Capítulo 8: Mudanças

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Era véspera de Natal. Tivemos um culto com diversas apresentações no dia anterior. Eu cantei "Noite de Paz". Mais tarde, participamos de um jantar na casa de um casal que meus pais conheciam desde que eram crianças. Eles tinham gêmeos. Dois meninos com 12 anos. Como gostavam muito de vídeo game, não precisei conversar com eles. Senti-me aliviada porque só desejava ficar em um cantinho com os meus pensamentos. Não conseguia entender porque não tínhamos nenhuma notícia de Hyuk e sua família. Tudo o que conseguimos foi uma informação de que eles viajaram, só isso. Meu pai estava de férias e como só voltaria ao trabalho na segunda semana de janeiro, estávamos a caminho de Americana para passarmos as festas de final de ano com os meus avós maternos.

Como saímos muito cedo de São Caetano do Sul, no horário do almoço já estávamos em Americana. Minha avó preparou um banquete. Ela amava cozinhar. Após o almoço, meu avô apareceu com um pote de sorvete.

- Anne, se você adivinhar o sabor, poderá repetir três vezes! - Ele colocou o pote em cima da mesa e mostrou três dedos.

- Repetir três vezes, Nelson? É muita coisa! - Minha avó reclamou. - E a Anne está crescendo, ela nem gosta mais de sorvete!

- Até parece, Maria! Eu ainda gosto muito e já passei dos 18 aninhos! - Meu avô brincou. - Então, Anne, qual é o sabor? É muito difícil!

- Creme - eu respondi sem animação.

- Acertou! Mas que desânimo é esse? É o seu sabor favorito! - Ele abriu o pote. - Não sei se poderá repetir três vezes, mas duas, com certeza, minha neta linda!

- Obrigada, vovô, mas não quero! - Quando eu disse isso, meu avô arregalou os olhos.

- Como é? Eu ouvi direito? Você não quer sorvete de creme?

- Está doente, menina? - Minha avó colocou o dorso da mão à minha testa.

- Não quero sorvete de creme - neste momento meus pais se aproximaram.

- Minha doce Anne disse que não quer sorvete de creme?

- É isso mesmo, pai! Agora vou para o meu quarto, estou cansada - me levantei e antes que chegasse perto da porta da sala, minha mãe segurou o meu ombro.

- Anne, não está se sentindo bem? Você recusou sorvete de creme? Foi isso o que acabei de presenciar?

- Sim, foi isso mesmo! Peço desculpa, vovô, não quero mais sorvete de creme.

- Anne, filha? O que foi? - Agora era o meu pai.

- Eu só não quero mais sorvete de creme! É só isso! Não quero! - Comecei a chorar. Tentei me segurar, mas foi impossível. - Só voltarei a chupar sorvete de creme com o Hyuk! - Eu disse entre as lágrimas. Minha mãe me abraçou.

- Ah, minha querida, então é isso! - Pedi licença para ir até o quarto. Queria chorar em paz. Meus pais, com certeza, conversaram com os meus avós sobre Hyuk porque eles não me ofereceram mais sorvete de creme enquanto estivemos em Americana.

Fiquei muito triste por meu amigo viajar sem se despedir e preocupada também. |Só podia ter acontecido alguma coisa séria. Era muito estranho. Com certeza era culpa do "general"! Ao retornarmos para São Caetano do Sul, meu pai me levou até a mansão. Fomos atendidos pelo senhor Hermes. A família estava viajando. Na segunda semana de janeiro, meu pai retornou ao trabalho. Naquela segunda-feira, eu o recebi no portão. Estava ansiosa.

- Minha doce Anne, que honra! - Ele brincou.

- E o Hyuk, pai? Conseguiu alguma informação?

- Oi, pai, bênção, pai, como foi o seu primeiro dia de trabalho? - Repeti tudo o que ele disse, rapidamente. - Ah, Anne, Deus a abençoe! Tive um bom dia. Vamos conversar lá dentro! - Foi então que descobri que meu amigo estava muito longe. Coréia do Sul! Eu chorei ao ouvir isso. - Minha doce Anne, acalme-se, ele só está viajando.

- O que está acontecendo? - Minha mãe, que estava na cozinha, apareceu na sala de estar. Meu pai explicou. - Filha, até parece que ele morará na Coréia! - Percebi quando o meu pai olhou para a minha mãe de um jeito estranho.

- O que foi, pai? Tem coisa aí! Ele não voltará?

- Anne, eu não sei. Não consegui falar com o senhor Carlos Eduardo hoje. Ele não apareceu na empresa, mas dizem que está no Brasil, bom, a fofoca na empresa é que... os pais de Hyuk se separaram. - Para mim meu pai não disse, mas ouvi uma conversa dele com a minha mãe, após o jantar. Sei que é feio ouvir atrás da porta, mas quando mencionaram o nome de Hyuk, eu não resisti. A fofoca era maior. Diziam que a mãe de Hyuk descobriu uma traição e viajou imediatamente com o filho. Primeiro foram para Florianópolis, onde tinham uma bela casa, depois voltaram para a mansão em São Caetano, mas só para organizarem a viagem para a Coréia.

Sofri por meu amigo. Imaginei a barra que estava enfrentando. Não consigo imaginar os meus pais se separando, não mesmo! E ainda mais por traição! Como o pai de Hyuk é canalha! Além de não dar amor ao filho, traiu a esposa? Então foi por isso que meu amigo não apareceu naquele sábado. Como gostaria de conversar com ele! De fazê-lo sorrir, apesar de todos os problemas. Como seria maravilhoso sairmos juntos para chuparmos sorvete de creme com cobertura de chocolate e irmos ao shopping ou ao parque, o nosso parque! Naquele momento fiz uma oração por meu amigo e sua família, e prometi que só chuparia sorvete de creme com Hyuk. Pode parecer uma bobagem, mas fiz esta promessa e a cumpri. Foram cinco longos anos sem sorvete de creme com cobertura de chocolate.




Será que a Anne exagerou? Não chupar mais o seu sabor de sorvete favorito?

Cinco longos anos? Por que será que Hyuk se ausentou por todo esse tempo?


Anne e HyukWhere stories live. Discover now