureceu novamente.

O Harém IndraOnde histórias criam vida. Descubra agora