Capítulo 23 - Jogo Sujo

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S A S U K E


Eu não consegui dormir naquela noite, não conseguia relaxar, pois minha mente estava no quarto ao lado, exepcionalmente em Sakura, que dividia o mesmo teto que eu. Pode parecer tolice da minha parte, mas aquela situação era delicada diante de tudo que aconteceu entre nós.

Eu me sentia extremamente ansioso.

Tenho plena conciência de que Sakura estava dormindo em minha casa contra sua vontade, também tenho conciência de que ela ainda olhava na minha cara por causa do nosso filho. Ele era o único vínculo que nos unia, um vínculo que não pode ser quebrado.

Esse pouco tempo que passei com Itachi, foi uma experiência única e nova para mim. Eu tinha uma meta em de reconstruir o meu clã, mas eu não havia parado para pensar que uma criança poderia mudar uma pessoa da noite para o dia. Não sou um homem que demonstra sentimentos, admito que sou fechado diante disso, que prefiro ocultar tudo o que sinto, sentimentos para um ninja é sinônimo de fraqueza. Mas essa teoria é reavaliada quando está frente à frente com o seu próprio filho, sangue do seu sangue, um inocente que não tem conciência do mundo podre que o rodeia. É impossível não deixar o instinto protetor falar mais alto.

Eu era pai.

Algumas semanas atrás eu estava até conformado de que eu terminaria os meus dias na solidão, que a vida não tinha mais nada de bom para me oferecer. Eu juro que estava conformado de que eu só estava colhendo o que plantei, que eu tinha muitos pecados para pagar e que pagaria lentamente e torturosamente com a minha conciência pesada. Mas de uma hora para outra, a minha vida havia virado de cabeça para baixo. Sakura havia voltado de sua missão longa e trazido o nosso filho com ela. E mesmo sabendo que Sakura nutria um grande rancor por mim, ela não havia me privado de meu direito como pai.

E só naquele momento, eu tive a certeza absoluta de que a vida estava me dando uma segunda chance, e eu estava disposto em agarrá-la com unhas e dentes, pois eu havia admitido para mim mesmo que eu estava farto da vida que eu levava. Estava farto de negar e fugir daquele sentimento que só crescia a cada dia pela Sakura. Eu estava farto de sentir aquele vazio no peito quando eu a afastava sempre de mim, pois lá no fundo eu sabia que ela era a minha fraqueza. Eu estava farto daquele sentimento de solidão, que por muitas vezes me deixava depressivo e me fazia descontar nos outros. Eu estava farto de ficar sozinho, pois eu havia chegado ao meu limite.

Eu queria com todas as minhas forças ter a minha própria família, eu quero ter a Sakura como minha esposa, e criar o nosso filho juntos. Eu não quero ter que sentir aquele sentimento de inveja quando meus amigos falavam de suas famílias construídas, e eu ali me sentindo o resto da humanidade, por que eu sabia que nunca iria ter uma.

Eu queria ter a minha própria família.

Mas eu sabia que teria que lutar muito para ter a Sakura de volta, os danos foram grandes demais, a magoa que ela tem de mim era visível em seu rosto. Eu sei que não mereço o seu perdão, que não sou digno de seu amor. Mas mesmo sabendo disso tudo e tendo a conciência de que eu era um bosta, eu sou extremamente egoísta. Não sou capaz de deixar ela ir, não sou capaz de aceitar que ela fique com outro, pois eu estava apostando todas as minhas fixas em seu amor por mim. O seu grande amor que ela tem por mim. Eu sei que ela me ama, ela tem que me amar...

Suspirei, fechando os olhos com força, sentindo minhas costas doerem de tando que me remexi no colchão. Voltei a abrir os olhos e me levantei da cama, fui para a varanda que havia em meu quarto. Me debrucei sobre o parapeito e fiquei observando o céu com poucas estrelas devido ao sol que começava a nascer no horizonte.

A ansiedade aumentava diante do dia que começava, não sabia o que iria acontecer, a minha vida de repente havia ficado mais agitada, coisa que eu não tinha fazia tempos. Queria ver Sakura, eu daria tudo para saber como ela reagiria quando acordasse, se estaria usando a camiseta que lhe dei. Como teria ficado nela?

Sabia que estava forçando a barra, e que sou um grande filho da puta por pedir uma ajudinha extra ao meu filho. Sim, eu fiz isso e não estou nem um pouco arrependido por isso. Itachi era bom em manipular as pessoas, e ele fez direitinho com a Sakura, até o seu fingimento em dormir no sofá, para ela ficar, ele interpretou muito bem.

Sorri, balançado a cabeça para os lados. Aquilo só demonstrava o nível do meu desespero. Mas aquele pirralho me encheu de orgulho, eu sentia o nosso vínculo ficando cada vez mais forte, eu estava apegado a ele em tão pouco tempo que me surpreendia comigo mesmo. Mas Sakura jamais poderia ficar ciente desse pequeno detalhe, pois cabeças rolariam... Quer dizer, a minha cabeça rolaria, pois sabia que Sakura não pensaria duas vezes em me esganar por usar o nosso filho para meus fins mesquinhos.

