ACT.II: Rising

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ISAK E EVEN NÃO SE FALARAM NO PRIMEIRO DIA. Nem no segundo. Muito menos no terceiro. Já era de se esperar, afinal de contas, não começariam a conversar e conviver assim, "do nada", somente por causa do pedido de uma professora, não é? E nem era lá uma professora muito... sã, digamos assim... na opinião deles.

Mas ao menos se olhavam. Algo mudou, entretanto. Não passavam um pelo outro ao cruzarem caminho sem ao menos notar a presença. Uma troca de olhares envergonhada acontecia e um "oi" encabulado ou um aceno rápido com a cabeça poderia aparecer.

A primeira interação de verdade ocorreu dois dias antes da próxima aula de teatro. Even estava caminhando pela área arborizada da escola até ouvir a voz de Isak. Franziu as sobrancelhas e olhou em volta, sem saber exatamente onde ele estava. Seguiu a direção do som e o encontrou sentado em um banco de pedra próximo de uns arbustos. Estava lendo a peça adaptada de Vilde e treinando suas falas.

"Ah, isso é muito difícil!" berrou Isak frustrado e passou a mão pelos cabelos.

"Como pode ser difícil?" pronunciou-se Even, provocando um susto em Isak. Com sua longa perna, atravessou o arbusto e se sentou no mesmo banco de pedra. "Até onde eu sei, você dorme a peça inteira".

"Eu não durmo a peça inteira!" Isak rosnou.

"Ei, amigos", Even soltou um riso convencido, "estou só brincando".

"E eu estou ensaiando, como já percebeu", Isak tirou seus olhos de Even e os voltou para o livro encadernado pendendo em sua mão.

"Não seria melhor se você ensaiasse comigo?" perguntou Even com a garganta seca sem querer pensar nas condições das personagens e tentando apenas focar na atividade que a professora estabeleceu.

"Pra isso tenho que saber minhas falas", Isak manteve os olhos presos ao objeto em suas mãos. Even ficou calado por um tempo sem saber o que dizer ou o que fazer. "Enfim, eu preciso comer agora". Levantou-se Isak.

"Ótimo. Eu estava indo para a cantina mesmo", Even se levantou também. Isak apenas deu de ombros e, assim, eles caminharam lado a lado mais uma vez. E em silêncio, é claro. Até que, no meio do caminho, Even simplesmente virou-se para Isak e vozeou: "Foda-se a cantina, cara. Vamos comer lá em casa!"

"Por que?" Isak cerrou o cenho e crispou os lábios.

"Por que?" Even abaixou a cabeça sem saber o que dizer. Por que deveria ter um porquê? "Será melhor para ensaiar lá", deu de ombros e começou a andar no caminho oposto, esperando que Isak o seguisse, o que não aconteceu por meio minuto. "Vamos logo, cara, pode ser?" Even não sabia se agia sério ou se sorria.

"Tanto faz", Isak deu de ombros e seguiu o outro. Pela primeira vez, estavam seguindo o mesmo rumo quando passaram pela intersecção de seus caminhos para casa.

Minutos depois, estavam entrando em um lugar pequeno, porém bonito. Isak notou os casacos pendurados na parede na entrada da casa de Even e observou que ele tirava os sapatos, então fez o mesmo. Sua jaqueta ficou largada por lá também, junto com a mochila.

"A cozinha é por aqui", apontou Even envergonhado e caminhou até lá procurando não olhar para trás. Em completa timidez, Isak o seguiu. "O que você gosta de comer?"

"O que você for comer tá bom pra mim", respondeu simplesmente ao rodopiar e se encostar no balcão.

"Você pode se sentar aí, se quiser" disse Even enquanto pegava pão de forma, queijo e uma faca.

"Que queijo mais suado, cara", comentou Isak ao ver Even colocando o queijo gosmento no pão.

"Ah... eu esqueci ele fora da geladeira quando fui pra escola hoje", justificou-se Even. "Tem problema?"

An Act of Kindness (EVAK Short Fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora