Capítulo Cinco

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— Trago boas novas, Majestade! - Andrew entrou na sala do trono com um sorriso radiante.

Henry dispensou o criado que o servia vinho, e tentou não demonstrar tanta euforia, já podendo imaginar as boas novas.

— Pode dizer. - Os dois estavam quase completamente sozinhos, havia alguns guardas perto das portas, por isso tinham que manter algumas descrições.

— Falei com algumas costureiras em Scarborough, mas a grande parte não sabia como atender o pedido de Camille. — Andrew não conseguia parar de sorrir. — Porém, conversei com uma senhora hoje de manhã, que segundo ela, é possível fazer esse tipo de camisa.

O coração de Henry deu um salto em seu peito. Ah! Como estava feliz com esta notícia!

— Mas, Vossa Majestade... — Andrew engoliu em seco, totalmente desconfortável. — Esse pedido só pode ser realizado com magia.

— O quê?! — Da mesma maneira que a euforia de Henry apareceu, ela também desapareceu. — A mulher é uma bruxa? Isso é gravíssimo! Andrew, você sabe que todas as bruxas tem que ser levadas para igreja. Isso é um pecado grande contra Deus! *

— Foi a única maneira que eu achei, meu senhor. - Andrew estava completamente envergonhado.

Henry estava tão inquieto que se levantou do trono e ficou andando de um lado para outro. Até que enfim, a curiosidade lhe o venceu.

— Como ela conseguirá fazer a camisa de cambraia?

— Parece que essa senhora, inventou algo que gruda muitas coisas, um papel em outro papel, por exemplo. Ela chama essa invenção de cola. - Andrew deu de ombros, era meio esquisito saber que algo colava as coisas.

Cola? - Henry repetiu, erguendo uma de suas sobrancelhas.

— Cola.

— Certo, não temos outra opção. - O rei massageou a testa para aliviar a tensão no local. — Leve os tecidos de cambraia para a Costureira. Faça tudo com sigilo e peça para a senhora fazer o mesmo, o reino irá compensá-la bem.

[...]

Demorou três dias para que a camisa de cambraia ficasse pronta.
Camille não sabia se isso a preocupava, ou a deixava animada com idéia de que o rei havia desistido.

Até que em um dia normal na feira, Camille que estava distraída em sua barraca, escutou alguém pigarreando para chamar sua atenção. Assim que levantou sua cabeça, se deparou com Andrew um tanto sorridente para o seu gosto.

— Para a senhorita. - Ele estendeu um embrulho simples em sua direção, Camille ficou tensa no mesmo instante. — Presente de sua Majestade Real.

Com um pouco de receio pegou o pacote das mãos de Andrew, fazendo os seus dedos se encostarem um pouco e um tenso sentimento constrangedor, surgir entre os dois.

Camille abriu o embrulho um pouco hesitante e se deparou com a camisa de cambraia, sem nenhuma costura.

— Impossível. - Camille sussurrou para si mesma, e o sorriso de Andrew cresceu.

A camisa estava um pouco dura em algumas partes, e por conta da cola, ela estava um pouco suja também. Percebendo isso, a camponesa sorriu, aquilo a levaria ao plano B.

— Mas que deselegante... - Camille fez uma careta e o sorriso de Andrew morreu. — Está toda suja! Veja você mesmo.

Ela estendeu a camisa na direção do nobre. Assim que viu a sujeira, Andrew ficou um tanto tenso e irritado, sabia que aquilo levaria Camille fazer outro pedido exigente.

— Deselegante é a senhorita, se não aceitar esse presente do Rei! - O rosto de Andrew estava vermelho, de tão irritado que estava.

— Mas como o Rei irá provar o seu amor por mim, se isto está com uma aparência horrível?! - Andrew bufou ao ouvir aquilo, queria esganar aquela plebéia.

— O quê deseja que eu faça?

— Diga a seu rei que só vou aceitar esta camisa, se ela for lavada a seco no lugar onde a água surgiu e a chuva nunca caiu. E só assim, ele terá o meu amor de volta.

[NOTAS]:

* Naquela época, não era normal nenhum tipo de magia ou coisas semelhantes. Qualquer coisa relacionada a tecnologia, ou de coisas brilhantes e bonitas era considerado magia negra. As pessoas que faziam isso eram mortas, ou levavam alguma tortura horrível. *

* A cola surgiu no período do Egito Antigo, mas vamos fingir que foi inventada por uma senhora na Idade média, haha! *

Scarborough FairWhere stories live. Discover now