O destino dos Deuses - A história de Kishan

Anamika 3

Depois de passar meses observando o tempo, eu estava pronta para voltar. Kishan tinha ficado sozinho por muito tempo e ele precisava de mim.

— Ainda não Anamika. Tem algo que você precisa saber. Uma decisão que você precisa tomar antes de voltar.

— Então me diga o que eu preciso saber.

— Você sabe que Kishan é um Deus e que, como Deus, ele precisa se casar com uma Deusa para que ele desenvolva plenamente seu verdadeiro poder.

— Sim, tenho ciência disso.

— E você também sabe que nasceu para ser uma Deusa. Você já esteve destinada a um Deus antes. Você já foi uma Devi, mas escolheu outro caminho, mais longo. No entanto, teve outra oportunidade e tornou-se Durga.

— Sim. Os Deuses foram bons comigo.

— Então Anamika, agora você tem dois caminhos: Terminar sua evolução, através do sacrifício, ou usufruir do poder da Deusa, encontrar felicidade plena nesta vida. Você viverá por séculos. Mas neste caso, haverá um preço a pagar.

Eu franzi a testa, intrigada. Eu queria saber que caminho era este a que Phet se referia. Eu já tinha aprendido a transitar pelo tempo. Mesmo sabendo que não era aconselhável conhecer o próprio futuro, eu desejei saber. Então eu vi.

Kishan estava no meio da floresta, usando roupas pretas e estava descalço. Eu sabia que ele tinha estado como o tigre. Eu me aproximei de suas costas e toquei seu ombro. Ele virou-se para mim assustado, levantando-se rapidamente. Ele me abraçou e chorou, enquanto eu o consolava. Kishan estava sofrendo por Kelsey. Eu cuidei dele por vários dias, até ele começar a se acostumar com a falta dela. Depois de alguns meses, ele já não pensava nela.

Nós conhecíamos um ao outro. Nós compartilhávamos nossos pensamentos quando Durga montava em Damon. Ele sabia que eu o amava. E passou a me amar também.

Kishan se tornou um Deus poderoso. Nós nos casamos e construímos uma casa no alto de uma montanha. Tivemos dois filhos. Eles eram deuses guerreiros, como o pai.

Kishan e eu lutávamos em muitas batalhas. Nós viajávamos combatendo o mal que havia no mundo.

Nós vivemos juntos por muitos anos. Vimos nossos netos, bisnetos e tataranetos. Nós não envelhecíamos.

Eu sabia que Kishan não era imortal, este fora seu sacrifício: abrir mão de sua imortalidade para trazer seu irmão de volta à vida. Mas Kishan era poderoso e eu esperava que o dia de sua morte demorasse a chegar. Ele envelheceria e morreria naturalmente, em casa, cercado por aqueles que ele amava. Mas não foi assim que aconteceu.

Nós lutávamos contra uma horda de demônios que aterrorizava uma cidade. Mas eles não eram páreos para nós. Achávamos que a luta havia terminado. Os demônios estavam mortos e nós baixamos a guarda.

Kishan sorriu para mim e me beijou, como sempre fazia. Neste momento, eu ouvi um som terrível, de algo sendo cortado. O cheiro forte de sangue fresco invadiu minhas narinas e o líquido quente se derramou sobre mim. O corpo morto do meu amado tombou de joelhos diante de mim, enquanto sua cabeça rolava para o outro lado.

Eu gritei de dor e de agonia. Um demônio segurando uma grande lâmina, ria diante de mim. Ele era enorme e poderoso, e não estava sozinho. Um exército de demônios poderosos o acompanhavam. Eles haviam nos enganado e nos atraído para uma armadilha, usando aqueles demônios fracos. E agora Kishan estava morto.

Eu estava devastada e sem forças, quando fui agarrada por alguns demônios, que me seguravam, enquanto seu líder me olhava com malícia.

— Você é linda Deusa Durga. Eu não te matarei. Terei muito prazer em torná-la minha consorte.Você vai ver o que é um homem de verdade!

Ele riu e encostou seus lábios ásperos nos meus, com violência. Então eu despertei. Minha força, que me abandonara alguns minutos antes, voltou. E impulsionada pelo ódio e pelo desejo de vingança, ficou ainda mais potente.

Eu mordi o lábio do demônio, que urrava desesperado. Sentia o gosto amargo do seu sangue negro em minha boca. Então, cuspi com desprezo o pedaço da carne que eu arrancara dele e puxei meus braços, lançando aqueles que me seguravam para longe.

Outros demônios vieram correndo me atacar, mas eu fui mais rápida e peguei minhas armas de volta. Uma por uma, eu arranquei a cabeça daqueles demônios.

Quando terminei, estava banhada de sangue negro, da cabeça aos pés, gritando em agonia. Enlouquecida, arranquei minha roupa, em desespero, procurando pela cabeça do meu amado, que tinha se perdido no meio de tantos corpos. Eu estava nua, meus olhos vermelhos de tanto chorar e minha pele era negra, por causa do sangue de demônio.

O líder dos demônios, vendo seu exército destruído, tentou fugir. Eu lancei o chakran, arrancando-lhe a cabeça. Então, caminhei até ele, pisando sobre os corpos e segurei sua cabeça com uma das minhas mãos, rindo descontroladamente. Ergui outra mão e fogo começou a sair dela.

Eu havia enlouquecido de tanta dor. Queria destruir aquele lugar, onde meu amado marido perecera. Eu precisava queimar aquela cidade. E eu o fiz.

Toda a cidade ardeu em chamas. Eu não me importava com os justos, com os inocentes. Eu só queria aplacar meu ódio e minha dor.

Quando percebi o que eu tinha feito, era tarde demais. Todos estavam mortos e a cidade destruída. Eu não tinha nem o corpo de Kishan para chorar sobre ele. Desesperada, segurei o chakram e em um só golpe, cortei minha garganta tão profundamente, que minha cabeça quase se separou do meu corpo. Eu cai no chão, enquanto meu sangue vermelho escorria pelas cinzas da cidade.

Então a visão mudou. Eu estava em um lugar muito quente. Havia muita areia e nada mais. O sol escaldante brilhava alto no céu. Aquele lugar não se parecia com a Índia. Então eu vi, um animal sair da areia. Um escorpião.

Minha alma havia regredido.

Toquei o amuleto e desejei voltar para o acampamento. Então, eu estava de volta à minha tenda, sentada no chão. Phet estava diante de mim, como se nunca tivéssemos deixado aquele lugar. Mas eu sabia que deixáramos. Mas voltamos para onde tínhamos que voltar.

Eu retirei o amuleto de Damon do meu pescoço e o entreguei a Phet. Ele sabia que eu tinha tomado a minha decisão.