Ela não era nada delicada e havia ficado pior com o tempo.

Mas mesmo assim, não iria medir esforços para ter Sakura de volta, e se for para jogar sujo - como usar o nosso filho - eu estava disposto a isso. Claro que eu tinha o concentimento dele, Itachi estava louco para ter o papai junto com a mamãe.

Um movimento estranho seguido de um chakra se fez presente em cima de um galho da árvore que ficava em frente a minha janela. Automaticamente fiquei em alerta, mas logo relaxei quando percebi que se tratava de um membro Ambu.

Ele saltou do galho da árvore e aterriçou agachado no parapeito da minha varanda.

- Sasuke Uchiha. - ele estendeu um pergaminho para mim.

Peguei o pergaminho de sua mão e o abri, tomando conciência do conteúdo. Estava sendo convocado para uma missão de apoio urgente para um grupo de ninjas que havia ido verificar um movimento estranho nas fronteiras do país do fogo, e que não havia voltado.

- A equipe te espera em uma hora nos portões da vila. - disse antes de sumir numa pequena nuvem de fumaça.

Voltei para dentro do quarto, e preparei as minhas armas ninjas e me arrrumei rapidamente. Não queria sair assim e deixar Sakura sozinha, mas não tinha como deixar de lado o dever.

Ajeitei a minha katana na cintura e saí do quarto. Percebi um movimento no corredor e não precisei de muito para saber quem seria.

- Itachi?! - chamei sua atenção para mim, ele estava abrindo algumas portas que haviam no corredor.

Ele veio em minha direção e nos encontramos no meio do caminho.

- Papai, cadê a mamãe? - sua voz soava pouco assustada, segurava a ponta do travesseiro que se arrastava no chão.

- Sua mãe está dormindo ali. - apontei para o quarto que Sakura estava, e observei seu rosto sonolento relaxar. - Aconteceu alguma coisa?

Ele balançou a cabeça para os lados, negando.

- Eu tive um pesadelo.

- De novo? - Senti meu cenho franzir.

Novamente pesadelo? Sakura havia garantido que Itachi não havia sofrido nenhum trauma, havia alegado também que ele vinha tendo pesadelos assim fazia tempo. Eu confiava na palavra da Sakura, mas começava a me preoculpar com o estado de meu filho, pesadelos constantes é sinal de que algo estava errado, digo isso por experiência própria.

Ele assentiu com a cabeça. Me agachei, ficando a altura dele, minhas duas mãos em seus ombros. E mesmo estando um pouco escuro, eu conseguia enxergar os seus olhos verdes me fitando.

- Não precisa ficar com medo, é só um sonho ruim, tudo bem? - ele assentiu novamente. Sorri, agora passando a mão em seus cabelos, os bagunçando. - Eu vou sair em missão agora...

- De novo? - ele questionou, agora mais desperto.

Suspirei.

- De novo. - concluí. - Mas vou deixar você responsável para cuidar da mamãe, tudo bem?

- Eu sempre cuido dela, sou um homem. - ele estufou o peito, e meu orgulho de pai inflou naquele momento. Como eu amava aquele moleque.

Reprimi um sorriso.

- Isso, continue cuidando dela, e nada de falar sobre o nosso segredo, se não a mamãe vai ficar muito brava com o papai.

Ele balançou a cabeça para os lados, os olhos verdes arregalados.

- Eu não vou contar não. - seu tom saiu surpreso.

- Isso.

Fiquei de pé e o guiei até a porta do quarto da Sakura e abri de vagar, podendo vê-la dormindo com as costas voltada para a porta. Dava para ver que ela usava a minha camiseta, e senti algo diferente em mim, mas ignorei por hora. Voltei a fitar Itachi que começava a adentrar o quarto.

- Não faça muito barulho para não acordá-la. Sua mãe precisa descançar.- meu tom saiu baixinho e Itachi olhou para mim.

- Tá.

Fiquei observando entre a fresta da porta, Itachi caminhando na ponta dos pés, arrastando o travesseiro consigo e subindo na cama com maestria, como se fosse exper nisso, e eu sabia que ele era. Em seguida se enroscou nos lençóis de Sakura e ficou todo encolhidinho neles. Permiti-me ficar observando os dois por alguns segundo, as duas pessoas mais importante na minha vida e deixei a minha imaginação tomar conta da realidade e alegar que éramos uma família de verdade, e que quando chegasse de missão encontraria eles esperando ansiosos por mim.

Fechei a porta do quarto devagarinho, agora mais do que decidido de que não deixaria Sakura me escapar. Eu iria ter a minha familia, e isso era uma promessa.

E um Uchiha sempre honra com a sua promessa.

Meu Pequeno HerdeiroWhere stories live. Discover now