Parte I

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With you I'm never healing, it's heartache through and through 

(Something In The Way You Move, Ellie Goulding)


Era estranho estar ali. Quase como em uma experiência fora de seu corpo, ela conseguia se vê naquela sala de aula, escondida no meio do resto dos alunos, comprimindo seu corpo e tentando parecer o menor possível, torcendo para que não chamasse atenção. Seus dedos inquietos brincavam uns com os outros, a distraindo de olhar para frente da sala. Bem, tentando pelo menos. A garota não ousava levantar a cabeça, não ousava correr o risco de encontrar com os olhos de seu professor. Já bastava ter que estar no mesmo cômodo que ele, fingindo que nada nunca havia acontecido, fingindo que cada célula de seu corpo não estava implorando por seu toque. Parte de si pedia para que ele nunca percebesse que ela estava ali – o que era impossível, pois ela sentiu o olhar dele em si desde que colocara o pé dentro da sala –, enquanto o resto implorava mentalmente que ele se dirigisse a ela, pedisse que ficasse após o final da aula, que a tomasse em cima de sua mesa.

Alice jurava que ia acabar louca. Sabia desde o início que aquilo era uma péssima ideia, mas quem disse que ela conseguia argumentar com seu coração? E menos ainda com seus hormônios. Contudo, aquilo já estava virando palhaçada. Sua respiração ficava presa na garganta cada vez que ele olhava na direção de onde ela estava, sua mente gritando em conflito, indecisa entre se fingir indiferente e pedir com os olhos para que ele a fodesse.

Era aquele clichê mais velho que a humanidade. Havia se apaixonado por seu professor, durante as reuniões para seu trabalho final em uma disciplina de seu segundo ano. Entre os encontros extra turno em sua sala e as estendidas no bar perto da universidade após os mesmos, a atração cresceu e ficou descontrolada, e a inibição diminuiu. Até o fatídico dia, era mesma situação que se via nos livros e filmes de comédias românticas: conforme iam ingerindo mais álcool, mais próximos ficavam. Algo sempre os distraía, quebrando o clima e forçando-os a se afastarem. Aquela vez, contudo, não foi assim. Acabaram por consumir vários drinks conforme as horas iam passando, entre risadas e conversas envolventes, se perdendo em um mundo só deles. A cada minuto que passava um centímetro a menos os separava, e no fim, o espaço entre os dois era bem menor que um palmo.

Naquele canto escuro do pub, onde o som da música alta e as conversas espalhadas pelo estabelecimento soavam abafadas, suas respirações se misturavam, curtas e rápidas, demonstrando o quanto ansiavam por aquilo. Os olhares, famintos, procuravam constantemente permissão para aquilo que sonhavam em fazer desde o início. Ambos estavam inseguros, pois além de ser o arquétipo do clichê, era um território desconhecido, proibido. Professor e aluna, tutor e tutelada. Homem e mulher. No final, tudo culminava naquela dicotomia. Acabavam no instinto, na vontade primordial. Desde que chegaram ao bar os dois tentavam justificar que era apenas mais um encontro entre acadêmicos, nada além do enorme respeito profissional entre eles. Porém, a quem queriam enganar? Deixaram a visão profissional de um do outro para trás há muito tempo. Apenas viam o sexo oposto, loucos para conquistarem, para se entrelaçarem. E foi quando a música ficou mais lenta e a luz mais baixa que o mundo que pareceu sumir, sobrando apenas ele e ela ali, como se não existisse mais nada... foi aí que o beijo aconteceu.

Não foi delicado, não foi romântico. Foi voraz, esfomeado, forte como uma onda, loucos para consumirem ao outro. Os lábios ávidos, nunca do mesmo jeito por mais de um segundo, conectados como se nunca tivessem existido sozinhos. Era ao mesmo tempo como voltar para casa e como experimentar ao nunca visto em vida. Só sonhos, devaneios do nirvana, chegariam perto daquele momento. Os segundos se passavam, se tornavam em minutos, as respirações se tornavam cada vez mais pesadas enquanto o oxigênio ia fazendo mais e mais falta em seus pulmões. Por fim, a necessidade de respirar se fez mais forte e se separaram, não mais que alguns milímetros. Olhares fixos um no outro e sem pronunciar qualquer outra palavra, ambos sabiam que aquilo não terminaria ali.

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