Três Desejos [ DEGUSTAÇÃO]

2 - Primeiro Desejo

Tenho que dizer a vocês, ver o gênio foi uma das coisas mais empolgantes e assustadoras que já havia acontecido comigo. Simplesmente não tive reação. Apenas tentei respirar, pois minha respiração estava falhando. Como você imagina um gênio da lâmpada? Um cara de turbante, da cintura para baixo feito de fumaça? A partir desse momento apague essa imagem da sua cabeça. Ele era igualzinho a mim. Tudo! Cabelo, olhos, pele, rosto, era como se fossemos gêmeos idênticos! Ele copiou até minhas roupas, para o azar dele o que eu estava usando era o ridículo uniforme do CCZ. Depois de muito tempo refletindo, eu descobri o porquê de ele ter usado a minha aparência naquele momento: Quem melhor para realizar seus maiores desejos senão você mesmo?

Depois que a fumaça sumiu por completo pude ver o gênio mais claramente. Apesar de sua aparência idêntica à minha, parecia mais uma casca para ele, como se dentro daquele corpo estivesse guardado algo muito poderoso, o que era fato. O gênio encarou meus olhos e não se moveu. Trinta segundos de silêncio. Então, a criatura começou a andar em torno de mim. Apesar de ser um rosto familiar e que eu convivia todos os dias, a sensação não era nada boa. Ele me analisava, como se quisesse ter certeza que eu era realmente quem ele procurava, foi o que senti naquele momento.

Após dar a volta completa ao meu redor, ele parou novamente em minha frente. Tinha algo naqueles olhos castanhos que eu não podia decifrar, um ar misterioso que mesmo sendo iguais os meus não tinham. Finalmente, ele quebrou o silêncio, falando com uma voz amedrontadoramente igual à minha, a famosa frase:

— Vou lhe conceder três desejos, quais são?

Ao saber que eu teria qualquer coisa que eu pedisse, bilhões de coisas passaram por minha cabeça. Eu desejava muita coisa, mas sabia que deveria pensar bem antes de escolher. Ou antes de acordar de algum sonho maluco. Pensava e repensava. Era muito difícil para alguém como eu, cheio de desejos superficiais, escolher apenas três coisas dentre as tantas que achava necessitar. Era uma missão quase impossível. Tentei usar uma lista de eliminação, porém, eu passaria a vida toda eliminado objetos e coisas, mas não chegaria a um resultado. Até que uma ideia me ocorreu, e num momento de deslumbre, passou em minha cabeça este pensamento: Para que me limitar a três desejos quando eu posso ter tudo que quero e quando eu quero? Então, já tomado pela ganância, disse ao "Eugênio":

— Só preciso de um desejo e este me deixará satisfeito — por um momento o gênio me olhou com cara de dúvida, como se estivesse tentando decifrar o que se passava em minha mente. Pareceu surpreso com minha resposta, como se esperasse outra.

— Me diga qual seu desejo, meu amo?

— Quero desejos infinitos!

Falei sem gaguejar, pois eu tinha certeza que esse era o desejo perfeito. Quem nunca sonhou em pedir isso ao encontrar um gênio? Ele não reagiu. Não fez nenhuma expressão. Comecei a achar que esse pedido era contra as normas ou algo do tipo. Encarando meus olhos novamente, o gênio deu um leve sorriso, como se algo em sua mente estivesse confirmado.

— Esse desejo pode ser realizado. Porém, por ser um pedido digamos... exigente, ele tem algumas condições.

Parecia justo. Um desejo desse porte com certeza teria algumas limitações. O gênio desapareceu deixando em seu lugar vestígios de fumaça azul pelo ar. E reapareceu atrás de mim. Quando novamente escutei o som da sua voz, me virei rapidamente em sua direção. A criatura estava encostada na parede logo atrás de mim com leves rastros de fumaça azul pairando sobre ele.

— Você poderá realizar qualquer desejo que não envolva a decisão de outra pessoa, ou seja, que não infrinja o livre arbítrio dela. Exemplo, você não poderia desejar que uma noiva respondesse não ao noivo, pois isso é uma decisão dela — o gênio prosseguiu falando, mas parecia que eu ouvia uma gravação com minha própria voz. O que era bizarro. — O resto é válido. Desde poder voar até riquezas infinitas... — ao escutar ele dizer isso tenho certeza que meus olhos brilharam e hoje tenho mais certeza ainda que essa era intenção do gênio, atiçar minha ganância. Talvez ele continuasse falando se eu não tivesse cortado suas palavras.