Horizon

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- Quem está nos perseguindo? - perguntou Thierry e, pela terceira vez seguida, não obteve qualquer resposta. A moça que o encontrara na floresta o estava arrastando por um emaranhado de folhagens sem fim sem sequer dar-se ao trabalho de olhar para trás. - A senhorita poderia ao menos dizer-me aonde estamos indo?


Subitamente, a moça parou de andar, fazendo com que Thierry quase esbarrasse em seu corpo esguio. Ela sentou-se no chão e, com um puxão, trouxe Thierry para o seu lado.


- Aqui. Este é o nosso destino.


Thierry olhou ao redor. Eles se encontravam em um local plano, mais arejado e iluminado que o resto da floresta e circundado por árvores tão próximas que seria impossível uma pessoa passar por entre elas.


Mas, então, como...


Ele olhou para trás, mas não encontrou a abertura ampla que lhes permitira penetrar ali. Em seu lugar encontrava-se uma bela árvore muito mais verde e jovem que as outras. Era impressão sua ou a árvore estava crescendo visivelmente?


- Temos um tempo antes que ele nos encontre. - falou a moça já abaixando o capuz de sua capa e revelando seus cabelos lisos e compridos da cor de terra molhada e as íris de um verde tão vivo quanto a grama sob os pés descalços de sua dona. Suas orelhas eram ligeiramente pontudas e os olhos eram inclinados para cima, o formato e a cor lembrando brevemente uma folha.


Folha. Esta era a pessoa a qual a moça misteriosa lembrava.


- A senhorita é idêntica a uma pessoa que conheci. Por acaso é parente de uma mulher chamada Folha?


- Pelo nome dela, provavelmente devemos ter alguma relação de parentesco, mas não é muito incomum que eu me assemelhe a alguém. - a moça deu de ombros, rindo. Ela falava tão rapidamente que suas palavras saíam atropeladas. - Somo todos muito parecidos.


- De quem está falando?


- Dos outros elf... - ela levou instintivamente as mãos à boca, reprimindo-se. - Sinto muito. Não posso falar sobre este assunto com alguém como você.


- Alguém como eu? - Thierry esperou que a moça não estivesse lhe dirigindo uma ofensa.


- Normais.


- Normais?


- Pessoas que não... - ela interrompeu-se novamente. - Quase me fez falar novamente.


- Apenas quero entender o que está acontecendo. Provavelmente a senhorita deve ter visto o que fiz àquele homem.


- Não se preocupe com isso. Ele já estava morto de qualquer modo e o senhor acabou com o seu sofrimento antes que ele caísse em tentação e se tornasse um Secundário. Eles sim são bem perigosos.


- O que quer dizer com isso? Como aquele homem poderia já estar morto? O que é um Secundário?


- Não posso contar-lhe. Quantas vezes terei que repetir? - perguntou a moça enquanto colhia algumas folhas de árvores e as enfiava compulsivamente na boca. - O importante é que era uma questão de vida ou morte. Ou um ou outro. Fez o que tinha que fazer para sobreviver.


- Então, terei que contentar-me com suas meias palavras?


- Sim. - respondeu ela com a boca cheia. Ela mastigou as folhas por um bom tempo e depois cuspiu a gosma verde e cheia de saliva na própria mão. Thierry contraiu o cenho, enojado. - Poderia estender-me sua mão machucada?


Sem entender exatamente as intenções da moça, Thierry relutou em fazer o que ela pedia. Acabou, porém, cedendo ao pedido. O que ela poderia fazer para prejudicá-lo, afinal?

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