sequestro

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 Sam

Meth e eu estávamos à beira de um pequeno riacho perto do acampamento pegando um pouco de água para bebermos e conversando sobre nossas chances de chegarmos ao nosso destino. Mas eu quase nem prestava a atenção no que ela falava, não conseguia parar de pensar em Hanna. Ela e sua mania irritante de ficar nervosa e sair andando.

– Onde será que Hanna está? – Acabei perguntando.

– Não sei, também estou começando a ficar preocupada com ela – respondeu Meth - Acha devemos procurá-la?

Quando ia responder, Hanna apareceu do meio do mato. Seus cabelos negros e compridos tampavam seus olhos acinzentados. Sua pele era extremamente branca que beirava ao pálido , com algumas sardas nas bochechas. Ela odiava usar vestido, por isso andava feito um garoto pelas ruas, mas mesmo assim eu achava-a bonita. Quando tirou os cabelos da cara pude ver que seu rosto estava inchado de tanto chorar. Quis perguntar oque havia acontecido, mas antes que pudesse falar ela levantou o rosto e disse entre um sorriso torto:

– Temos que ir andando. Temos uma longa viagem pela frente.

Não queria perguntar o que acontecera, queria deixar o assunto para depois, mas Meth como sempre tomou à dianteira.

– O que houve? Porque estava chorando?

– Nada, eu escorreguei e ralei meu braço. Só isso – disse ela terminando de limpar o rosto.

Não me parecia "só isso" ela estava realmente muito abalada para ter ralado o braço. Mas não quis incomodá-la.

– Bem, vamos então - Falei antes de Meth falar mais alguma coisa. – Temos muito caminho pela frente.

– Vamos então. – respondeu Hanna com um falso sorriso no rosto.

Saímos andando pela trilha coberta de gelo que ficava cada vez mais intenso a cada passo que dávamos. Eu realmente não estava preocupado de alguém nos seguir, estava mais preocupado com as depressões que o caminho tomava, e por esse motivo cometi um erro gravíssimo. Eu não havia percebido, mas algo nos observava, até que Hanna parou e disse:

– Acho que estamos sendo seguidos.

– Bobagem garota. – respondeu Meth com um tom confiante até de mais.

Eu a admirava muito, ela era corajosa e lutava de uma forma só dela, mas às vezes pelo seu modo impulsivo de agir sempre nos metia em uma enrascada, e não sei por que, mas toda vez que Hanna dava uma opinião ela discordava e eu ia junto, mas dessa vez não fui em sua onda.

– Não é bobagem, também sinto alguma coisa nesse local.

– Bem. – disse Meth por fim – Já que você está dizendo... Mas não acho seguro pararmos aqui, podemos ser uma isca muito fácil.

Nisso eu concordava com ela, mas algo naquele lugar me causava calafrios, sei que estava nevando, mas não é esse tipo de calafrio, era como se tudo em nossa volta morresse, como se não houvesse vida naquela parte da floresta. Antes de perceber, senti uma mão agarrando meu pescoço e imediatamente mais duas figuras fizeram o mesmo com Meth e Hanna. Eu podia ouvir seus gritos abafados pelas mãos dos captores.

– Ah, me solte sua coisa. – berrava Meth.

Até que uma coisa a parou, de repente pude ver que a criatura estava apontando uma pequena faca em sua garganta. – pequena, mas muito afiada. - Hanna não deu sinal de vida. E isso me deixou preocupado.

– O que vocês querem conosco? – disse em meio aos berros.

Ninguém me respondeu, até que senti uma batida em minha nuca e apaguei.

                                                                                    **

Acordei e senti minhas mãos e pés amarrado em uma árvore, meus pulsos estavam começando a adormecer e minhas pernas faziam o mesmo. Não vi os raptores por perto, mas podia sentir Meth se debatendo para se soltar das cordas, e Hanna estava desacordada em uma árvore mais distante. Tinha sangue escorrendo em sua testa, o que indica que ela lutou antes de ser detida, Meth, por sua vez estava com o nariz sangrando e o olho esquerdo roxo, apesar de estar de noite eu pude ver esses detalhes pela luz da lua cheia que pairava sobre nós

– Meth... - Chamei cuidadoso para que os sequestradores não ouvissem. – Você está bem?

– Já estive melhor, e você?

– Bem mesmo eu não estou, mas isso não importa, será que Hanna está bem?

– Não sei, eu tentei chamá-la, mas alguma coisa me bateu na minha nuca e eu apaguei.

Não conseguia pensar direito, minha cabeça latejava, como se alguém estivesse batendo nela de leve e depois aumentava o ritmo da batida. Não tinha a mínima ideia de onde estávamos, mas sabia que era longe de nosso acampamento. Percebi isso porque as árvores, os morros, até as rochas tinham mudado – sei tudo isso porque literalmente não me esqueço de nada, nada mesmo – Até àquela hora não havia visto os sequestradores, até que ouvi um barulho.

– Finja que está dormindo. – sussurrei para Meth.

Ela assentiu com a cabeça.

Consegui ouvir alguns sussurros, mas não conseguia entender bem, parecia outra língua, até que por fim um disse:

– Ei, garoto, acorde – senti uma enorme batida em minha testa e abri os olhos.

– O que vocês querem conosco? – perguntei rispidamente, como se eles fossem me obedecer.

– Ah, realmente vamos responder essa pergunta, por que somos caras retardados.– Disse o primeiro

– Agora cale a boca e nos deixe trabalhar, por que ganhar Dracmas esses dias está difícil, então temos que cumprir ordens – Falou o segundo.

– Não era para você ter fala isso seu imbecil. – disse um terceiro cara dando um tapa na cabeça do companheiro.

– Me desculpe chefe.

Ainda não os tinha visto direito, mesmo com a luz da lua que estava em seu ápice, pois cada um usava um capuz que tampava o rosto, mas o corpo ficava desprotegido dando a eles uma aparência fantasmagórica, que bruxelava sobre a luz da lua, e por causa desse efeito pareciam flutuar.

Não tive muito tempo para absorver essas características, pois um deles percebeu meus olhos passando de um ao outro e me deu uma pancada na testa que me fez desmaiar e acordar somente no dia seguinte.

Arqueira perdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora