DOZE

360 28 56
                                    



◇◆◇◆◇◆


   Duas horas, sete minutos e vinte e seis segundos depois, a porta volta a se abrir. Muitas batidas de coração e poucas conclusões sensatas entre elas. Só então pulo de meu estado de choque e consigo me perguntar como consegui ficar parada na mesma posição por tanto tempo. Pensamentos dispersos se movendo por minha cabeça como flocos de neve perdidos pela atmosfera antes de atingir o chão. Tudo muito mórbido e gélido. Tudo capaz de me congelar de dentro para fora. Capaz de me assustar até a medula.

Susanna entra pacificamente, a seu modo de mudar passos calmos e firmes. Algo em sua estatura está oscilante, o que rapidamente me diz que ela baixou suas defesas por um momento, apesar de que não intencionalmente. A enxurrada de informações testa meus níveis de paciência, tomando conta de minhas sinapses com uma supernova. Sinto que vou entrar em ebulição a qualquer momento. E seja lá o que for que tenha sido implantado em meu cérebro, sei que não tem nada a ver com isso.

É meu medo agindo com mais impulso.

Porque não sei o que vem agora. E não saber é uma droga. Droga, droga, droga.

― Sei que você ainda deve estar muito confusa... Mas chegou a hora de se adaptar à sua nova vida, Trice.

Meu olhar sobe até ela.

― Você deve estar realmente esperando que eu faça isso, não é?

Ela anuiu um suspiro.

― Você não faz ideia do quanto.

Mais uma vez me forço a entender essa coisa por trás de suas palavras. Essa coisa responsável por todas as outras coisas subsequentes. Essa coisa que me faz achar que não estou vendo algo importante, como simplesmente a coisa mais óbvia do mundo. E isso apenas me remete ainda mais a um sentimento pleno de infinita impotência.

Mesmo que eu esteja mais forte que nunca, também me sinto mais impotente que nunca. Sei o rumo que o trem está tomando, mas não posso fazer absolutamente nada para mudar a direção dos trilhos.

― E o que você quer que eu faça? Minta que mal estou me contendo de felicidade e mal vejo a hora de começar?

Susanna nega com um movimento de queixo.

― Não. Quero que você veja Jota.

Meu olhar volta a subir até ela. 





***



Jota está ali.

Quando Suzanna me tirou de meu quarto e me arrastou até a sala clara e muito bem mobiliada de nosso apartamento, mal notei no requinte exagerado da decoração ou parei para pensar em quantas mil unidades haviam sido gastas nela. Ou em quantas vidas poderiam ser poupados com a venda de apenas um dos quadros enfileirados nas paredes cor de creme. Nem o fato de estar, pela primeira vez, cercada de luxo se apossou tanto de minha atenção quando ao fato de estar vendo Jota pela primeira vez depois que toda a loucura começou. Eu não havia tido tempo de pensar muito sobre o assunto. Os problemas haviam se engrandecido de tal forma, que nem mesmo me recordei do mais importante.

Jota também está passando por isso.

Ele continua alto. Seus cabelos lisos, geralmente opacos, não estão mais da cor do trigo, e sim dourados e brilhantes. O mesmo acontece com seus olhos. O azul fraco está quase translúcido e elétrico. Todas as manchas e cicatrizes que antes marcavam sua pele e o tornavam tudo que ele representava, sumiram, dando lugar à uma perfeição lustrosa e suave. E há uma perspicácia em seu olhar peculiar. É parecida com a que eu vi quando me olhei no espelho hoje. E não é a única semelhança. A expressão mecânica também está presente em cada traço de suas feições, já não tão familiares assim. Ele é o novo Jota Insignante, com características Falcon de um soldado perfeito.

INSÍGNIA_ Guerra Das Máquinas IWhere stories live. Discover now